BRINCADEIRA





Dorme Ana Clara
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Imagem: galeria.colorir.com
o sono das crianças.
Descendo das estrelas,
Um unicórnio pousa-lhe no sonho.
Vem conduzi-la ao mundo
Onde os anjinhos
Fazem geleka com xampu
E goma.
Venha, menina! -
Diz o cavalinho –
Vamos jogar com eles
Uma dama.
Ana Clara acha graça
E lhe responde:
- Eu sei que sempre ganho,
E você leva a fama.
 Graça Rios

HOMEM QUE VALE A PENA


Ivani Cunha


ENCANTAMENTO




O poeta abre a caixinha de magias
E de lá saem flutuando
As palavras.

Mais que depressa
- com medo de perdê-las –
Vai aprisionando
Uma por uma
Nas linhas de um texto.

Com desconfiança e medo
O poeta pega a folha
Sai do quarto
Vai até a frente da casa.

Um vento sopra
Arranca-lhe o texto das mãos
Que voa voa
Agita-se ao vento e pousa
Junto às flores do jardim.

Cheio de espanto
Diante de tanto colorido
Tanta simplicidade e beleza
O pobre poeta já não sabe
Onde repousa a poesia enfim

Se na armadura das palavras
Se no perfume e na delicadeza
Das flores de seu jardim.
Etelvaldo Vieira de Melo

IMAGEM

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Imagem: publicdomainvectores.org
                    
Uma linda negra dos olhos azuis como o céu.
- Que olhos azuis maravilhosos você tem!
- É isso aí, freguesa. Olhos azuis por cinquenta reais, só em nossa ótima Ótica.
- Que corpo! Que formas!
- Compre-os na loja de cintas, ao lado.
- Como faço?
- Use o cartão de crédito que nós mesmos oferecemos,
  e desfile pelo mundo da beleza com economia e as maiores vantagens
 comerciais desta Capital.

Graça Rios

NÃO À VACINA

Ivani Cunha

UM TIPO INESQUECÍVEL

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Imagem: YouTube
Pro Luís
            Voltando para casa, após uma breve visita ao sacolão (lugar onde se vendem sacolas, verduras, frutas e legumes), onde recebi um cumprimento afável e lisonjeiro do dono (“como vai, patrão?”), encontrei um amigo que não via há muito tempo. Luís é seu nome.
            Nosso conhecimento era superficial, mas se estreitou e chegou à amizade, justo quando ele se afastou do trabalho para tratamento psiquiátrico. Era ele motorista de ônibus quando passou a ser vítima de muitos assaltos. O quadro foi se agravando tanto que, só de ver uma pessoa mal-encarada, seu coração disparava ao ponto de quase enfartar. Quando dormia, tinha pesadelos terríveis, acordando assustado ante a imagem de um marginal dando-lhe um tiro no meio da cabeça.
            Com o afastamento do trabalho, sendo ajudado por psiquiatra e medicamentos pesados, foi aos poucos recuperando o bom humor e a alegria de viver. Nessa ocasião, passei a ter contato com ele, já que frequentávamos uma mesma escola de iniciação à eletrônica.
            O curso era muito teórico, passávamos quase que o tempo todo fazendo leitura das cores de resistores. Nas poucas aulas práticas, televisões velhas e aparelhos de som eram colocados em frente aos alunos. Você sabe: brasileiro tem mania de ver com as mãos; quando fala “deixe ver isso aí”, na verdade quer é pegar. Muito enxerido, o Luís foi, certa vez, pegando um componente de televisor chamado de “chupeta”, enquanto tentava perguntar ao professor o que era aquilo. Mal conseguiu pronunciar a palavra “professor”, sendo arremessado até o fundo da sala por um violento choque. A tal de chupeta armazena mais de mil volts; aquela não fez estrago maior porque estava quase descarregada.
            Retornando Luís ao trabalho de motorista, ficamos um tempo sem nos ver. Quando reclamei sua ausência, falou:
            - Não repara, não, Eleutério; é que ando com um corrimento danado.
            Falei pra ele:
            - Com corrimento não se brinca. Vá logo procurar um ginecologista.
            Nesse último encontro, disse que inventou de consertar a máquina de lavar roupa de sua casa. Depois de retirar todas as peças, com a ajuda do doutor Google, conseguiu descobrir o defeito. Colocou a máquina para funcionar. Na primeira lavagem, enquanto centrifugava, ela começou a pular.
            Maria, a esposa, falou, já querendo “soltar os cachorros” em cima do pobre coitado:
            - Que serviço de burro! Olha como a máquina pula!
            - Que é isso, mulher? – falou o Luís. – O conserto foi tão bom que a máquina pula porque está querendo levar a roupa pro varal...
            Esse é o Luís. Se estou compartilhando essas lembranças com você, isso se deve a um acontecimento em especial e que me deixou muito aborrecido.
            Estive lendo aquela declaração do Procurador Geral, Rodrigo Janot, dizendo que “ficou chocado e sentiu náusea”, ao ouvir a gravação entre o empresário Joesley Batista e o presidente Michel Temer. Você sabe: aquela denúncia de suborno e corrupção, com direito a mala abarrotada de dinheiro.
            Como são as coisas. Na Alemanha, em fevereiro de 2012, o presidente Christian Wulff renunciou por causa de uma denúncia envolvendo 700 Euros. Segundo a ex-ministra da Justiça daquele país, Herta Däubler Gmelin, “nunca aconteceria em meu país de um presidente sob suspeita de corrupção, com denúncia apresentada pela própria Procuradoria-Geral da República, não renunciar imediatamente ao cargo”. Disse mais Herta: “O Brasil é outro mundo”.
            Sim e não, o Brasil é outro mundo em termos. Tudo leva a crer que seja outro mundo para aquelas bandas de lá, onde as pessoas perderam o senso de dignidade e de respeito para com o bem comum, onde o Poder foi assaltado por uma quadrilha de ladrões da pior espécie. Do lado de cá, no meu círculo de relações, ainda existem muitas pessoas boas e decentes, pessoas simples, sinceras, honestas; pessoas amigas. Daí, a lembrança do Luís. É esse lado do Brasil que me faz ter fé, não deixa a esperança morrer.
Etelvaldo Vieira de Melo


A AVÓ E O LOBO

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- Cadê o xampu e o condicionador, Ana Clara?
- Fiz geleka com eles.
- Cadê o celular, minha neta?
- Tô fazendo o MEU vídeo.
- E o computador? E a televisão?
- Musicaly, avó. Vamo jogá a geleka nas portas?
- Cadê as margaridinhas do vaso?
- Foi o David quem tirou!
- A minha colcha de lã...
- É dela que eu gosto.
- Escova os dentes, Clarinha!
- Na volta, vovó.
Graça Rios


CORRER E DESENHAR (OU VICE-VERSA)


Recentemente, resolvi ensaiar alguns desenhos de humor e acabei ficando "viciado". Desenho e corro de madrugada pelas ruas do bairro Planalto, Região Norte de Beagá.  
Segundo o falecido mestre James Fixx, autor do "Guia completo de corrida", os melhores momentos para o exercício são até uma hora antes de o sol aparecer e a partir de uma hora depois de o sol se esconder. Por isso, corro a partir das 5 horas e retorno por volta das 6 para um banho frio (inclusive quando o termômetro está lá embaixo). Sem problema, porque estou suado e, além disso, quem estudou no Seminário Provincial do Coração Eucarístico nos anos 1960 -- como o Etelvaldo e eu -- ficou acostumado com o rigor espartano.    Volto para casa com uma ideia, no mínimo, para novo cartum, porque ao iniciar a corrida sempre abro a porta da mente para situações do dia a dia, a lembrança de conversas, notícias, etc. Com isso, despreocupo-me em relação ao esforço do exercício -- as pernas e o coração cuidam disso sozinhos. Durante o trajeto defino o esboço do cartum, inclusive com o título e diálogo ou frase do personagem. O exercício se torna mais leve, prazeroso e cumpre uma função a mais. 
Não há ocasião como essa, a da corrida, para sua mente trabalhar, pois o cérebro está superoxigenado (acho que antes da reforma ortográfica arrumada pelo falecido ministro José Aparecido de Oliveira -- das Relações Exteriores --a gente não escrevia assim...), portanto a criatividade se apresenta.Tenho tirado proveito disso nos últimos oito meses (passados uns 30 anos de sedentarismo), pois voltei a correr após exames recomendados pelo médico, como todo mundo na mesma situação -- e disposto a mudar -- deveria fazer para evitar problemas por causa do exercício puxado.
Para mim, correr e criar cartuns valem muito para a saúde do corpo o fortalecimento do lado direito do cérebro, respectivamente.
Abraço
Ivani Cunha

FÁBULA NEBULOSA: O BURRO E O LOBO

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FÁBULA NEBULOSA 33: O BURRO E O LOBO (*)

Bem está o burro a comer de pastagem distraído
Quando por voraz e faminto lobo é surpreendido.
Não tendo como fugir, usa de artimanha o muar
Começando de forma teatral a gemer e a mancar.

E falou: - Melhor o senhor de minha pata esta ferpa tirar
Para que, quando me comer, não venha a se engasgar.

Pelo espinho o lobo logo começou a procurar.

Procura daqui, caça dali, olhando a pata com atenção
Sem se dar conta do que lhe prepara o burro em armação.

Assim que se viu em condição, esse não parou para pensar
Desferindo na bunda do lobo um coice potente
Jogando-o setenta metros de distância adiante.

Satisfeito com a esperteza, foge sorridente o burro a galopar
Deixando o lobo gemendo de dor e a se apalpar
E a pensar: - Como pude ser tão ignorante
ao ponto de num burro confiar?

Moral:
Burrice não é privilégio de burro.
(*) Invento e/ou releitura de Fábulas Universais

Etelvaldo Vieira de Melo

SE EU TE DISSER QUEM SOU

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Imagem: gustavogiraldello.wordpress.com

Se eu te disser quem sou,
sou sempre em frente.
Este é possivelmente um modo tranquilo de estar.

Explico melhor:
sou um fio de voz, um talho de tempo
na pele muito branca, a pele de nuvem.

Em palavras fluidas,
sou os próprios vazios
onde posso caminhar.

(Tudo isso parece castelos de cartas.)

Me fervem as mãos e me fecham os olhos
o esmalte descascado,
o rímel desmanchando
sobre o blush quase sem cor.

Dizem ainda que sou muito delicada,
mas erro a mão quando queimo os bolos.
Graça Rios


CORRUPTOS? NÃO! LADRÕES.

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Imagem: folhapolitica.org
Pesquisa científica conclui que 1% das pessoas é naturalmente honesta, 1% é por natureza desonesta, enquanto 98% oscilam entre ser honesto e ser desonesto de acordo com as circunstâncias. Em certo sentido, tal pesquisa concorda com os ditos populares que dizem “a ocasião faz o ladrão” e “toda pessoa tem seu preço”.
Pois bem, diante de avaliação tão contundente, cabe a pergunta: com tender as pessoas para o lado naturalmente bom, do respeito mútuo, sem que venham “passar a perna” umas nas outras?
Tempos atrás existia a religião, que funcionava como um freio moral. Nas aulas de catecismo, as crianças aprendiam que, no fim da vida, o bom seria recompensado e o mau receberia castigo eterno. Para deixar tudo claro, era mostrada a figura de um desonesto sendo precipitado no inferno, com os capetas o aguardando de tridentes à mão.
O tempo passou, novas seitas religiosas foram criadas, e passaram a dizer que as coisas não são bem assim, talvez como uma forma de justificar a sanha de arrecadar os dízimos. Conclusão: em vez de ser freio, a religião passou a ser acelerador para atitudes desonestas.
Até bem pouco tempo, a Justiça, através de seu aparelho judiciário, era um bom freio moral e físico para o comportamento desonesto. A figura de um juiz de direito era tida como sobre-humana, quase divina.
Também aqui o tempo passou, com as pessoas se dando conta de que os ditos santos eram de “pau oco” ou tinham os “pés de barro”. Foi quando os meios de comunicação começaram a mostrar atitudes indecorosas de magistrados e as pessoas tomaram conhecimento de salários imorais e até ilegais.
Sem apoio da religião e da justiça, estamos nos sentindo como se estivéssemos num “mato sem cachorro”. Além disso, importa considerar que vivemos num regime dito capitalista, cuja filosofia é “cada um por si, e os outros que se danem”. E onde minha felicidade parece depender da infelicidade do outro.
Não acho certo considerar que somos todos “farinhas do mesmo saco”. Não acho justo considerar, por exemplo, que tenho o mesmo nível de responsabilidade que um político. Detesto quando acusam pessoas mais simples, quando querem levar algum tipo de vantagem. Os falsos moralistas de plantão esbravejam: “Não estão vendo? Tendo oportunidade, todo mundo é desonesto!”. As pessoas simples aprendem através de exemplos daqueles mais evoluídos e estudados. Os políticos, juízes, líderes religiosos são referências, são espelhos. O que queremos deles são exemplos, bons exemplos, exemplos saudáveis.
O vocabulário empregado hoje em dia muitas vezes não ajuda na compreensão da realidade. Inventaram uma tal de “delação premiada”, que escamoteia o outro sentido de alcaguete, traidor, delator, “dedo–duro”. Por outro lado, inventaram uma tal de “corrupção passiva”, quando o termo deveria ser “ladrão” ou “gatuno”.
Incomoda ver o crime compensando para certo tipo de ladrão; assusta observar como a Lava Jato pretende fazer justiça usando de dedurismo, alacaguetagem.
Para obterem a absolvição, certos bandidos nem precisam usar todo o estoque de delação:
            - Precisa de mais, meritíssimo?
            - Não, o que falou já é suficiente. Pode guardar o restante como reserva para uma próxima.
Às vezes, imagino diálogos surreais:
            - Tenho uma delação contra fulano.
            - Pode repassar, que essa é boa.
            - Tenho também contra beltrano.
            - Não precisa.
            - Mas é pesada e beltrano é famosíssimo.
            - Delação contra beltrano não interessa.
Diante desse quadro, resta o absurdo: quanto mais ladrão, mais chances de se dar bem. Nem faço referência àquele que recebe pensão para ficar de boca fechada.
             - Senhor Deputado, de que vossa excelência é acusado?
            - Dizem que pratiquei uma tal  de corrupção passiva.
            - Que expressão bonita! Acho que até merece uma medalha por sua causa!
Por tudo isso, é preciso carregar no vocabulário para ver se entendem; por isso, nada de “dourar a pílula” chamando de corrupção passiva atos de roubalheira. Os políticos que andam com as malas abarrotadas de propinas são o que são: ladrões do dinheiro público. É por causa deles que o saneamento básico é uma calamidade, a educação é de péssima qualidade, pessoas morrem por falta de atendimento médico. Corruptos, não! Ladrões.
Etelvaldo Vieira de Melo