OBJETO PERDIDO

Imagem: Pinterest

Assenta-se ao piano. Enxuga as mãos sob o lenço.

“Apresentará uma peça de Ludwig Van Beethoven: Sinfonia número 3, ‘Heroica’, Fidelio, Obertura. Sua extensa duração possui forte apelo emocional próprio do Romantismo.” - anuncia o locutor.

- Por que a demora? Nossa virtuose virou penumbra?

Enfim, abre a partitura, corpo pulsátil: impasse básico de artístico drama nessa quase duradoura alucinação.

- O que houve?

- Silêncio!

Rápido, farta, deslisa os dedos sobre as teclas. Inicia-se.

No 1o movimento, Allegro com Brio, advém-lhe um gozo primordial. E o 2o movimento, Marcha Fúnebre: Adagio Assai, alcança a orgástica plateia em primeiro plus de preenchimento além. Nota-se certo gosto de cereja, flan, sonho. O Outro, assistente, não completo, barrado, ouve em si a vã tentativa de obturar o vago vão interior.

Algo indecifrável - um brilho, um Lá, o Finale Alla Fuga, - compõe as aparências. Há no ar certa busca do Infinito, contido na fantasia elucidativa da ausente concertista.

Graça Rios



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