NÓS DOIS CISNES

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Penso nele, Mc,
e essa imagem  me oprime.
Em nossa relação de um dia, ó musamiga,
um vivo signo emudeceu.
O Doce, esse grande rio,
por onde passeávamos, evadidos  da gaiola,
ainda fecunda campos,
índios, ribeirinhos, mães-dágua, cultos silvícolas in memoriam.
Sou sofrida, mas não me calo. A areia clara ilumina-me a memória.
Apesar de tudo, flores, peixes, conchas, orações,
não esqueci o abandono mineral.
Penso nele, tão longe das minhas margens.
Creia,  Andra, nada em minha melancolia findou.
Viso a escapar do amar pelo céu irônico, cruelmente azul, também
do  mito fatal desta história fisgada.
No entanto, o passado me olha de viés, pois a água fêmea nutriente, em mim, secou.
Andrômaca, viúva de Heitor, ausculta a sua
companheira de dor:
Eu também, como todos os exilados daquele frondoso temp(l)o,
penso nele, flúvea, e sinto que, para o futuro,
nós cisnes amantes somos
merda vil, poluição, dejeto,
sob a mão do soberbo destruidor.
Graça Rios

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