Regularmente uma vez por mês, nas manhãs de domingo, a campainha lá de
casa toca. Pelo interfone, vejo que é alguém recolhendo donativos para a
chamada “Campanha do Quilo”, iniciativa de associações espíritas que visa
arrecadar alimentos para pessoas famintas e marginalizadas. Geralmente é um
senhor – alto, usando óculos, de cabelos brancos e ascendência oriental – quem
toca a campainha. Esses dois detalhes, ser alto e de ascendência oriental,
chamam minha atenção. Dificilmente vejo um asiático alto; depois, penso que
espiritismo kardecista não tem muito a ver com a cultura de lá.
Deixando de lado essas suposições, devo dizer que nem sempre atendo as
chamadas. Muitas vezes, falta um macarrão ou coisa que o valha; outras vezes,
sou tirado da cama e fico com preguiça de trocar o pijama e atender ao portão.
Quando isso acontece, peço ao nosso cão, Thor, para avisar, através de latidos,
que não tem gente em casa. Com aperto no coração, vejo pelo interfone o senhor
caminhar para outra residência, com um embornal ao ombro.
Tempos atrás compartilhava a ideia de que “é preciso ensinar a pescar,
em vez de dar o peixe”, ou seja, o assistencialismo não é um bom negócio, mais
prejudica que ajuda. Hoje penso um pouco diferente, sei que não adianta dar a
vara de pescar para pessoas para quem nem existe rio (e muito menos peixe), tal
sua situação de miséria.
Tomado de compaixão dalailamática, aprendi a admirar os espíritas, eles
que ajudam os mais necessitados sem a hipocrisia daqueles que só se lembram dos
pobres por ocasião do Natal.
Geralmente, assim que faço a entrega da doação, recebo uma mensagem
impressa, quase sempre de autoria de Francisco Cândido Xavier. A última se
chama “Legenda” e diz assim:
Se nós pudéssemos
colocar uma legenda na frente de cada conjunto residencial, de cada cidade, de
cada aldeia, de cada metrópole, de cada grande capital do progresso humano, se
nós pudéssemos e tivéssemos bastante autoridade para isso, escolheríamos aquela
frase de Nosso Senhor Jesus Cristo, quando Ele nos disse:
“Amai-vos uns aos
outros, como Eu vos amei”.
Como o Brasil está se tornando um país assumidamente religioso ((“Brasil
acima de tudo, Deus acima de todos”; “Brasil e Estados Unidos acima de tudo,
Brasil e Es... acima de todos” – em novíssima versão), mesmo renegando o preceito do 5º
mandamento (“Não Matar”), penso que seria interessante fixar legendas com
preceitos bíblicos nas fachadas de instituições espalhadas pelo país. Desse
modo, teríamos faixas dizendo assim:
Nas entradas das igrejas e dos templos: “Não amemos de palavras nem de
boca, mas por ações e em verdade” (1 João 3:18).
Nós pórticos das agências
bancárias:
“Conservem-se livres do amor ao dinheiro e contentem-se com o que vocês têm” (Hebreus
13:5-6).
Nas Escolas: “A sabedoria
deve ser prioridade em sua vida” (Provérbios 2), mas lembre-se: “A doçura no
falar aumenta o saber” (Provérbios 16:23).
Nos tribunais de Justiça: “Quem semeia a
injustiça colherá a desgraça” (Provérbios 22:8).
No Palácio do Planalto: “Seja forte e
corajoso! Mãos ao trabalho! Não tenha medo nem desanime” (1 Crônicas 28:20).
Na fachada do Congresso Nacional: “Mas ponham à
prova todas as coisas e fiquem com o que é bom. Afastem-se de toda forma de
mal” (1 Tessalonicenses 5:21-22).
No Supremo Tribunal Federal: “Por que estão
dormindo?” (Lucas 22:46).
Nas casas dos brasileiros: “Deus não é como
eu penso. Ele é Amor” (1 João 4:8).
Etelvaldo Vieira de
Melo
1 comentários:
Pura verdade cronista!
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