PRENÚNCIO

A forma confessional do Diário (lat. diarium), subgênero da autobiografia, constitui uma técnica discursiva universal. Frédéric Amiel, Fiódor Dostoiévski, Franz Kafka, Susan Sontag, Sylvia Plath, apresentaram ao público reflexões documentais de profunda índole íntima. Anne Frank, escondida atrás das paredes de uma estante, durante o holocausto, anota cada dia de angústia e incerteza da sua família judia. Certamente, entre momentos de solidão e horror, escuta calma Santa Teresinha De Ávila sussurrar-lhe: “Nada te perturbe, nada te amedronte.”. Daí o equilíbrio harmonioso da menina adolescente, depois, ante a imagem da própria morte nos fornos nazistas.
Acompanhando esses famosos escritores, meu afilhado Edu ar do sol conduz subjetiva e espontaneamente o fio da contextura escritural até o lugar invisível do eu/nós/ voz, onde se movimenta a psique particular e social. Em consonância com tais autores, realiza o primoroso encontro das relações interpessoais com a filha-flor Ana Clara, na idade das flores e na flor da idade. A correnteza da vida, somada ao ambiente espiritual chiaroscuro, aflora-lhe na obra. O pai sempre presente rompe as malhas e muralhas do silêncio, criando uma espécie de vitral barroco, sugestivo cenário de datas-relíquia. Céu e terra se confundem na argumentação caudalosa de palavras, letras, retratos, desenhos, fitas, cartas, lembranças, memorialismo, elementos naturais do jornal cotidiano em questão. No caso, o narrador se confunde com a própria adolescente Ana Clara, contando sua histórica estória, desde o pré-nascimento até a viagem de debut aos Estados Unidos.
Admirável compositor, o sobrinho ficcionaliza uma vida fruída em experiência de liberdade na clausura carmelita. Passeios a Vespasiano ou ao infinito cosmo, junto à jovem protagonista das Mil e uma noites (e dias) de aventura, tornam-se, afinal, o enigma de reunião de duas pessoas e almas separadas pelas circunstâncias da existência.
Endereço ao blog a mensagem que enviei ao meu Dudu, por um livro que em breve sairá do prelo e possivelmente será remetido às livrarias. Trata-se de uma obra-prima na elaboração da escrita e estética textual. Por isso, leitor, melhor deixar calar tudo o que a musa antiga canta, pois outro valor mais alto se alevanta.
Graça Rios

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