APOSENTADA
Número I
Imagem: pensanoamor.blogspot.pt |
Vou desligar-me de vez
da poesia
e ver a novela das oito.
Seja o último capítulo
antes do sono, afinal.
Preciso ler Cecília
“onde perdi estas mãos...”
Prefiro ler Drummond
“outoniza-te com dignidade.”
Todo dia, toda hora
sem saber
que estou sendo afastada.
Vou tentar tomar um banho
de pequenas alegrias.
Bem que eu queria
ser esse pardalzinho
pousando sozinho no fio.
O espelho me aconselha:
fique quieta no canto.
Encele-se.
Mas não nasci
para anjo torto.
Amanhã sem falta
pinto os cabelos brancos
ponho a sombra
sobre os olhos.
Número II
Pudera viajar
perder pátrias e nomes,
porém a fortuna não quer.
Oh, eu não estou morta,
nem escrava do tempo.
Apenas um pouco pálida
para uma sexy-sagenária.
Nada a fazer
senão esperar
a construção da noite
ao som dos comerciais.
É preciso ser solícita
e um tantinho mais lúdica.
É só.
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