BARÕES FAMINTOS, NAPOLEÕES ASSASSINOS

 


Ellen Pietra

 

Causa decepção e tristeza ver nossa classe política, em sua maioria, ser tomada por indivíduos preocupados tão somente com seus interesses mesquinhos, não se interessando nem um pouco com o bem comum e com o desenvolvimento do Brasil.

A tristeza aumenta quando percebemos que a elite do país é tão gananciosa, achando-se no direito de consumir todo o bolo da riqueza, à custa da exploração dos menos favorecidos, o que faz lembrar a famosa frase de Leon Tolstoi: “Os ricos farão de tudo pelos pobres, menos descer de suas costas”.

Tanta tristeza quase chega ao estado de depressão profunda, quando tais categorias são associadas com a Imprensa, as lideranças religiosas e aqueles usuários das redes sociais, que se julgam no direito de falar de tudo, condenar tudo, menos ter compromisso com a verdade.

Para refletir sobre essas questões, buscando um pouco de alento e esperança, vamos conversar com Ellen Pietra, leitora atenta da realidade brasileira. Formada em computação, com especialização em psicologia empresarial, Ellen diz que suas palavras não têm a pretensão de obter qualquer resultado que não seja a compreensão daquilo que é a verdade.

P – Quais os desafios que o governo Lula tem que enfrentar?

R – Em primeiro lugar, não necessariamente por uma ordem de importância, eu diria que o Congresso, onde os parlamentares bolsonaristas têm um currículo de homicidas na Bancada da Bala, envolvidos com a morte da própria esposa, parlamentar que ingeriu álcool e matou pessoas, parlamentar envolvido com tráfico de droga e com milícia! Chamam o petista de bandido, mas pedem a soltura do mandante do assassinato de Marielle Franco. Lula está preso no ninho da necropolítica.

P – Na liderança do Congresso, temos o Arthur Lira...

R – Sim. Lira é um patrimonialista fisiologista que se uniu ao fundamentalismo (da bolsonarista de Toni à frente da CCJ), numa agenda fundamentalista e econômica pró-mercado, combinada com a tentativa de restrições às liberdades democráticas e de ataques aos movimentos sociais. Lula tem que enfrentar as pautas-bombas, as exigências e o preço do Lira e do centrão pra destravar projetos cruciais para o governo. Lira exige antecipação da reforma ministerial para agosto, querendo trocar os ministros de articulação política, além de ganhar o Ministério da Saúde, a Embratur, o Banco do Nordeste e os Correios.

P – Nossa, que fome! Além de Lira e do Congresso, quem está querendo mais?

R – Um MERCADO, que exige do Lula cortar gastos, como se isso fosse resolver alguma coisa (Temer cortou gastos e aprofundou a crise fiscal). O que querem mesmo é o sucateamento do serviço público e o extermínio do direito universal (saúde e educação).

P – Mas quem é esse Mercado?

R – O Mercado é uma relação direta entre as coisas e não entre as pessoas, onde as pessoas agem como coisas e as coisas como pessoas. O tal mercador se resume em 5000 milionários que têm seus interesses de classe e de lucro, que pressionam o governo para que faça políticas públicas que GARANTAM SUA TAXA DE LUCRO. O controle da economia é exercido pelos bancos e por grandes empresas transacionais, das quais esses 5000 milionários são também os proprietários. Do orçamento público, 48% são gastos com JUROS, corrigidos pela SELIC, uma espiral sem fim de juros, que ninguém sabe o que é, iniciada pelo FHC com o tal Plano Real, pra encher os cofres do MERCADO. Não vão deixar o Lula indicar o presidente do BC, eles querem indicar pra continuar o arroxo fiscal.

P – Aí aparece o Campos Neto. Quem é esse moço?

R – Campos Neto é aquele bolsonarista, que foi escolhido pelo inelegível para presidência do Banco Central, em cuja gestão foi aprovada a lei de autonomia do BC (que impediu Lula de eleger um nome de sua confiança). Campos Neto é dono de empresas offshore, político em campanha com Tarcísio, e está à frente do Banco Central, que é o aliado do tal MERCADO. Não agiu intencionalmente para conter o ataque ao Real, jogou contra o país em benefício político e do Mercado. O dólar subiu porque a burguesia pegou seu lucro que estava no banco em reais, transformou em dólar e com isso a taxa de câmbio subiu, e eles enviaram para investimentos no exterior, em paraísos fiscais, bolsa dos Estados Unidos, etc. E o recado pro Lula foi: tem que cortar gastos públicos, desde que não sejam aqueles gastos que interessam à burguesia, juros e emendas.

P – De onde vem outro desafio para Lula?

R – Da mídia burguesa (Globo, Estadão, Folha – que apoiaram a ditadura de 64). Primeiro, tentaram fabricar uma crise: “Tensão entre Lula e BC leva à alta do dólar”, “Lula fala e o dólar sobe” – berravam as manchetes. Em 1989 a capa do Jornal da Tarde foi: “O dólar explode, foi Lula”. Na época, Lula subia nas pesquisas e o jornal que, assim como a mídia em geral, apoiava Collor, culpou Lula, justificando que o título da matéria era ‘análise técnica’ (dá pra rir). A verdade é que a mídia só apoiou Lula nas últimas eleições para evitar que o ladrão de joias continuasse; se o larápio tivesse agradado mais alguns setores, estaria governando. Agora, comparam a economia atual com o Plano Real de FHC (e sua quadrilha: Aécio, Eduardo Azeredo, Serra, etc.), essa espiral sem fim de juros. Mas não falam dos mais de 600 bilhões atuais de desoneração para as grandes empresas, dos mais de 700 bilhões pagos aos banqueiros como serviço da dívida. Ficam fazendo terror com a volta da inflação, pressionando Lula para que quem pague a conta sejam os idosos aposentados, os deficientes que recebem o BPC. “Equilíbrio Fiscal” é a expressão de ordem da Mídia - capacho do mercado, que a sustenta pra repetir esse refrão.

P – Estou abismado. Mas, juntinho da Mídia, temos também as plataformas digitais.

R – Sim. Nesse desafio todo, Lula também tem que enfrentar Elon Musk e Zuckerberg no debate da regulamentação das plataformas digitais - plataformas que exalam ódio, mentiras e traição, marca bolsonarista. Conseguirá enfrentar a extrema direita com tanta mentira (fake news), sendo esse o tema central para a sobrevivência da DEMOCRACIA?

P – Falar em extrema direita é lembrar os bolsominions.

R – Ah, pois é. Tem também o bolsominion com sua tarefa diária, após a lavagem cerebral do zap da tia ou do pastor, se perguntando: COMO POSSO ATRAPALHAR HOJE?  

Emergem do esgoto, assistidos pelo ladrão de joias, todo dia, com seu histórico de autoritarismo, golpismo, misoginia, racismo, falso elitismo. São escravagistas, vendidos, eleitores da Turma da Bala, do Boi, da Bíblia e do veneno na comida. Chamam Lula de comunista, e a imbecilidade é tanta, que se esquecem que o maior lucro histórico dos bancos se deu no seu primeiro mandato. Segundo o Karnal, todo mundo que não vota na extrema direita é considerado pelo bolsominion um comunista, e esse é um grupo histérico, limitado intelectualmente, descontrolado e cada vez mais associado com desequilíbrios psíquicos, o que também concordo.

P – Entre tantos desafios, Lula pode contar com o Supremo Tribunal Federal?

R – Não podemos esquecer do golpe na Dilma. Segundo o Romero Jucá, foi com o Supremo com tudo. Foi o Xandão que negou o pedido de liberdade de Lula e o impediu de concorrer em 2018, quando estava na frente com 48% na avaliação eleitoral. Também foi o Fachin que fez a manobra e tirou da 2a Turma o pedido de liberdade, mandando para o plenário da corte, o que impediu Lula ser solto pra competir nas eleições. Lula não pode titubear, pois o Supremo não está do lado dele, mas defendendo a parte que os atingiu, na trama do golpe de 8 de janeiro, e também a democracia, só!

P – Tem mais algum desafio que queira lembrar?

R – Cito mais dois. Lula tem que enfrentar o agronegócio e dar 400 bilhões do plano safra pra eles, sem retorno nenhum pro país, a não ser veneno na comida, massacre dos indígenas, grilagem de terras, exportar pra fora sem se importar com consumo interno. O Agro Pop quer sempre mais, mais poder econômico e mais poder político. Por fim, Lula tem que enfrentar os "ditos" religiosos, que o chamam de comunista porque ele tenta proteger as pautas de Jesus, que são todas comunistas, veja só.

P – Uma última consideração sobre Lula, nesse seu terceiro mandato.

R – Lula é um senhor de idade, é e sempre será o maior líder popular desse país. Ao retornar ao seu 3º mandato, recebeu um país completamente desmontado do ponto de vista de todas as políticas públicas, a população totalmente desunida, polarizada e com provocações entre as pessoas. Há uma discórdia, que Lula tenta trabalhar isso todos os dias, porque diz que é preciso governar para todos, reconstruir o país, reconstruir politicamente, reconstruir as estruturas de governo. Seu slogan: UNIÃO E RECONSTRUÇÃO, uma grande chance de contribuir para a Unidade. Os números da situação de empregos estão melhores, a inflação caiu, o PIB tem surpreendido pra cima, a Balança Comercial tem batido recorde sobre recorde. O Brasil passou da 12ª posição no ranking mundial para a 8a, o salário mínimo, depois de 6 anos, teve aumento real, número de carteiras assinadas na CLT é o maior dos últimos 10 anos.  Lula é um gigante, e está lutando com suas últimas forças pra salvar esse país, mas as pessoas são cruéis. Por causa dessa crueldade, que ele sentiu tanto quando das mortes de seu neto e de sua esposa Marisa, eu diria para ele: - Ei, Lula, vá com calma, não queira carregar o mundo nos ombros, as pessoas não merecem!

P – Obrigado, Ellen Pietra.

 

8 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns ao blog, por fazer essa entrevista com essa pessoa de consciência tão abrangente. Essa entrevista é uma aula! Abordando diversos aspectos do momento atual, ( sociais e políticos), elucida pontos que estão travando o nosso desenvolvimento. O que me faz lembrar de um amigo que dizia: seria muito bom se o Brasil fosse capitalista, pois ainda estamos nas capitanias hereditárias, nem chegamos ainda no capitalismo. A ganância dessa elite, que usa a maioria dos meios de comunicação como porta voz da sua sede insaciável, quer apenas o retorno à escravidão. A tecnologia, que poderia contribuir para um mundo mais justo e fraterno, está a serviço do aprofundamento das desigualdades. Bela síntese essa entrevista! Avante Lula! Conte conosco!

Anônimo disse...

Uma entrevista lúcida e muito oportuna.

emerson disse...

Parabéns pelo blog! Precisamos de inteligência e coragem!

Anônimo disse...

Concordo plenamente!

Anônimo disse...

Uai...e do parecu não fala nada? Ele é o presidente do Congresso, se não me falha a memória...

Anônimo disse...

POEMA de Brecht
Buda conta a seus discípulos uma história:
“Numa ocasião, vi uma casa pegando fogo.
As chamas saíam pelo telhado.
Quando me aproximei, vi homens em seu interior.
Avisei que o teto estava queimando,
Mas não tinham pressa.
Um deles, enquanto suas sobrancelhas começavam a arder,
Perguntou-me como estava o tempo aqui fora, se a chuva continuava,
Se a ventania parara, se havia outra casa nas redondezas e assim por diante.
Não respondi e me afastei.
Na realidade, meus amigos, aos indiferentes que não vêem motivos para mudar
Não tenho nada a dizer”.

Anônimo disse...

Como comentarista político, a entrevistada é ótima em computação e psicologia empresarial! Aff!!! Quase me recorri aos antiácidos para aguentar ler tanta baboseira, inverdades sobre esse desgoverno do nosso querido Brasil. Incompetência é a Palavra
CERTA.

Márcia Chagas disse...

Que preguiçaaaaaaa esse último comentário de 19/07... digno de um bolsominion kk dá vontade de rir kk ... esse brasilzinho que surgiu do esgoto com bozo é de difícil entendimento intelectual... minha nossa, o que nos espera adiante ...
Excelente entrevista, muito lúcida a Ellen Pietra. Parece comigo defendendo a causa brasileira. Ainda bem tem gente que pensa a Nação. PARABÉNS!

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