HORTO E GRAFIA

        

         Dona Grafia é uma boa senhorita de setenta e cinco anos. Senhorita, vírgula, porque é uma cedilha certinha para certo coração. Quem a admira por isso é o seu noivo, Horto Serto. Horto, não; ponha dois pontos:  doutor Horto Serto, bacharel em Direito, desde 1935.

O advogado a viu, exclamou de pura surpresa, numa festa de batizado. Franziu os sobrolhos em aspas, e ela o olhou de travessão – no sentido de prato de louça, transbordante de casadinhos;

- Gosta deles, doutor Horto Serto?

Dona Grafia, chamada Fia, ficou um tanto reticente, quanto à ideia de namorarem. A idade era tão avançada... E ele apertando o diálogo:

- Case-se comigo, minha Fia!

- Não entrarmos em concordância, apesar das colocações...

- Eu sou de pouco verbo, mas sou um sujeito simples.

- Para mim, é indeterminado.

- Sei que serei sempre oculto. Não consigo a composição!

Encontraram-se aqui e acolá, ontem não, talvez amanhã, dependendo das circunstâncias. Ela, muito adverbial:

- Somos quase dois parênteses.

O amor, em qualquer idade, será sempre interrogação:

- Para quê? Por quê? Pra quando?

Houve frases imperativas:

- Seja correto! Detesto pretextos.

E as houve declarativas:

- Juro atender suas normas.

Afinal, optaram juntos, rendidos num ponto final.

- Que Deus nos faça felizes e nos ponha sem erros no Céu!

Amém.

Graça Rios 

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