SOBRE AS DECISÕES

 


Já houve tempo em que cultivei aquela pretensão de encontrar uma reposta para o sentido da vida, isto é, ser capaz de dar conta daquelas três perguntas terríveis: quem sou eu? de onde vim? para onde vou?

Cedo, desisti de tal empreitada. No entanto, ainda guardo alguns rascunhos daquela fase da vida. O texto de hoje é um daqueles e reflete sobre a necessidade e os riscos de tomar decisões, dar resposta pessoal aos desafios que enfrentamos no dia a dia. Ele fica aqui para sua apreciação, amável leiturino, e espero, sinceramente, que você não venha a procrastinar sua leitura...

Toda decisão de vida é difícil e se constitui, por assim dizer, verdadeiro salto para o desconhecido. Bem que gostaríamos de ver claro, de ter um mínimo de certeza, mas a racionalidade não nos garante nada, sendo incapaz de explicar nossos sentimentos mais íntimos e de dirigir nossos atos.

Conosco, quase sempre fica o medo de dar um passo à frente e, por isso mesmo, de acertar. E medo de acertar significa medo de ‘viver’. As oportunidades são únicas, não se repetem. Protelar as decisões é fugir dos caminhos da vida, é fazer hiato nas buscas de autoconhecimento, é distrair com paisagens efêmeras, quando um mundo de revelações está para se manifestar. Aquele que foge de suas decisões, foge da vida.

Muitos querem crer que a vida seja complexa. A vida, na sua essência, é simples. Mas nós fazemos gosto em complicar as coisas, pensando com isso estarmos agindo acertadamente. Não é verdade que tendemos a valorizar o mais complexo, menosprezando o que é simples e banal?

Quando não tenho coragem suficiente para viver a minha vida, passo a viver uma vida de acordo com a determinação dos outros. Isso acontece também quando não me aceito do jeito que sou, quando minha carência afetiva faz com que me anule diante do outro. E aquilo, aparentemente, passa a ser cômodo: viver em razão dos outros e negando o próprio ‘eu’. Mas nunca o mais cômodo significa o melhor, já que a vida, por si mesma, é um encargo difícil.

Muitas vezes, vivemos em função e de acordo com o outro e com o mundo, de tal modo eles e as circunstâncias alheias é que irão condicionar o nosso agir. As nossas alegrias buscarão nos outros a sua razão de ser. Mas a alegria verdadeira não é aquela que encontra nas outras pessoas sua justificativa ou explicação, mas no prazer íntimo de termos caminhado um pouco mais, na procura de nós mesmos.

Nós não somos números, não somos máquinas, não somos programados em série. Apesar dos riscos da manipulação de uma sociedade de consumo, através de seus modernos e cada vez mais sofisticados meios de domesticação, cada um é capaz de tomar conta de si mesmo, responder por seus atos, ter sua vida nas mãos, decidir livremente seus caminhos. E é esse poder de decisão (cada vez mais ameaçado) que faz a grandeza da condição humana.

Etelvaldo Vieira de Melo


1 comentários:

Anônimo disse...

Mas tem a questão da maturidade na decisão!
A maturidade tem muita preguiça envolvida:
preguiça de se explicar para quem não merece consideração;
preguiça de se misturar a quem não agrega;
preguiça de argumentar com quem não é capaz de entender.
maturidade é guardar energia para aquilo que faz a alma vibrar.

Postar um comentário