Os dicionários apresentam estes
sinônimos para o termo ‘trambique’: tramoia, mamata, mutreta, maracutaia,
propina, esquema, falcatrua, negociata, muamba. Sendo assim, trambique é algo
assaz frequente no dia a dia do brasileiro. Se formos olhar para os políticos,
então, iremos notar que a maioria sobrevive à custa de trambiques. Foi ou não
foi maracutaia o esquema das ‘rachadinhas’ praticado pela família Bolsonaro,
através do qual 00, 01, 02 e 03 conseguiram aumentar seus proventos,
surrupiando parte dos salários de seus funcionários, efetivos ou ‘fantasmas’?
Para o vice-presidente, general Mourão
– já disse aqui - ser trambiqueiro, ser malandro, faz parte da índole do
brasileiro, por causa de sua herança genética. Ele disse que a trambicagem é legado
de nossos ancestrais africanos. O presente texto procura lançar um pouco de luz
sobre esta questão, mostrando que a história não é bem assim, que mutreta é
herança de nossos ascendentes branquelos, os portugueses, ora, pois. Se não,
vejamos.
Antes, porém, todavia, contudo, um adendo. Ingenuamente,
eu julgava que a história do trambique no Brasil era coisa de pouco tempo.
Claro que tinha conhecimento de um deslize aqui, outro acolá, mas eles eram
creditados como exceções de uma regra: o país era limpo.
Em passeio a Porto de Galinhas, no
Estado de Pernambuco, tomei conhecimento de um fato histórico que me deixaria
com os cabelos em pé, caso ainda os tivesse.
O local era conhecido como Porto Rico,
já que usado para exportação de pau-brasil e açúcar, dois produtos que valiam
ouro em épocas passadas, no tempo do Império.
Escravos eram trazidos da África para o
trabalho nas lavouras de cana. E tudo corria bem, até que o escravismo começou
a ser abolido no mundo e o Brasil se viu obrigado a fazer suas concessões – a
Lei do Ventre Livre, por exemplo, foi uma delas.
Mesmo quando o furor abolicionista se
alastrou, africanos eram trazidos clandestinamente para o trabalho nas
lavouras. O artifício usado era acomodá-los debaixo de engradados... de
galinhas de Angola.
Quando a carga chegava ao porto, a
senha para os senhores de engenho era:
- As galinhas chegaram! Có-cori-cocó!
Confesso que desconhecia esse fato
histórico. Não sei se ele é de seu conhecimento. Se for, você deveria ter me
avisado há mais tempo, para que eu olhasse com mais desconfiança nossos
ancestrais lusitanos.
Enfim, para que esta leitura não seja
perda de tempo, acrescento um dado que descobri no passeio. Quando chegamos ao
Distrito (Porto de Galinhas pertence ao município de Ipojuca), o motorista da
Agência de Viagens que nos transportava fez espalhar entre os habitantes do
local: - Novas galinhas de Angola chegaram!
Quando voltamos para casa e olhamos pro
espelho, descobrimos como fomos depenados! Tratado como galo de Angola, acabei
pagando o pato, sendo espoliado sem dó ou piedade por aqueles que buscam
vingança para as humilhações sofridas por seus antepassados.
Diante do que foi dito, que fique
registrado para os Anais da História: a pecha de trambiqueiro está mal colocada
nos costados de nossos ancestrais africanos; o hábito de praticar falcatrua
está em nossa genética por conta dos brancos portugueses. É por isso, tão
somente por isso, que o brasileiro sempre quer levar vantagem em tudo, certo?
Etelvaldo Vieira de Melo
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