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Entre outras coisas, uma coisa que ando pensando ultimamente é a
dificuldade enfrentada pelo governo recém-empossado em colocar ordem nesse
bagunçado país que é o Brasil. Bagunçado e coberto de lama. Todos sabem que
ele, governo, se elegeu em nome da moralidade (que se tornou, depois,
“morolidade”), da família (a dele, especialmente – vimos isso também depois),
dos bons costumes, da propriedade, de Deus e da tradição. O mote da campanha
não foi “a família acima de todos, Deus acima de tudo”?
Pois bem, ele já repetiu mais de mil vezes que seu propósito primordial
é combater a ideologia de gênero e o marxismo cultural. Para tanto, estipulou
através da pastora Damares Alves, ministra da Mulher, Família e Direitos
Humanos, que as mulheres devem se vestir de rosa, enquanto que os homens se
vestem de azul. E isso ficou bem claro, até para os atleticanos, que odeiam
azul.
Com o propósito (renovado quando da passagem de ano) de fazer caminhada
três vezes por semana, fui hoje até uma avenida perto de casa, que
disponibiliza pista para tal fim. Quis ver, concomitantemente, se os preceitos
governamentais estavam sendo cumpridos, especialmente no quesito da vestimenta.
O que anotei foi decepcionante. Entre os homens, vi somente dois com
camisetas azuis, assim mesmo por serem de um time de futebol, o Cruzeiro. Os
tons, em geral, eram cinzas, escuros, sombrios. Havia um caminheiro com camisa
amarela da seleção, o que considerei bom, já que o amarelo simboliza patriotismo.
No entanto, o rapaz estava de bermuda VERMELHA, o que é uma aberração. Não sabe
ele que vermelho simboliza o que há de mais insidioso, perverso, mau, diabólico
– o petismo e o comunismo ateu? Não sabe ele que é propósito dos novos
dirigentes banir do país esse símbolo de maldade?
Um outro caminhante, que me pareceu um baixinho invocado – não sei se
por causa dos óculos grandes ou da camiseta e da bermuda largas – tinha na
camiseta branca escritos estes dizeres: “XXI Festa Sob Pés de Mangueiras”.
Julguei interessante a ideia, deixo aqui a sugestão para o governo baixar um
decreto instituindo a “I Festa Sob Pés de Goiabeiras”. Apesar de propagar uma
boa ideia, devo dizer que o baixinho invocado também estava de boné e bermuda
vermelhos!
Aliás, havia muito vermelho, tanto nas vestimentas masculinas como nas
femininas. O que me leva a sugerir ao governo baixar outro decreto, proibindo
de vez a confecção de roupas nessa cor.
Quanto às mulheres caminheiras, as cores eram “variegadas” (uma palavra
que eu nunca tinha tido a oportunidade de transcrever): azuis, brancas,
vermelhas, lilases, verdes, e por aí vai. A cor mais próxima do rosa era
laranja. Só vi uma moça de blusa rosa. O inconveniente era sua calça collant,
muito justa, que poderia despertar pensamentos libidinosos nos homens e, por
via de consequência, abalar as estruturas da família, da tradição e da
propriedade.
Ao final da caminhada (quatro voltas completas, perfazendo quarenta
minutos), fui até uma padaria que ficava na mesma avenida.
A atendente, ao me ver de camisa amarela, comentou:
- Você está com uma bela camisa.
- Por falar em camisa bonita – retruquei -, estive observando ali na
pista de caminhada que ninguém anda seguindo as normas legais.
- Como assim? – quis saber as moça.
- Ora, não é para os homens se vestirem de azul e as mulheres de rosa?
- Por mim, cada um se veste da maneira que quiser – falou a menina, em
tom ofendido. – E concluiu: - Ora essa!
- Ora essa! – pensei eu com meus botões. – Cada vez mais me convenço
como vai ser difícil extirpar de vez essa tal de ideologia de gênero e esse
marxismo cultural tão arraigados na população deste país!
Etelvaldo Vieira de Melo
1 comentários:
Ora essa! Cadê os direitos humanos?
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