PORQUE FREUD VIU SÓ METADE DA MAÇÃ

         Quando se fala em publicidade, eu fico com os dois pés e as duas mãos para trás. Tudo começou quando li alguém dizer que, se quiser, ela pode fazer com que as pessoas comam arame farpado, capim, papel e caco de vidro. Cruz credo!
            Eu sou bobo demais por não ter percebido há mais tempo ser a dona Publicidade o motor que faz o mundo dos negócios e das relações humanas girar.
            Não vivemos numa sociedade de consumo? Pois, então: todos querem vender seus peixes, sejam eles sardinhas ou salmões. Um que tem demais é piranha; lá pros lagos de Brasília, ouvi dizer que tem muito tubarão. O peixe pode ser concreto, abstrato, sensitivo, olfativo ou palatável. Dizem as más línguas que até as pessoas se vendem, e tudo se resume em saber por qual preço.
            Quando falo assim, uma lágrima quase que rola pelo meu rosto. E tudo porque cresci e me formei na ilusão de que a liberdade seja o dom maior da vida. Superficialmente, quero crer que seja. Mas, quando mergulho mais fundo nas considerações, vejo que estamos presos em cordas de diferentes tamanhos e que nos dão a falsa ilusão de que podemos decidir por nós mesmos. No fundo, a bem da verdade, não passamos de marionetes.
            Somos manipulados pela publicidade, ela que vasculha o inconsciente coletivo em busca de secretos desejos. O ser humano é movido pelos desejos, e a publicidade vende seus produtos para atendê-los.
            Que bicho complicado é o ser humano! Embora movido pelo desejo, ele é também um ser de necessidades. Aquele pode ser comprado, mas as necessidades não se vendem, elas não estão no compartimento do ter, mas do ser.
            Antes que alguém me atire uma pedra ou me dê um tiro no meio da cabeça, eu explico: necessidades são as exigências de realização, aquilo que nos ajuda a desenvolver nosso potencial e nos torna seres únicos, irrepetíveis, originais.
            Como os indivíduos hoje são moldados pelo consumismo e buscam atender tão somente a seus desejos, eles se tornam seres desfigurados, des-persona-lizados. E o que vemos? Pessoas (!) com nomes distintos, com aparência física nem tanto original (por causa dos figurinos, do modismo, das plásticas, dos botox), mas que são vazias de identidade própria. É por isso que a sociedade é descrita como de consumo e os indivíduos vivem massificados. Eles, para o Sistema, até perderam o nome, são identificados por números, de CPF, CIC, CEP, conta bancária – uma coisa mais fácil e lógica.
            Então, veja bem, eu que estou chegando ao fim destas considerações, imbuído do propósito de não aborrecê-lo: existe a dona Publicidade, correto? Mas ela é uma dona que tem dono, o Sistema. E o Sistema? O Sistema também tem dono, o Dinheiro. É por isso que vivemos no Sistema Capitalista, entendeu?
            De minha parte, eu queria que a publicidade fosse usada para repassar informações, que estivesse a serviço das pessoas. Mais do que tudo, queria que as pessoas não abrissem mão da liberdade. Porque sei que, só assim, poderemos ser felizes.

Etelvaldo Vieira de Melo   

1 comentários:

Fábio Y disse...

Estimado amigo Etelvaldo.
Na semana passada, estávamos lendo a sua postagem e, eu e minha amada esposa, tivemos a imediata certeza de que estava nos enviando um recado. Talvez não estivesse pensando nas inúmeras vezes que comentamos sobre o tema, ou que pedimos orientação, mas o certo é que nos fez parar e refletir um pouco.
"Contaminado" com tanta sabedoria e criatividade, resolvi escrever algumas palavras e envia-las no nosso ZAP-ZAP. Aproveito, para publicá-la na postagem deste 25 de julho, dia do Escritor.
“Parabéns ao nosso ilustre escritor pelo seu dia. Obrigado por nos brindar com palavras e textos sempre recheados de sabedoria, bom humor e incentivos. Enfim, traduzir para nós, simples mortais, os aprendizados da vida, os sonhos e desejos em palavras simples (outras nem tanto) que muitas vezes chegam em momentos tão oportunos que parecem uma encomenda Divina.
Tel, você é o CARA!!!”

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