Eh, ôô, vida de gado /
Povo marcado, ê / Povo feliz / Eh, ôô, vida de gado / Povo marcado, ê / Povo feliz – Zé
Ramalho.
Em períodos eleitorais, sempre
sou assaltado pelas suspeitas de que os institutos de pesquisa: > dispõem de eleitores-padrão (já
que não conheço pessoa que tenha sido entrevistada por um desses institutos –
você conhece?); > sejam movidos
por sensores olfativos (como cães especialistas na arte de focinhar, os institutos,
através de seus faros aguçados, captam o crescimento ou a queda nas intenções
de voto dos candidatos); >
funcionem à base de muitos “Deus Seja Louvado” (notas de dinheiro).
Pode parecer implicância de
minha parte, mas tenho muitas razões para defender a tese de que o nome de Deus
seja retirado das notas de real. Duas delas: é um direito constitucional a
liberdade de crença religiosa; daí, é uma ofensa aos ateus o fato das notas
estarem impressas com aqueles dizeres. A segunda razão joga em defesa do
próprio Deus, como se ele precisasse disso. Se tem um lugar que serve mais ao
diabo e no qual Deus não gostaria de estar, esse lugar é uma nota de dinheiro.
Feito este reparo, vamos ao ponto
principal de nosso discurso. Tem a ver com os institutos de pesquisa de
opinião. Já mencionei três razões para orientá-los.
Uma quarta razão me ocorre agora,
trazendo à minha mente as lembranças de Admirável
Mundo Novo, de Aldous Huxley, e 1984,
de George Orwell. Ambos descrevem sociedades distópicas, divididas em castas,
onde as pessoas são monitoradas e, consequentemente, não dispõem de liberdade.
A literatura e os filmes de ficção científica, em geral, batem nesta mesma
tecla (V de Vingança, Jogos Vorazes,
Blade Runner, Divergente, Matrix, Minority Repport, O Doador de Memórias...).
Já reparou que, quando faz uma
compra ou uma pesquisa de preço pela Internet, imediatamente você se transforma
num torrão de açúcar, com milhares de formigas em sua volta, entupindo sua
caixa de e-mail com propaganda? Pois é, dá até medo pensar o que podem fazer
com as informações que repassamos através dos telefonemas, dos e-mails,
bate-papos, postagens no facebook...
Como sou sempre solicitado a
permitir a invasão de minha privacidade por programas e aplicativos de computador,
querendo saber do meu número de CPF ao número de meu calçado, não tenho medo de
afirmar que o olho do Todo Poderoso, o Grande Irmão, o Big Brother, o Sistema,
monitora nossos passos e, quiçá, nossos pensamentos. “O Grande Irmão está de olho em você” – já antevia Orwell, em 1948.
Eu mesmo disponho de um aparelho de
videogame, com um visor que capta minha presença e tira fotos minhas. Não será
que, sem querer, seja eu um desses pesquisados pelos institutos? Vai que o dito
sensor disponha de um gravador que registra minhas conversas. Inocentemente,
estarei repassando informações que deveriam ficar restritas ao aconchego de meu
lar.
É sabido que os cães já atingiram um
patamar de dignidade superior ao dos humanos. Ora, uma amiga foi levar a cadela
de sua irmã para ser esterilizada e o veterinário implantou-lhe um chip,
visando monitorá-la (a cadela, que fique bem claro). Assim, onde ela estiver, o
Departamento de Animais saberá dizer. Mas me pergunto: se isso já acontece com
os cães, não é de se supor que já aconteça com os humanos há mais tempo?
Enquanto faço estas considerações,
percebo que devo tomar mais cuidado com minhas atitudes, mesmo (ou
principalmente) estando a sós, num banheiro, frente a um espelho.
Ano passado sofri uma intervenção
cirúrgica, aparentemente para implantar um stent. Quem me garante que, junto ao
stent, não sofri implante de um chip que passou a registrar todos meus
pensamentos, atos e omissões?
Não é paranoia, mas tenho a convicção
que, de algum lugar, alguém me acompanha, está de olho em mim, dando conta até
da cor da cueca que estou usando. Vixe!
Etelvaldo Vieira de Melo
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