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Pesquisa científica conclui que 1%
das pessoas é naturalmente honesta, 1% é por natureza desonesta, enquanto 98%
oscilam entre ser honesto e ser desonesto de acordo com as circunstâncias. Em
certo sentido, tal pesquisa concorda com os ditos populares que dizem “a ocasião faz o ladrão” e “toda pessoa tem seu preço”.
Pois bem, diante de avaliação tão
contundente, cabe a pergunta: com tender as pessoas para o lado naturalmente
bom, do respeito mútuo, sem que venham “passar a perna” umas nas outras?
Tempos atrás existia a religião, que
funcionava como um freio moral. Nas aulas de catecismo, as crianças aprendiam
que, no fim da vida, o bom seria recompensado e o mau receberia castigo eterno.
Para deixar tudo claro, era mostrada a figura de um desonesto sendo precipitado
no inferno, com os capetas o aguardando de tridentes à mão.
O tempo passou, novas seitas
religiosas foram criadas, e passaram a dizer que as coisas não são bem assim,
talvez como uma forma de justificar a sanha de arrecadar os dízimos. Conclusão:
em vez de ser freio, a religião passou a ser acelerador para atitudes
desonestas.
Até bem pouco tempo, a Justiça,
através de seu aparelho judiciário, era um bom freio moral e físico para o
comportamento desonesto. A figura de um juiz de direito era tida como
sobre-humana, quase divina.
Também aqui o tempo passou, com as
pessoas se dando conta de que os ditos santos eram de “pau oco” ou tinham os
“pés de barro”. Foi quando os meios de comunicação começaram a mostrar atitudes
indecorosas de magistrados e as pessoas tomaram conhecimento de salários imorais
e até ilegais.
Sem apoio da religião e da justiça,
estamos nos sentindo como se estivéssemos num “mato sem cachorro”. Além disso,
importa considerar que vivemos num regime dito capitalista, cuja filosofia é “cada um por si, e os outros que se danem”.
E onde minha felicidade parece depender da infelicidade do outro.
Não acho certo considerar que somos
todos “farinhas do mesmo saco”. Não acho justo considerar, por exemplo, que tenho
o mesmo nível de responsabilidade que um político. Detesto quando acusam
pessoas mais simples, quando querem levar algum tipo de vantagem. Os falsos
moralistas de plantão esbravejam: “Não estão vendo? Tendo oportunidade, todo
mundo é desonesto!”. As pessoas simples aprendem através de exemplos daqueles
mais evoluídos e estudados. Os políticos, juízes, líderes religiosos são
referências, são espelhos. O que queremos deles são exemplos, bons exemplos,
exemplos saudáveis.
O vocabulário empregado hoje em dia
muitas vezes não ajuda na compreensão da realidade. Inventaram uma tal de
“delação premiada”, que escamoteia o outro sentido de alcaguete, traidor, delator,
“dedo–duro”. Por outro lado, inventaram uma tal de “corrupção passiva”, quando
o termo deveria ser “ladrão” ou “gatuno”.
Incomoda ver o crime compensando para
certo tipo de ladrão; assusta observar como a Lava Jato pretende fazer justiça
usando de dedurismo, alacaguetagem.
Para obterem a absolvição, certos
bandidos nem precisam usar todo o estoque de delação:
-
Precisa de mais, meritíssimo?
-
Não, o que falou já é suficiente. Pode guardar o restante como reserva para uma
próxima.
Às vezes, imagino diálogos surreais:
-
Tenho uma delação contra fulano.
-
Pode repassar, que essa é boa.
-
Tenho também contra beltrano.
-
Não precisa.
-
Mas é pesada e beltrano é famosíssimo.
-
Delação contra beltrano não interessa.
Diante desse quadro, resta o absurdo:
quanto mais ladrão, mais chances de se dar bem. Nem faço referência àquele que
recebe pensão para ficar de boca fechada.
- Senhor Deputado, de que vossa excelência é
acusado?
-
Dizem que pratiquei uma tal de corrupção
passiva.
-
Que expressão bonita! Acho que até merece uma medalha por sua causa!
Por tudo isso, é preciso carregar no
vocabulário para ver se entendem; por isso, nada de “dourar a pílula” chamando
de corrupção passiva atos de roubalheira. Os políticos que andam com as malas
abarrotadas de propinas são o que são: ladrões
do dinheiro público. É por causa deles que o saneamento básico é uma calamidade,
a educação é de péssima qualidade, pessoas morrem por falta de atendimento
médico. Corruptos, não! Ladrões.
Etelvaldo Vieira de Melo
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