CADA UM COM SEUS MOTIVOS



Confesso que teria dificuldade em dar uma opinião isenta sobre a atual prefeita de Contagem, cidade da Região Metropolitana de Belo Horizonte. Sendo professor aposentado daquela prefeitura, com o salário sempre correndo atrás do custo de vida e sempre ficando cada vez mais distante, eis que sou surpreendido por um amigo com a notícia de que teremos um reajuste fabuloso em nossos vencimentos, com a promessa de que ele será o maior entre todas as prefeituras da Grande BH. Se assim for, eu, que já tinha um monte de simpatia pela nossa prefeita, corro o risco de considerá-la a melhor administradora do mundo.

Exageros à parte, esta constatação vem mostrar que os juízos de valor quase sempre refletem nossos próprios interesses. Perguntado sobre o que significa um ‘país’ para ele, certo indivíduo deu esta resposta: “Não sei o que vocês querem dizer com ‘país’, mas a comida é o meu país. Se crescer arroz no banheiro, lá será o meu país”.

Assim são as pessoas, movidas por seus interesses. Alguns desses interesses são até simples e banais, como aconteceu com aqueles que nas eleições presidenciais de 1989 votaram em Fernando Collor, sob a alegação de ser ele um sujeito vistoso, bonito (alguns outros votaram porque ele disse que tinha ‘aquilo’ roxo, enquanto que houve aqueles que se deixaram seduzir pela lenga-lenga de ‘caçador de marajás’, ancestral de uma tal Lava-Jato). Sendo que ‘beleza não põe mesa’, no dizer do ditado, o resultado de tudo foi um desastre total. Que o diga o jornalista Alexandre Garcia, que fazia então a cobertura do presidenciável para sua emissora - aquela que foi responsável por promover Collor e a própria Lava-Jato. (Bom, pode ser que o AG diga que não foi desastre coisa nenhuma. Questão de ponto de vista, de interesse.)

Estou fazendo estas digressões numa tarde de domingo, com a semana fechando suas portas sob uma temperatura de 28,1°C e umidade relativa do ar de 56% (caso possa dar crédito ao ‘Color Screen Calendar’ que acabo de importar da China). Elas, as digressivas, refletem minha preocupação atual, que é de procurar entender as motivações que levam muitas pessoas a se definirem como eleitores de Jair Messias Bolsonaro, compartilhando de suas ideias e de seus princípios. Tal preocupação se torna complexa na medida em que Jair mantém fiéis seus 26% de apoiadores, apesar do país viver um estado de retrocesso em todas as suas áreas e departamentos.

Por isso, eu não gostaria de me aventurar em conjecturas sobre esta questão. Preferia recorrer ao Instituto Eleuteriano de Pesquisas Aleatórias (IEPA) para colher uma amostragem a respeito. No entanto, por causa do aumento do combustível, acompanhado pelos aumentos da cenoura e do chuchu, o Instituto entrou em período de férias compulsórias. Restou-me a tarefa de levantar as hipóteses e de dar os veredictos.

Assim sendo, vejo que a questão ‘o que leva determinado indivíduo a apoiar Jair Messias Bolsonaro’ pode ser compreendida nas perspectivas objetiva e subjetiva.

Do ponto de vista objetivo, não vejo uma razão sequer que leve alguém a apoiar Bolsonaro. Com mais de três anos de governo, o que assistimos foi a uma derrocada geral. Na Educação, o último ministro cuida de fazer do MEC um cercadinho para atender aos interesses de pastores evangélicos. Saúde? Foram quatro ministros, num quadro de milhares de mortes. A Economia parece que vai bem só para os que investem em paraísos fiscais. Aqui, a inflação dispara, deixando o brasileiro a roer osso. Literalmente. O Meio Ambiente também anda pegando fogo, literalmente. O único ministério que poderia contar alguma vantagem seria o da Agricultura. Mas ele está ali para atender aos interesses do agronegócio e seus agrotóxicos. O povo mesmo assiste a um aumento descomunal dos preços dos gêneros alimentícios. Quem se dá ao trabalho de ir a um supermercado, a um sacolão ou açougue, sabe o que estou dizendo. A própria ministra da Agricultura reconheceu, certa vez, que o brasileiro não morre de fome porque aqui tem muita manga pra chupar (e muita goiaba pra comer, diria outra ministra – a Damares).

Do ponto de vista subjetivo, vamos ver que entre 25% e 30% dos brasileiros parecem satisfeitas com Bolsonaro. É por sua causa que o índice de popularidade do presidente se mantém estável.

Entre tais pessoas, existem aquelas que apoiam Bolsonaro por causa do dinheiro: os militares - que tiveram uma Reforma da Previdência generosa e com seus ‘bicos’ na administração pública, líderes de diferentes denominações religiosas – com as isenções de impostos para suas igrejas/empresas, empresários do agronegócio, representantes do ‘Mercado’ (banqueiros, grandes empresários, especuladores). Além desses, temos também os chamados defensores ‘ideológicos’:  os racistas, os misóginos, os que odeiam pobres, os agressivos e truculentos defensores de armas, os ingênuos que se deixam engabelar por falsas promessas de céu e, por fim, os viúvos e as viúvas da Ditadura.

Assim que o preço do quilo de cenoura vermelha baixar e o do abacaxi mantiver estável, acredito que o Instituto Eleuteriano de Pesquisas Aleatórias (IEPA) voltará a operar. Então, vou encomendar uma série de entrevistas com esses personagens acima.

O amigo LEITURINO pode ajudar, antecipando alguma coisa. Como? Perguntando a alguém que você sabe ou desconfia ser bolsonarista: “Você apoia Bolsonaro? Por quê?”. Pode ser alguém que manifesta vontade de dar tiros nos outros, que chama nordestino de paraíba, pau-de-arara, arataca, cabeçudo; alguém que pensa que ter filha é dar uma ‘fraquejada’; ou acha que ‘pobre não sabe fazer nada’, só serve para votar, ‘título de eleitor na mão e diploma de burro no bolso’; que manda índio comer capim ‘para manter suas origens’; chama de idiotas aqueles que dizem que é melhor comprar feijão do que fuzil. E por aí vai.

E eu? Eu vou ficando por aqui. Pedindo para você não se esquecer: mande pra mim suas respostas, que meus neurônios andam carentes de inovadoras ideias.

Abraços.

Etelvaldo Vieira de Melo

 


1 comentários:

Unknown disse...

Amei o texto, mas também eu fico a pensar quais seriam as possíveis razões pelas quais alguém gosta tanto do atual governo que queira repetí-lo. Imagino que sejam pessoas cujo perfil humano se veja nele representado. Em outras palavras, "farinha do mesmo saco". Se alguém encontrar motivo mais nobre, me conte por favor!

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