CLÍNICA ACONCHEGO

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E eu? Eu sou engenheira, gosto de Matemática. Queria um professor desta matéria para me acompanhar, mas esta doença degenerativa não deixa. Fico o dia inteiro colorindo, tenho 62 anos, felizmente meu filho me deu esta cadeira de rodas. O que ele pode fazer? Não tenho mais o controle do braço direito, então vou colorindo com o esquerdo. Nesta parte eu vou fechando. Acho essas velhinhas da Clínica um barato, elas se saem muito bem nas atividades. Tá vendo sua mãe? Com 98 anos, quando não está na cama, responde a tudo que consegue ouvir. É uma pena ela não escutar nada. Coitadinhas dessas velhinhas! Coitadinhas! Tadinhas. O meu filho nasceu no Vera Cruz. Ah, é? Você já ficou no Vera Cruz? Acho que sua mãe quer ir pra cama, mas ela tem que ficar acesa até a hora da sopa. Ah, eu sei! Também não gosto muito de sopa, entendeu? Ah, você também não gosta. Francês, eu sei. Estudei na Aliança Francesa durante muito tempo, mas não quero lembrar nem da Engenharia, isso ficou para trás, nem da velha Aliança. Eu fico cansada e é por causa da esclerose múltipla. Pode pedir à enfermeira para me levar ao banheiro? Acho que não tem papel. Você vai pedir? Obrigada. Fica aí, com sua mãe vendo a televisão, eu volto logo. É bom conversar com alguém, eu me sinto mais alegre. Pode ser até que eu arranje o professor, mas você sabe, não tenho um tostão, meu filho é quem paga a clínica. Vou ter um neto como você. Bom, não é? Com licença agora, que eu tenho incontinência, acabo urinando na roupa. Enfermeira, achou o papel? Então, vamos. 

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