Quando
se fala em publicidade, eu fico com os dois pés e as duas mãos para trás. Tudo
começou quando li alguém dizer que, se quiser, ela pode fazer com que as
pessoas comam arame farpado, capim, papel e caco de vidro. Cruz credo!
Eu sou bobo demais por não ter
percebido há mais tempo ser a dona Publicidade o motor que faz o mundo dos
negócios e das relações humanas girar.
Não vivemos numa sociedade de
consumo? Pois, então: todos querem vender seus peixes, sejam eles sardinhas ou
salmões. Um que tem demais é piranha; lá pros lagos de Brasília, ouvi dizer que
tem muito tubarão. O peixe pode ser concreto, abstrato, sensitivo, olfativo ou
palatável. Dizem as más línguas que até as pessoas se vendem, e tudo se resume
em saber por qual preço.
Quando falo assim, uma lágrima quase
que rola pelo meu rosto. E tudo porque cresci e me formei na ilusão de que a
liberdade seja o dom maior da vida. Superficialmente, quero crer que seja. Mas,
quando mergulho mais fundo nas considerações, vejo que estamos presos em cordas
de diferentes tamanhos e que nos dão a falsa ilusão de que podemos decidir por
nós mesmos. No fundo, a bem da verdade, não passamos de marionetes.
Somos manipulados pela publicidade,
ela que vasculha o inconsciente coletivo em busca de secretos desejos. O ser
humano é movido pelos desejos, e a publicidade vende seus produtos para
atendê-los.
Que bicho complicado é o ser humano!
Embora movido pelo desejo, ele é também um ser de necessidades. Aquele pode ser
comprado, mas as necessidades não se vendem, elas não estão no compartimento do
ter, mas do ser.
Antes que alguém me atire uma pedra
ou me dê um tiro no meio da cabeça, eu explico: necessidades são as exigências
de realização, aquilo que nos ajuda a desenvolver nosso potencial e nos torna
seres únicos, irrepetíveis, originais.
Como os indivíduos hoje são moldados
pelo consumismo e buscam atender tão somente a seus desejos, eles se tornam
seres desfigurados, des-persona-lizados. E o que vemos? Pessoas (!) com nomes
distintos, com aparência física nem tanto original (por causa dos figurinos, do
modismo, das plásticas, dos botox), mas que são vazias de identidade própria. É
por isso que a sociedade é descrita como de consumo e os indivíduos vivem
massificados. Eles, para o Sistema, até perderam o nome, são identificados por
números, de CPF, CIC, CEP, conta bancária – uma coisa mais fácil e lógica.
Então, veja bem, eu que estou
chegando ao fim destas considerações, imbuído do propósito de não aborrecê-lo:
existe a dona Publicidade, correto? Mas ela é uma dona que tem dono, o Sistema.
E o Sistema? O Sistema também tem dono, o Dinheiro. É por isso que vivemos no
Sistema Capitalista, entendeu?
De minha parte, eu queria que a
publicidade fosse usada para repassar informações, que estivesse a serviço das
pessoas. Mais do que tudo, queria que as pessoas não abrissem mão da liberdade.
Porque sei que, só assim, poderemos ser felizes.
Etelvaldo
Vieira de Melo
1 comentários:
Estimado amigo Etelvaldo.
Na semana passada, estávamos lendo a sua postagem e, eu e minha amada esposa, tivemos a imediata certeza de que estava nos enviando um recado. Talvez não estivesse pensando nas inúmeras vezes que comentamos sobre o tema, ou que pedimos orientação, mas o certo é que nos fez parar e refletir um pouco.
"Contaminado" com tanta sabedoria e criatividade, resolvi escrever algumas palavras e envia-las no nosso ZAP-ZAP. Aproveito, para publicá-la na postagem deste 25 de julho, dia do Escritor.
“Parabéns ao nosso ilustre escritor pelo seu dia. Obrigado por nos brindar com palavras e textos sempre recheados de sabedoria, bom humor e incentivos. Enfim, traduzir para nós, simples mortais, os aprendizados da vida, os sonhos e desejos em palavras simples (outras nem tanto) que muitas vezes chegam em momentos tão oportunos que parecem uma encomenda Divina.
Tel, você é o CARA!!!”
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