CORAÇÃO MATERNO

D
e repente, neste espaço blogosférico (coberto de nuvens), deixei de lado as referências humanas e passei a olhar para outras espécies animais, notadamente a raça canina.
        
Acho que fica tudo do mesmo tamanho, pois, como dizia um ex-ministro, de péssima memória, “cachorro é também um ser humano”.
        
Thor - não aquele deus da mitologia nórdica, mas o cãozinho que recebemos de herança da irmã de minha esposa - tem uma história de vida pequena (ele só tem dois meses), mas de muita lição de humanidade e sabedoria.
        
Sua árvore genealógica é assim constituída: sua mãe se chama Bebel e sua avó, Tequinha – duas vira-latas; o pai, Zau, é da raça Sharpei, de origem chinesa, todo enrugado e que aparenta um aspecto de cansaço e tristeza. E os galhos da árvore de Thor terminam por aqui, já que não possui pedigree.
        
O marida da irmã de minha esposa fala que Zau só tem dez minutos de lucidez canina durante o dia: cinco minutos pela manhã e cinco à noite, quando devora sua fatia de pão. Deve ter sido nesse espaço de tempo que ele fez o favor de engravidar mãe e filha (acho que ficou sem pão naqueles dias, como acontece em lares onde falta televisão). Bebel teve uma ninhada de cinco filhotes, sendo um natimorto; Tequinha teve outros cinco.
        
Além da dificuldade de designar o parentesco entre os nove filhotes, chamou minha atenção o fato de terem compartilhado o leite das duas mães. Como Thor era filho da primeira ninhada, ele se destacava pela ferocidade com que procurava as tetas, ora da mãe, ora da avó. Fiquei observando isso de longe, quando fomos ao sítio, porque sabia que, se me aproximasse, estaria irremediavelmente amarrado por laços afetivos. E eu não queria saber de cachorro, mesmo porque minha esposa gosta de cuidar de jardim, fato que a indispõe com essa espécie. O que aconteceu, no final de tudo, é que ela ficou sensibilizada com o aperto da irmã e resolveu adotar um filhote.
        
Enquanto Bebel e Tequinha dividiam seus leites, Zau ficava observando a cena de longe, aparentando ar de indiferença, como se não tivesse nada a ver com a confusão que havia sido criada.
        
Este fato passaria batido pela minha cabeça se não fosse associado a outro, esse a envolver seres humanos. Estava eu ao telefone, conversando com uma amiga, de quem havia perdido contato há muito tempo. E seu histórico de vida é bastante original.
        
Seu pai teve filhos com sua esposa e com outra mulher, que trabalhava em sua casa. As duas combinavam tanto que, quando ele morreu - e elas se separaram - os filhos ficaram trocados, Essa minha amiga, por exemplo, foi morar com a mãe de outros filhos, enquanto que esses outros ficaram com sua mãe.
        
Enquanto conversávamos, ela me falou ter administrado a construção de um prédio, onde os apartamentos foram divididos entre os irmãos.
        
Ponderei que isso não pode dar certo, que parente é bom quando mora bem longe e a gente se vê vez por outra. Minha amiga discordou; para ela, quanto mais juntinhos estiverem os irmãos, melhor será. Sei que ela tem lá suas razões. Afinal, ela foi criada por duas mães - de direito e de fato.
        
Estas considerações são deixadas aqui na data em que se comemora o Dia das Mães. Gostaria que o exemplo da família de minha amiga servisse de lição para muitos filhos que fazem pouco caso de suas mães. Quantos existem que se preocupam com a saúde e o bem estar de seus cãezinhos de estimação, enquanto suas próprias mães são esquecidas!

O amor materno é, via de regra, incondicional, enquanto o amor dos filhos, muitas vezes, acontece na hora errada, quando não tem como consertar.  O amor é gratuito, não se prende a obrigações. Uma mãe, apesar de mãe, é um ser humano que tem sentimentos. Pode parecer que não, mas ela quer ser amada e se sentir amada. Ela espera, sim, gestos de afeto dos filhos, mas que sejam simples, para não incomodar, para não dar trabalho.

- Mãe, estou ligando pra dizer “alô”, pra dizer que amo você.

Um gesto desses, que não vai machucá-lo, deixará sua mãe feliz pro resto da vida.

Etelvaldo Vieira de Melo
         

1 comentários:

Unknown disse...

Mais que feliz! Mãe precisa disso! Não precisa de presentes caros, que ostentem riqueza, mas careçam de amor; mãe precisa de palavras de verdade, não de um texto escrito por sei lá quem! Feliz Dia das Mães!

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