TRABALHO ESCOLAR

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Livro: As fases da Lua.
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Li o livro As fases da Lua, da Editora Miguilim, comprado por papai na Livraria da Rua.  Ele é muito engraçado, porque dona Lua conversa com os amigos astros sobre as suas fases apertadas na vida. Algumas vezes, está largada do serviço com a casa. Aí, fica Cheia, pois o povão da Terra enche o seu saco de pesquisa.
Até que, enfim, resolve mudar a cara e ficar Nova em folha, maquiada que nem palhaço. Se alguém resolve chatear essa toptoupeira, ela vai crescendo e fala: - Viu, gente? Eu já sou Crescente. Nesse bostinha de telescópio, aparece só um quarto de mim. Bem feito!
A alegria dura pouco. A pobre coitada Minguante míngua, míngua, minguou que ficou fô. Emagrece sem regime de chocolate, e só pesa um quartinho daquele tempo de bombom. Pro desaforo, resolve eclipsar, ou seja, sumir da face do mundo enquanto namora o rei Sol.
Todo menino sabe que ela conta vantagem, mas é ceguinha pra dedéu. Precisa de que o tal camarada, incendiado de entusiasmo, acenda uma lamparina em cima da carona de bola dela para que a papo de pato não dê vexame com os outros.
A Lua é igual moça. Tem dois ciclos. No primeiro, vira uma lunática de marca maior. Daí esse período receber o nome de Lunação ou Sinódico. Sinódico, eu vi no dicionário do celular. É movimento geral. Rebolado da assanhada ao som do pagode no videogame. São 29,5 dias menstruada. Quem aguenta?
No Mês Lunar, a danada pira de vez. É o período Sideral porque a safadinha fica siderada em cima da motoca. Começa a rodar em volta de si mesma loucamente até não dar mais pé. Ainda bem que a nega maluca roda, roda, fica tonta feito gambá. Aí, não tem jeito. Desmaia no vigésimo terceiro dia pra tristeza de quem vinha gingando com ela aqui embaixo.
O livro aprontou essa bagunça na pelota, o jogo deu 0x0. Para mim, eu aproveitei e mandei a redonda pro meio da rede, que não sou besta coisíssima nenhuma. Besta é a sua vó!
Graça Rios

SEM SAÍDA

Convém cuidar bem de seu cartão, mas até o zelo deve ter limite.
Ivani Cunha

A MENINA QUE CAIU DO PÉ DE GOIABA

  

VALE DO RIO AMARGO


O Brasil afunda cada vez mais nas lamas
da insensatez
da ganância desmedida
da impunidade dos poderosos
da irresponsabilidade ambiental
da sede raivosa por lucro fácil
do desprezo para com vidas humanas.
Que os contêineres nos navios, junto com minérios, também estejam abarrotados de indignação e marcados de vermelho, sim, de vermelho do sangue de um povo sofrido, que vê a riqueza da pátria ser usurpada para atender à ganância de uns poucos.

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Imagem: You Tube
Tudo o que acontece em nossas vidas fica como que adormecido em nosso subconsciente, até que um fato venha despertar uma ou outra lembrança.
Nesses dias atuais acontecem coisas que me trazem lembranças de uma moça que conheci nos tempos de juventude.
Ela se chamava Damares e se interessava por mim. Tinha vindo do Nordeste, conhecia pouca gente na capital mineira. Entre os conhecidos estava eu, eu que não tinha nenhuma “misoginia” contra migrantes nordestinos, muito menos contra pernambucanos. Pelo contrário, gostava do sotaque, do bom humor e do jeito de ser daquela gente. E tinha um carinho especial com a Damares. Mas tinha eu também um defeito sério, segundo o amigo Ivani Cunha (que dizia também dele compartilhar): o de “engravidar” as moças pelo ouvido. Era só ouvir a gente, que ficavam prenhes. De palavras, porque fisicamente não encostávamos sequer um dedo em nenhuma delas. Quando desconfiavam de que tudo ia ficar tão somente em palavras, não mais do que palavras, de que “daquele mato não ia sair coelho”, acabavam desistindo.
Damares, no entanto, era persistente: achava que, usando de algumas iscas, podia, sim, tirar um coelho do mato, ou da cartola. Uma das iscas foi me presentear com o disco compacto de certo cantor famoso na época, Paulo Sérgio. A música se chamava “Última Canção”: “Esta é a última canção que eu faço pra você. Já cansei de viver iludido só pensando em você...”
Certo dia, foi ela me visitar, certa de que eu já estava conquistado. Quando chegou à casa onde eu morava, teve uma surpresa: estava cheia de outras moças “grávidas”.
Transtornada, pediu que eu fosse até a porta da sala e levasse o disco que me presenteara. Arrancando-o (o português formal tem dessas coisas, preferia dizer “arrancando ele”) de minhas mãos, o jogou ao chão com raiva, talvez esperando que se espatifasse todo. No entanto, ele rolou pelo piso da área, sem sofrer nenhuma avaria. Damares, ainda mais transtornada, saltou sobre ele e o pisoteou até não mais aguentar. (Disse que ela era pernambucana? Estava parecendo mais paraibana...)
Assim, acaba minha lembrança de Damares.
Por esses dias, tudo isso que contei me veio à cabeça, quando tomei conhecimento de outra Damares, a ministra e pastora Damares Alves. Então, fiquei sabendo de notícias que recusei levar a sério, tendo na conta de intriga da oposição. A doce lembrança da primeira Damares me fazia ver essa outra em tom cor de rosa. E não adiantou saber como ela pegou o cargo de ministra numa manobra nebulosa junto a seu chefe, um senador. Releguei também aquela história de ter se encontrado com Jesus nos galhos de um pé de goiaba (quem conhece, sabe: é praticamente impossível subir num pé de goiaba, mesmo uma criança, por causa dos galhos finos).
Agora ela está vindo com a conversa de que meninas devem se vestir de rosa, enquanto que os meninos, mesmo não sendo cruzeirenses, devem se vestir de azul.
Enfim, acho essa Damares muito estranha, está falando demais, não sabe ser discreta. Meu medo é que sua língua solta esteja sendo usada para encobrir outras coisas, outros assuntos que precisam passar despercebidos.
Sei não. Acho bom fazer mais uma regressão, usando os préstimos da sobrinha Dri.
Resolvendo os problemas do passado, isto é, obtendo o perdão da antiga Damares, quem sabe possa volta para o presente com os olhos bem abertos, para entender o que a atual anda aprontando.
Etelvaldo Vieira de Melo













ENGLISH HORROR

Ultimamente, tenho utilizado o método cartesiano na análise dos acontecimentos. Retiro deles tudo o que há de irrelevante, acessório, a fim de chegar à equação geométrica básica. Afinal, noves fora o barulho, o ódio, a inconsistência psicológica, ouso visualizar coordenadas, linhas, paralelas, compreensíveis à luz do raciocínio. Descartes surge, mentor da aceitação do sofrimento atual ou hesterno.
Fatos: Fui reprovada nos testes de Inglês por 59,8, sendo a nota mínima de aprovação, 60,0. Afinal, após três processos administrativos junto ao CENEX/UFMG contra o professor da matéria (na iminência de entregar os pontos), consegui reverter a situação. Em reunião extraordinária, o Colegiado conferiu-me o justo louvor para iniciar o Curso Intensivo de Férias, a iniciar-se no próximo dia 6/2/2019, bem abonada.  Sofri horrores durante o processo, perdendo-o durante 2 vezes consecutivas. Insistente, pesquisei o último recurso, sabendo que a revisão de todas as provas semestrais me concederia no mínimo 90,0 créditos. Até a secretaria exultou, quando venci o duelo: “A senhora tem garra, dona Graça!”.
Descartes, now. Busquei anular a injustiça; a raiva de Leão II de Tal por haver contestado o caráter de Leão I, seu amigo (?) mestre e referendo de Língua inglesa. A véspera de Ano-Novo requereu-me Esquecer para (nunca) Lembrar, parafraseando Carlos Drummond, resultados ótimos “perdidos” por ele no MOVE; Oral Tests, Listenings, Discussed Classes, tudo 0,0.
Se escrevo hoje esses condiciona dores no blog, é porque ainda não consegui destituí-los de maus sentimentos, porém alcancei admirar a (o) fera pela excelência das aulas. Consequentemente, enviei-lhe um belo cartão de Boas Festas, reiterando imensa amizade, alegria em conhecê-lo, paz e saúde aos familiares.
Deixo-lhe, amigo leitor, a tarefa de mostrar-me caminhos de aplicação metódica daquilo de que duvido e de que duvido até duvidar, através do amor ao leo u-mano. Do you think my actions were enough or no?
Graça Rios

BANHEIRA ENORME

Invista numa casa à beira de qualquer mar e livre-se, enfim, do gasto com energia para o seu banho diário.
Ivani Cunha

TEMPLO: CASA DE DEUS OU COVIL DE COMÉRCIO, DE VENDILHÕES, CAMBISTAS E LADRÕES?

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Imagem: You Tube
No dia 17 de julho de 2007, o Airbus A320-233, em voo TAM 3054, partiu de Porto Alegre com destino a São Paulo. Ao tentar pousar na pista 35L do aeroporto de Congonhas, a aeronave não conseguiu frear, ultrapassou os limites da pista, indo colidir com o prédio da TAM Express e com um posto de gasolina. Resultado da tragédia: 187 passageiros/tripulantes e 12 pessoas em solo todos mortos.
Você já viu um filme de guerra onde alguém passa por um terreno, sabendo que está minado? Ele anda com todo cuidado, pois um descuido qualquer e BUM!, acaba com tudo.
Mais ou menos assim estou me sentindo na produção deste texto. Preciso medir bem as palavras, procurar ter o máximo de precisão e clareza, pois um descuido qualquer, BUM!, posso provocar danos indesculpáveis. Daí, perder o respeito e a consideração de pessoas que estimo é só um piscar de olhos.
Procurando ter os olhos bem abertos, e sem piscar, vamos bater mais uma vez na tecla da religião. Como diz o ditado, “água mole em pedra dura tanto bate até que a água acaba”.
Agindo assim, sei que posso contrariar muita gente, mas fazer o quê? Se for para deixar a honestidade e a coerência de lado, será melhor mexer com outra coisa, já que, sem elas, estarei indo para lugar nenhum.
Esse tema da religião já me incomodou muito no período eleitoral, quando usaram e abusaram de Deus, tomando seu santo nome em vão, com os tidos pastores, evangélicos e cristãos despejando toneladas de vergonhosas mentiras sobre crentes, descrentes e indecisos, sobre pessoas de nenhuma, muita ou pouca fé.
Pois bem, deixei registrado que não concordo absolutamente com essa ideia de misturar política com religião, que considero o cúmulo da desfaçatez usarem a religião para fins políticos e eleitorais, que a política no país não vai dar certo enquanto houver esse tipo de gente no Congresso com sua chamada Bancada da Bíblia.
Outro ponto que me contraria neste tema está na maneira como muitas pessoas vivenciam a religião, expressam a religiosidade. Não tem nada demais alguém puxar “a brasa pra sua sardinha” quando está orando. Mas não pode haver exagero, isto é, fazer da religião um comércio, um “toma-lá-dá-cá”, um só recorrer a Deus buscando o interesse próprio.
Exemplo:
Um palestrante, que conheci através de um vídeo, disse que era para estar entre aqueles mortos do acidente da TAM. Contou que, quando subia as escadas para entrar na nave, ouviu estas palavras do Espírito Santo:
- Meu caro, onde pensa que está indo?
- Ora – retrucou o moço: - Estou indo para São Paulo!
- Taí uma coisa que não convém fazer.
- Mas eu tenho compromissos na capital paulista, preciso fechar muitos negócios!
- Olha, o melhor que você tem a fazer é descer com sua bagagem de mão e voltar pra casa.
O moço, que já estava recebendo as boas vindas do comandante e da comissária de bordo, teve que se desculpar junto aos demais passageiros que ainda subiam pela escada.
Voltando ao escritório em Porto Alegre, tomou conhecimento da tragédia.
Muitos veem no relato um belíssimo exemplo de fé. Eu, sem ter medo de passar por cretino, acho que essa história é um belíssimo exemplo de egoísmo. O Espírito Santo não mencionou o risco de acidente com o avião, mas nem precisava dizer, estava claro. E o que fez o moço do relato? Salvou-se, enquanto que os outros se danaram. Em nenhum momento ele intercedeu junto ao Espírito Santo pelos outros passageiros. Pode isso? Não tinha como interceder pelos demais passageiros e tripulantes? Isso era o mínimo que ele deveria fazer.  
Nas vezes em que vou rezar e pedir algo a Deus, eu me confundo todo. Quando peço por mim, não acho certo deixar de lado os parentes e amigos. Depois, peço também pelos vizinhos e conhecidos; depois, lembro das pessoas que sofrem de alguma maneira; ao fim, digo: Deus, estou rezando por todo mundo.
Finalizando, só mais um exemplo de como a religião é mais caso de polícia do que de Deus: um missionário está vendendo alguns utensílios “sagrados” para quitar débitos de sua igreja: - 100 mil chaves a 300 reais cada; - lenços por 100 reais cada. Segundo o pastor, quem comprar uma chave vai entrar em 2019 com “as portas escancaradas” e mais abençoado, pois a chave é ungida com óleo de Israel. Sem comentário tamanha desfaçatez.
Etelvaldo Vieira de Melo 

PIANO PIANO SE VA LONTANO

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Belzinho – o Gabriel – pousou sobre minha casa. Eu estava cremando o rosto, perfumando os ombros. Distraído, esqueceu a coroa, mas trouxe brilhantes.
                               - Pois, pois, a que devo a honra?
                               - A senhora ainda joga videogame?
- Gosto muito. Ligo o computador.
- Favor, aqueles de guerra.
- Uai, Biel! Mata-mata?
-  Anelo só brincar só.
- Okay. Não estou localizando...
- Aperte “Abrir Tela”. Eu mesmo arrumo isso.
Na copa. Gorgeando com Lili, bicando sementes de pássaro.
                               - Periquito Maracanã, cadê a sua Iaiá?
                               - Faço depois seu chá de canela.
Meia hora engasgada de papo. Castanhas, nozes e vozes.
                               - O que houve, meu anjo? Largou o jogo pra vi/ver o celular?
                               - É. O povo da Nuvem.
                               - Quer ir para o Órgão, Gabriel?
Sala de visitas. Toco o Bife. Tan, tan tan, tan tan tan.
                - Vem, menino, que te ensino. Duas teclas saltadas. Pula pra frente, mais agudo.
                                               - Pam pam. Pam. Puxa!
                        - Ouvido absoluto. Ouça o desafino e comece de novo.
          - Tan tan. Pam Pam. Tan Ten TUN. PIN PUM.
                      - Bravo! Santa Cecília, padroeira dos músicos, vai adorar.
Sorriso divinal, vaidade terrestre.
                               - TEMTERÉM. PACO IN PACO.
                - Devagar. Compositor precisa de alma. Calma. Bifando do início.
                              
- BIF. BIF. BIF. BIF. BUFO!
                               - Busquei uma banana. Potássio nos dedos.
                               - Ummmmm. INHAKO, inhaco! Doce, doce.
     - Himmlische, dein Heiligtum!  Beethoven: “Ali onde teu doce voo se detém”.                         
            Dó, mi, si, ré, lá, dó, ...  Aprendeu. Biel do Céu, tu vem de auréola até sem ela.                  
- A senhora acha?
                                                              - Certeza, garoto!
Volta ao lar, de  Move. São Geraldo à espera, segurando o crânio.
                               - Papai, mamãe, descobri hoje minha vocação.
                               - O que será, será?
                - Serei Músico Famoso. Podem ver o astro onde devo estudar.
Graça Rios

FAÇA-SE JUSTIÇA

O Conselho Federal de medicina já não se importa com o exercício ilegal da profissão em situações especiais.
Ivani Cunha

NOVOS TEMPOS PEDEM NOVAS ATITUDES

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Muitas vezes um detalhe nos ajuda a entender o todo. A função do cronista é chamar nossa atenção para detalhes que passam despercebidos.
Quando despontou no cenário político brasileiro como candidato a presidente da república, Jair Messias Bolsonaro era visto com desconfiança pela chamada “gente de bem”. Aquele que é hoje chamado de “O Mito", na época era tido mais como “O Mico”. A Direita Raivosa, que acabara de sair do armário, ainda relutava em revelar sua verdadeira fisionomia. Desse modo, fugia do Jair como o diabo foge da cruz.
Foi por esse tempo – eu não me esqueço, embora a imprensa tenha deletado o fato – foi por esse tempo, repito, que o senhor Sérgio Moro, então meritíssimo juiz, cruzou casualmente com o então emergente candidato. O fato se deu no saguão de um aeroporto. Bolsonaro, ao ver o pop-star Sérgio, se aproximou todo sorridente, querendo um cumprimento. O noticiário da época (não sei se a revista homônima estava junto) destacou o fato, que ficou gravado na minha desgastada memória. O então juiz, todo constrangido, fingiu não ver, e o caso ficou por isso mesmo (Ver: Bolsonaro bate continência para Moro e reação do juiz viraliza – exame.abril.com.br 31/03/2017; Bolsonaro ficou chateado com Moro ao ser ignorado por ele em aeroporto – folha.uol.com.br).
O tempo passou e o Mico, graças a anabolizantes importados dos Estados Unidos (fake news), acabou se transformando num gorila. E ganhou a eleição.
Então, como dizem as más línguas, “o sabiá mudou de cantiga”: com Bolsonaro lá em cima, o “cordão de puxas-saco” foi aumentando cada vez mais. Como diria Cony, aderir faz parte do caráter do brasileiro.
Ao final deste singelo e despretensioso relato, só quero registrar uma revelação: sabe quem também acabou aderindo?  Ele mesmo, aquele que dizia que não se misturava, que recusava ser tratado como farinha do mesmo saco, o senhor Sérgio Moro, agraciado com um ministério. Aquele que dizia jamais entrar no jogo político, está lá nadando de braçada.
Se alguém lhe chamar a atenção, dizendo que é uma incoerência (no mínimo) da parte dele assumir um cargo político, Moro talvez diga que não vem ao caso.
Se não vem ao caso eu não sei. Sei mesmo é que o senhor ex-juiz tem razão num ponto: novos tempos pedem novas atitudes. Novas atitudes que dependem do caráter e da coerência de cada um.
Etelvaldo Vieira de Melo

PRIMA BALLERINA

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Solicitei à Roseli que trouxesse a filha para brincar. Cometi de novo a impertinência de interrogar-lhe sobre a vestimenta mais formosa do mundo.

Silêncio!
Ao final do serviço, a mãe segredou-me:
-Ela não perde as pequenas bailarinas na tevê.
Entendi o enunciado sob a enunciação. Pensei logo em minha neta ausente.
- Ah, ah! Ei-las aqui.
Havia ainda um par de sapatilhas perdido entre os cobertores. Tomei-o e segui até a Savassi. Voltei com o collant, a meia, o tutu.
-Bom dia, senhora. Dormiu bem?
(O Papai Noel oculto rindo, rindo. Oh, Oh, Oh!)
- Entregue isto à Isadora, por favor.
Lili partiu. Toquei a Quinta Sinfonia no órgão, estudei Inglês, visitei Haydée. Tempo bastante para o longo regresso materno a casa. Às vinte horas, abri o celular. Cliquei num recado. Então, vi vivamente visto o lume vivo. Dora revelava-se em três fotos, posando depezinha no calçado direito de seda. Os olhinhos buscavam a luz, lembrando Marie van Goethem no estúdio de Edgar Degas. Usava as fitas impressionistas pintadas na filha da lavadeira e do alfaiate pobres no ano de 1870. Conquistava com um adagio o Corpo de Ballet da Opera de Paris.
- Muito obrigada, dona Graça.
- Obrigada a ti, dourada personagem: Cisne no lago deste dorido coração.
Graça Rios

PAI MECÂNICO

Pai de verdade é aquele que ensina ao filho o caminho das pedras em seu sentido literal.
Ivani Cunha

FEIO, DEMASIADO FEIO

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Imagem: forcaaodia.wordpress.com
Para Júlia Mara, que sabe enxergar com o coração
Minha filha vem me visitar. Assim que me vê, corre para me abraçar enquanto pergunta:
- E aí, papi, tudo bem?
Respondo, com a voz um pouco embargada, em tom de chantagem emocional:
- Ju, estou com um pouco de depressão.
- O que aconteceu? – quer saber, preocupada.
- Estava arrumando o quartinho, aquele que uso como sala de estudo e, você sabe, lá tem um espelho que fica no chão, praticamente escondido. Fazendo a limpeza, tive que ficar olhando muito tempo para ele.
- E daí?
- Daí que observei como sou feio, como estou acabado.
- Que é isso, papi! Você não é feio. Feio é seu irmão.
- Suas palavras não valem, filha, pois você me enxerga com o coração. Para ele, posso até ser bonito, mas para os olhos de qualquer um outro sou bem feio.
E completei:
- Acho que os homens não se preocupam muito com a beleza porque não têm o hábito de se olharem tanto no espelho. Agora entendo porque as mulheres se preocupam com a beleza. É por causa do espelho.
- Papi...
- Dizem que toda pessoa tem um lado bonito. Sendo assim, estou me achando um círculo. Talvez seja por causa de minha feiura que outro dia, ao mandar meu retrato por e-mail, o computador detectou como vírus!
Dias depois, papi, na verdade Loprefâncio Caparros, estava comentando com Fridolino Xexeo a conversa que tivera com a filha. Fridolino, sempre otimista, aconselhou:
- Para curar seu complexo de feiura, acho bom você ir trabalhar num instituto para cegos.
- Por que me aconselha fazer isso?
- Acho que lá você poderá melhorar sua autoestima. Se Saint-Exupéry estiver certo, de que só se vê bem com o coração, as pessoas de lá irão enxergar sua beleza interior.
-Ah, deixa de bobagem.
- Não é bobagem, não. Você conhece aquele personagem do Millôr Fernandes, o Parco de Alcântara?
- Sim, eu me lembro de ter lido essa fábula, “A Aventura”.
- Está lembrando de como ele era feio? Disse Millôr: “Nasceu baixo e nasceu feio. Cresceu feio e baixo. À proporção que os anos passavam tornava-se mais baixo e mais feio... Com o tempo ficou, além de feio, calvo. Além de calvo, míope, teve que usar óculos grossos, feios. E sobreveio-lhe uma anemia que lhe amarelava a pele, tornando-o, se possível, ainda mais feio”.
- Coitado, esse aí dá dó. Certamente não conseguia nada com as mulheres.
- Ele bem que tentou um ou outro caso sentimental, procurando naturalmente mulheres baixas e feias, mas nada conseguiu. Era demasiado baixo e feio.
- Até que lhe apareceu uma jovem e linda – falou Loprefâncio.
- Parco andava por uma rua deserta, tarde da noite (por causa do complexo, só se arriscava a andar por ruas onde não havia ninguém). De uma janela do segundo andar de um prédio, essa mulher o chamou. Depois de se certificar que o chamado era para ele mesmo, sem esperar o elevador, subiu as escadas esbaforido, imaginando coisas. Basicamente pensava que gente grã-fina tinha comportamento estranho, que finalmente ia “chover na sua horta”. Quando chegou ao segundo andar, a jovem, linda, o pegou pela mão, enquanto dizia: “O senhor é um anjo”. E o levou até o quarto de dormir.
- Acho que você está de sacanagem com o Millôr - interrompeu Loprefâncio. – Desse jeito, ninguém mais vai comprar o livro. Você está contando tudo.
- Bobagem, isso é apenas o resumo de uma das histórias. Estou é fazendo propaganda.
- Já que é assim, conta o desfecho.
- Chegando ao quarto de dormir, Parco viu uma menina de uns dois ou três anos deitada na cama, com os olhos vermelhos de chorar. Encolheu-se de terror ao ver Parco de Alcântara e ainda mais quando a linda senhora disse: “Está vendo? Mamãe não disse? Se você não parar de chorar imediatamente o Papão vai lhe comer”.  E Millôr concluiu a fábula, dizendo: “Quem ama o feio tem algum outro objetivo”.
- Está certo, existem casos piores do que o meu. Mas não estou vendo a relação desta fábula com a sugestão de ir trabalhar num instituto para cegos.
- O que Millôr não contou é que, depois do acontecido, Parco de Alcântara caiu em profunda depressão. Foi salvo quando o padre de sua paróquia lhe arrumou emprego num instituto para cegos. Já na primeira semana, sua autoestima deu acentuados sinais de melhora. Hoje, ele até se arrisca a andar pelas ruas do bairro em horários movimentados. Sua palidez diminuiu, e é possível perceber um brilho em seus olhos por trás das grossas lentes dos óculos.
- Será que ele conseguiu um relacionamento afetivo lá no instituto?
- Não sei, pode ser – falou Fridolino, coçando a cabeça. – Eu me perco entre citações contraditórias:  o essencial é invisível aos olhos; - só se vê bem com o coração; - o que os olhos não veem, o coração não sente; - quem ama o feio, bonito lhe parece e/ou quem ama o feio é porque o bonito não lhe aparece; - o amor é cego. – E conclui: - Meu medo é uma das meninas pretendentes tocar o rosto de Parco com as mãos. Aí, dana tudo. Você sabe: mais do que o brasileiro, é com as mãos que o cego enxerga.
Etelvaldo Vieira de Melo