QUE COISA!

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Loprefâncio Caparros, por causa de sua lerdeza, seu retardo mental, e que ele prefere chamar de PFC (Prolapso de Fim de Curso), deixou muita coisa importante passar despercebida ao longo de sua estrada da vida. Foi isso que ele pensou frente a dois fatos recentes.
O primeiro se deu por ocasião do velório e do enterro de Dosalina Bubina, esposa de Madurinho Cruz. A certa altura, ele foi apresentado a um sujeito que atendia pela alcunha de Manoel Português. Estabelecendo conversa, quase sem levar em conta a presença da defunta, Manoel, com a voz esganiçada e com sotaque de gente do interior, carregando os erres, foi logo dizendo:
- Pois a gente se conhece.
- Eu não me lembro de sua senhoria – falou Loprefâncio.
- A gente se conhece de infância. Não está lembrado da ocasião em que a gente jogava bola? Quando dei um dibre nocê, ocê veio e me deu um chute na canela.
- Tá de brincadeira.
- Não! Quando falei procê num fazê aquilo, ocê veio e me deu uma cuspada na cara. Ocê era ruim.
E Manoel prosseguiu:
- Quando falei pro seu pai, ele deu uma reiada nas suas costas. Eu sei cocê tem essas marca até hoje.
As pessoas em volta pediram para que Loprefâncio mostrasse as marcas das relhadas.
Ele, rindo de satisfação, disse, tentando aparentar seriedade e modéstia:
- Este é um dos maiores traumas de minha infância. Tenho vergonha dessas marcas, que não mostro pra ninguém.
A conversa entre Loprefâncio e Manoel prosseguiu, os dois dando boas risadas. Até se darem conta de que a defunta podia não estar gostando (“Ocês vieram aqui pra me velar ou para conversar fiado? Onde está o respeito?”).
O outro fato se deu quando da missa de sétimo dia de um colega e amigo de adolescência.
Um outro colega documentava a cerimônia, gravando vídeos e tirando fotos com seu aparelho celular. Quando a cerimônia chegou ao fim, ele se aproximou de Loprefâncio, dizendo:
- Não sei se falo ou deixo de falar pra você uma coisa.
- Pode falar sem susto – disse Loprefâncio.
- É algo pra daqui a seis meses, lá pra janeiro do ano que vem. Falo ou não falo?
- Fala logo, que você está me deixando agoniado.
- Então, vou falar. Eu quero tirar uma foto sua.
- Ah, é isso! Ora, isso pode. É só caprichar no foto shop.
E o colega tirou a foto de Loprefâncio, que, por causa do ambiente solene, esboçou só um meio-sorriso.
Depois, o fotógrafo comentou:
- A foto é a pedido de alguém. Você precisa ficar sabendo: tem gente que gosta muito de você.
Loprefâncio olhou de relance para os presentes da igreja, quase todos seus colegas de adolescência. Quem seria o autor do pedido? Pode ser que o fotógrafo estivesse fazendo uma brincadeira, falando aquilo para todos da turma. Pode ser que havia alguém que queria mesmo sua foto para promover alguma coisa em janeiro. Mas quem e o quê?
Loprefâncio lembrou os tempos de infância, quando parques de diversão se instalavam na cidade. Entre as atrações, havia o serviço de alto-falante, onde pessoas ofereciam músicas:
- Esta música alguém oferece para alguém, que sabe quem, como prova de muito amor e carinho.
Loprefâncio olha despistado para os presentes. Quem é que pediu para tirar uma foto sua? Como pode ser qualquer um que está na igreja, ele sai dali cumprimentando todo mundo, igual político em véspera de eleição, pegando na mão de cada um. Entre eles vai estar seu “amigo secreto”.
Os dois fatos acima reforçam a necessidade que Loprefâncio sente de ter de fazer com urgência uma terapia de regressão com sua sobrinha, a psicóloga Dri. Se hoje ele tem assentada a convicção de que sempre foi um “bundão”, um medroso e um otário, a conversa com Manoel Português mostra que, pelo menos na infância, ele era “marvado”. Depois, na adolescência, ele conseguiu despertar sentimentos de carinho e amizade que perduram até hoje. Tanta coisa boa vem numa hora em que sua autoestima anda lá embaixo, ele achando que ninguém gosta dele, nem seus amigos internautas curtem suas postagens e comentários. Daí, o sentimento de alegria incontida, mesmo diante daqueles momentos de tristeza e de dor.
Etelvaldo Vieira de Melo

CRÍTICA CINEMATOGRÁFICA

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Imagem: You Tube
Belerofonte, figura mitológica grega, representa a desmesura nos atos. Mata o próprio irmão Belero involuntariamente, sendo, por isso, considerado impuro. Júpiter o condena a lutar contra a Quimera, a fim de ser trucidado. Adormecido ante o pórtico de sua deusa Atena, aí espera longamente pelos instrumentos de purificação. Então, montado no Pégaso, derrota o monstro.
Numa passagem do filme de Ingmar Bergman, Morangos Silvestres, 1957, entre onirismo, falas filosóficas, alternância de tempos/modos narrativos, Victor Sjöström confronta suas passadas escolhas. Em viagem com a nora, a fim de receber um prêmio médico, adota a solidão voluntária como punição por sua antiga ‘culpa’ (frieza, egoísmo, ausência de compaixão).
Façamos, a partir do introito, análise do filme O Insulto, direção de Ziad Doueiri, Beirute/Oriente Médio. Tony Hanna (Adel Karam), cristão libanês, costuma regar as plantas da varanda, negando-se a instalar ali uma calha. Certo dia, acidentalmente, molha Yasser Abdallah Salameh (Kamel El Basha), um engenheiro, mestre de obras, refugiado palestino. Humilham-se, e o segundo decide consertar o objeto por sua conta, atitude negada pelo opositor. Sucede um intenso desacordo, que progride em julgamento. Ampla cobertura midiática transforma o fato em conflito nacional.
No caso, nenhum dos personagens se coloca aos pés da deusa ou almeja refletir. Os dois precipitam-se logo no bate-barba cristão versus palestino, malgrado as relembranças da terra natal e abusos na época. Por uma questão cotidiana, tola, envolvem-se com o imediatismo preconceituoso, incitando grande tumulto geral. O palestino, contido, perde o trabalho e a segurança. Sabe-se que ele é um ser arquetípico, não possuidor da terra. O libanês, por sua dureza e vontade, exagera o ódio racial, visando a destruí-lo.
Passemos ao julgamento. O Insulto seria considerado um filme de tribunal. O pai Nadine (Diamand Bou Abboud), e a filha Wajdi (Camille Salameh), apresentam argumentos capciosos, disputando o poder de arguição. Ele, a favor de Yasser; ela, de Tony. Pares/ parentes, simbolizam também o insidioso fraudulento contra a perspicácia feminina. Tal audiência não é factual, colocando em pauta a dificuldade no ato de julgar. Ainda que haja uma decisão judicial, não existe The End ganhador nem perdedor. A própria idiossincrasia humana explode dentro de um convívio social pluralista em território hoje conturbado. Felizmente, o aceno e sorriso de um para outro, após o dilema, permite uma esperança de paz ao espectador.
Mais algumas intervenções pessoais. Na realidade, a defesa de território político-social é uma ilusão. Acaso Moisés tomou posse de toda a terra de Canaã até os montes Líbanos, no Norte, e até o grande rio Eufrates, no Leste, conforme previa? Flaubert discute a matéria, durante a inútil liberdade sexual de Emma Bovary no século XIX, hostil à sua independência. A história, lógico, termina em suicídio. Vem Freud com a pergunta: O que quer uma mulher? - enquanto Santo Agostinho afirma: Nossa Pátria é a cidade de Deus. Sartre, existencialista, argumenta: Cada um de nós é somente um projeto quando se projeta. Note-se, digo eu, que o fim da Segunda Guerra Mundial de Hitler encetou sonhos frustrados, falta de retorno às origens, miséria, ou seja, termo da arrogância dos belos jovens combatentes de ambos os lados.
Ultimando, O Pássaro Pintado, excelente livro de Jerzy Kosinski, baseia-se nas memórias do próprio autor. Fala das deambulações de uma criança deixada ao cuidado alheio durante a Guerra, numa aldeia recôndita da Polônia. A velha responsável morre, e o rapaz se vê sozinho no frio, sem abrigo ou alimento. Sucessivamente marginalizado pela tez morena entre modelares aldeões louros de olhos azuis, recebe atos de agressividade perversa. Entretanto, campeia seu lugar e aceitação no mundo, mesmo rejeitando o convívio familiar. Torna-se, a cada sofrimento, mais forte ante a adversidade.
Conclui-se deste texto que é na base da realidade que temos raízes: não no excesso e na aspereza de caráter.
    Graça Rios/19


TEM CENOURA?

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Imagem: asmetro.org.br
Que, em pleno 23019, o Brasil parece andar para trás, isso parece. Se você é o tipo de pessoa que precisa ver para crer, mas que anda com a vista meio turva, tomada de astigmatismo, daltonismo, hipermetropia, miopia, estrabismo e presbiopia, vivendo num mundo de fantasia, sem enxergar um palmo à frente do nariz, preste atenção no relato abaixo e veja se aprende alguma coisa.
Não sei o que anda acontecendo com a indústria farmacêutica, não sei se o programa “Farmácia Popular” está falindo, não sei se os empresários do ramo querem aumento de preços, o que sei é que você não está mais encontrando medicamentos básicos, de uso contínuo. Parodiando um texto humorístico, vamos imaginar uma situação surreal. Ei-la:
O idoso entra na farmácia e pede um Diltiazem 60.
- Não vendemos Diltiazem 60 – responde o farmacêutico. – Procure o quitandeiro mais adiante.
No dia seguinte, o idoso volta, pedindo:
- Tem Diltiazem 60?
- Isso é uma farmácia – diz o farmacêutico, irritado. – Vá à mercearia.
No outro dia, o idoso volta:
- Tem Diltiazem 60? – pergunta.
- Já disse que não! – berra o farmacêutico. Não vendemos Diltiazem 60! Se me perguntar de novo, vou pegar uma corda, amarrar você e entregá-lo ao açougueiro aqui ao lado!
No dia seguinte, o idoso volta, olha bem no olho do farmacêutico e pergunta:
- Tem cordas?
- Não! – diz o farmacêutico, intrigado.
- Bem, então – diz o idoso – tem Diltiazem 60?
Nota: para restaurar o humorístico, substitua “idoso” por “coelho”, “farmácia” por “lavanderia a seco”, “Diltiazem 60” por “cenoura” e “farmacêutico” por “dono”.
O texto, no seu formato original, foi apresentado por Jules Higman, Inglaterra, na revista “Rir é o Melhor Remédio”, Seleções Reader’s Digest. A adaptação remete a uma situação absurda, uma farmácia que não vende medicamentos. No entanto, a realidade está assim mesmo, como veremos.
O idoso rodou por várias drogarias em busca de seu medicamento para pressão, Diltiazem 60mg, e do colírio para glaucoma, Timolol 0,5%. Em todas elas, a resposta era a mesma: - Esses medicamentos estão em falta. Desiludido e preocupado, voltou para casa com o “rabo entre as pernas”. Pelas ruas, nos passeios e sob marquises, foi encontrando mendigos, todos pedindo alguma ajuda.
Durante o trajeto de ônibus, foi pensando uma estratégia para driblar a falta dos medicamentos que tinha que tomar diariamente. Em primeiro lugar, anotou que precisava se afastar das redes sociais, certamente umas das principais responsáveis por ser ele um hipertenso. (Antes, porém, achou que devia dar uma “twittada” pro presidente, reclamar da falta de medicamentos em nossa pátria amada. Iria fazer isso sem muita esperança de ser bem sucedido, pois sabia que o presidente andava preocupado mesmo era em conseguir emprego de embaixador nos Estados Unidos para o filho 03, aquele que sabe fritar hambúrguer.) Em segundo lugar, achou por bem que deveria procurar o Centro Espírita do bairro onde mora, pedir a um médium para incorporar o Dr. Fritz ou algum outro médico desencarnado. O que o idoso pretende é fazer uma consulta, com direito a medicamentos espirituais.
A propósito desse tema, estou sabendo que o presidente está pensando em reconvidar os cubanos para o programa “Mais Médicos”. Acho que ele deve repensar bem sobre isso, consultando seu guru astrólogo, pois a pátria amada não pode correr o risco de ser conspurcada por vermelhos comunistas. Uma solução mais simples, inspirada na história do idoso em busca de seu Diltiazem 60: Por que não aproveitar os Centros Espíritas para implementar as consultas, as cirurgias e as medicações espirituais? Com isso, estaríamos abolindo os postos do SUS e as Farmácias Populares, uma economia substancial que poderia ser revertida para os rombos dos privilégios  (quem? quem?) mantidos na reforma da Previdência. Os espíritas também irão gostar da ideia, pois estarão praticando a caridade.
Quem não irá gostar certamente será o segmento evangélico. Diante das caras torcidas dos bispos, pastores e irmãos, o senhor presidente poderá dar mais uma twittada, lembrando aos seus diletos apoiadores a passagem evangélica, onde Jesus diz que veio para curar os doentes, e não os sãos: “os sãos não necessitam de médico, mas, sim, os que estão doentes”. Ao recorrer aos espíritas, ele estará tão somente atendendo a tal preceito bíblico.
Com base na notícia: “Ministério da Saúde suspende contratos para fabricar 19 remédios de distribuição gratuita”. (UOL Notícias, 16/07/2019)
Etelvaldo Vieira de Melo 

A M O R

                                                           A MO R                                 Graça Rios/19
Teci um ninho
pleno de penas
do que ontem fui
do que hoje sou.
                                                           Aí, ouvi
            o gorjeio menino
                                      - tão pequenino! -
             do gigante Davi:                       
     
         - Bem te vi! Bem te vi!
Sob as asas
deste senhor
leves canarinhas
plumas pousou.
                                                         E então? E então...
O que era doce
não se acabou,
pois o netinho
ao passarinho
(ave avozinho)
cobriu de amor
                                                                                 cor
                                                                                               flor
                                                                                                               vigor
                         calor                                                                                                                                                                                                                                                                                                                      valor

                                                                       música                             FELICIDADE
conforto        
                                   estrela
união                                                                                                      
                                                      saber                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                 ideia                                                     paz     
                    

BISCOITO ENVENENADO

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Um comercial antigo de determinado biscoito perguntava: Vende muito porque é fresquinho, ou é fresquinho porque vende muito?”.
Tal pergunta induzia o leitor/espectador a consumir o dito biscoito. Por uma razão ou por outra, ele permanecia fresquinho, o que importava em última análise.
Está claro que tal comercial era do tempo em que não havia obrigatoriedade da data de validade ser estampada na embalagem do produto.
A modernidade nos traz esse tipo de compensação, a dos produtos de consumo serem fiscalizados. Aí, não há tanto o perigo de se levar gato por lebre. No entanto, outras ameaças rondam o consumidor moderno. Se o risco de adulteração de prazo de validade é pequeno, as preferências para este ou aquele podem ser forjadas ou manipuladas.
Quando você visualiza na contracapa de um livro que ele já ultrapassou a cifra de milhões de cópias vendidas, para não ser do contra, talvez seja induzido a se somar a esse mundaréu de leitores. Mas quem garante que aqueles números expressam a verdade?
Nos tempos de antigamente, do biscoito fresquinho que vendia muito, Jô Soares já chamava a atenção para os riscos da publicidade. Dizia ele: “Se a propaganda é a alma do negócio, espero que qualquer negócio não seja a alma da propaganda”. Tal fala aparece ingênua no mundo de hoje. Naqueles tempos, as abordagens de venda eram limitadas, passavam longe da manipulação direta que vivenciamos nos tempos presentes.
A verdade é que estamos sendo manipulados, perdendo a liberdade de escolha e de decisão, estamos sendo rastreados e avaliados constantemente, graças a um aparelhozinho que nos acompanha aonde vamos, o smartphone. Através dele (das redes sociais que acessamos), estamos sendo hipnotizados pouco a pouco por técnicos que não podemos ver e para propósitos que não conhecemos.
É preciso que você fique sabendo disso: em algum lugar, seus dados estão sendo processados a cada segundo. Eles estão sendo usados com propósitos que você não tem controle e até desconhece.
O Admirável Mundo Novo é essa distopia que supera em horror os mais tenebrosos prognósticos de ficção científica. Por trás de tudo está o “Grande Irmão” (agora chamado "Bummer": Máquina de Fazer Cabeças) controlando as redes sociais. Ele tem um deus, chamado dinheiro, lucro, poder, ao qual se vende. Por isso, ele não é de direita ou de esquerda, de cima ou de baixo. Ele simplesmente se vende a quem dá mais. E você sabe quem acaba dando mais: os maus, os corruptores, os bandidos, os exploradores, os gananciosos, os sem escrúpulos. São esses, em última análise, que estão tomando conta de sua vida.
Confesso que comecei a me preocupar com esse assunto de uns tempos para cá, notando como as pessoas (e eu mesmo) estavam se tornando agressivas, sectárias, rancorosas, fechadas ao diálogo. Tudo isso é muito visível através das redes sociais. Sabe aquele antigo seriado de TV chamado “O Incrível Hulk”? Um pacato cidadão, quando fica nervoso, sofre uma mutação e se transforma em um monstro incontrolável. Assim está acontecendo com a gente: as redes sociais parecem nossa dose diária de veneno.
Jaron Lanier, em ‘Dez Argumentos Para Você Deletar Suas Redes Sociais’, e que me motivou muito a escrever este texto, lembra: “De acordo com uma reportagem do The New York Times, o preço médio no Twitter no início de 2018 era de 225 dólares pelos primeiros 25 mil seguidores falsos”. O que isso quer dizer? Que tais redes estão assentadas sobre bases falsas, sendo elas mesmas as verdadeiras fake News.
Jaron adianta sua reflexão: ”Talvez você pense que nunca interagiu com pessoas falsas na Internet, mas certamente isso aconteceu, e muitas vezes. Você decidiu comprar alguma coisa porque havia um monte de críticas positivas, mas muitos desses comentários eram de pessoas falsas. Outro exemplo: você viu um vídeo ou leu uma matéria porque muitas outras pessoas haviam feito o mesmo, mas a maioria delas era falsa”.
Uma de suas conclusões: com o smartphone, você está se tornando um cachorro adestrado, um rato de laboratório ou um robô.
Se você se sente incomodado por ter sua vida monitorada, suas leituras e preferências dirigidas; se anda cultivando sentimentos de raiva, intolerância, animosidade, vontade de soltar palavrão e agredir pessoas, talvez esteja na hora de dar um basta e se afastar das redes sociais. Nem que seja por algum tempo. Pense nisso.
Etelvaldo Vieira de Melo

CARTUM DO FUTEBOLÊS

Não é preferivel jogar diante do adversário (como dizem os narradores do rádio) em vez de enfrentá-lo?!
Ivani Cunha

POESITANDO

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Fermosa poesia.
Solicitas de nós, humanidade. Vamos per caminho claro/escuro, revisitando dicionários, somando arte/engenho.
Polifonia textual/variação/semiose, és possibilidade/impossível sob perspectiva analítica. Aonde anda a onda/aonde andas, profusão de algas/águas/mágoas/sóis?                                            
Confabulas vocábulos, dobrando desdobrância/neologismo/arcaísmo/sintagma/enigma.
Maneirista, vais voando/vagando/violando pela expansão espaciotemporal. Buscas rastros de torturados em meio ao ufanismo poderoso.
Metáforas/sinonímias/ambiguidades misturam-se à interação com ilogicismo/mistério/existência. És enunciado/enunciação pesada/leve mel, leite, flor.
Tua compreensão/horror aos pobres/ricos tece íntima relação sintonia/arrelia. Escreves a um sabor/cor que nem a flor criadora/artista percebe. Deixas rasas/asas/luvas lutando com palavras enquanto te ausentas para o jardim.
Sobretudo, surges lúdica/verbal/volúpia. Vais de penar em penar devagar a vagar por aí.
Lida/lidas sob ângulos/prismas/triângulos, debruçada sobre alhures questionamentos que te expõem à função também questionadora.
Graça Rios

ONDE SE VEEM PEGADAS

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Toda mulher é uma saudade de pedra
neste universo de cordas.
Hoje, sobrevivente de mim mesma,
calço a dualidade de eu para mim.

A memória de luxo
prêt à porter
traz conceitos esdrúxulos,
sentidos esdrúxulos.

De tanto ser,
nunca terminei ridículas cartas
de paus que me surraram e depois,

- “Olhe o presente! Olhe o passarinho!”.

Dou para uma rua sem rumo,
dando costas para inúteis pensamentos.
Graça Rios

POR QUE PRECISO DESABAFAR


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Uso este espaço blogosférico (que, aparentemente, me é oferecido de graça) para atender a três propósitos:
1º) Exercitar e divulgar o bom humor, seguindo a máxima de que “devemos levar a vida com leveza e bom humor”;
2º) Exercitar a reflexão, seguindo a recomendação de outra máxima que diz: “A vida sem reflexão não merece ser vivida”;
3º) Exercitar a indignação, seguindo orientação médica, depois de ter infartado, de que “não devemos levar desaforo para casa”.
O presente texto atende ao terceiro propósito. Ei-lo:
Não tenho simpatia para com muitas figuras públicas do país. Fernando Henrique Cardoso, FHC, é uma delas.
Tudo começou durante a época da Ditadura Militar, quando, procurando me informar sobre o que andava acontecendo, ia em busca de leituras alternativas, entre elas, as do jornal chamado “Movimento” (ironicamente, tal nome foi usado, anos depois, por um ministro do STF, Dias Toffoli, tomado de pudores, para nomear aquele período de repressão).
Lendo o “Movimento”, eu me inteirava das coisas, apagando um pouco o estado de alienação. Até esbarrar nos textos de FHC, um de seus articulistas. Aí, minha cabeça entrava em parafuso, e eu passava a não entender mais nada. Seus textos me pareciam demasiadamente rebuscados, empolados, confusos. Conclusão: continuei um indivíduo alienado, graças a FHC, apesar do esforço de conscientização.
Anos depois, sem fazer muito esforço, agora ele, surfando na onda do “Plano Real”, elegeu-se presidente da república. O segundo mandato ele comprou (certamente com dinheiro público, já que é tido como “pão-duro”). Mas isso não vem ao caso. Como não vem ao caso a onda de privatização que promoveu (foi aí que a Vale do Rio Doce passou para a iniciativa privada a preço de chuchu; anos depois, vimos como se tornou uma empresa cuidadora do meio ambiente, promovendo os desastres de Mariana e de Brumadinho).
- Privatizar é o que importa! – bradava José Serra, então ministro, serrando uns trocados para suas contas em paraísos fiscais (quem disse isso não fui eu, mas o autor do livro “Privataria Tucana”).
No governo de FHC, nada vinha ao caso, pois, se viesse, havia um procurador geral, Geraldo ‘Blindeiro’, para ‘engavetar’ qualquer tipo de contestação.
Tudo isso é História. Só espero que os historiadores futuros estejam livres do ranço tucano, falem o que é correto, colocando FHC no lugar merecido. Nos tempos presentes, vimos o ex-presidente se manifestar sobre Sérgio Moro e operadores da Lava Jato (fato que me motivou a escrever este texto de desabafo).
Em conversas pelo aplicativo Telegran, no dia 13 de abril de 2017, Moro havia questionado Dallagnol sobre a gravidade das suspeitas contra FHC (tornadas públicas pela LV, com o intuito de “passar o recado de imparcialidade”). Afirmou Moro não querer “melindrar alguém cujo apoio é importante”.
Quando esta conversa foi vazada pelo Intercept, FHC disse:
“É pecado venial, não é mortal” tais conversas paralelas entre um magistrado e procuradores."
Quando questionado se Moro deveria se afastar do Ministério da Justiça e Segurança Pública até o fim das investigações, esquivou-se, dizendo:
- Eu não sou um advogado. Como é que eu vou opinar nesta matéria?
Sobre tais fatos, são possíveis as seguintes considerações:
1ª) FHC se diz incompetente para avaliar se Sérgio Moro deve ser afastado do cargo de ministro, alegando não ser advogado.
2ª) No entanto, emite juízo de valor sobre as conversas paralelas entre magistrado e procuradores: “É pecado venial, não é mortal”.
3ª) Tal juízo é de cunho religioso, o que não faz muito sentido, sendo ele um ateu confesso.
4ª) Ao dar um pitaco sobre a dimensão de um pecado, como se ele fosse um teólogo, dizendo que se trata de pecado venial, faz um juízo passível de excomunhão. Quando um juiz pode se envolver em conversas promíscuas com a parte acusatória, trocar confidências, influenciando e induzindo o processo? Isso é ILEGAL, um juiz instruir a acusação e, depois, julgar.
Tal atitude é condenada em qualquer país civilizado do mundo. No entanto, isso é feito aqui no Brasil entre Moro e a Lava Jato, dentro da máxima de que “os fins justificam os meios”. E FHC, um sociólogo, cheio de saberes e títulos honoríficos, endossa tal prática, classificada de culpa leve, justificável, mostrando que não tem apreço pelo Direito e pela Justiça. Mais que lamentável, tal atitude é deprimente.
5ª) Pode ser que FHC, preocupado com o próprio umbigo, queira tão somente dizer: - Ao me envolverem, vocês o fizeram de forma leve, como se estivessem cometendo um pecado venial. Seria um pecado mortal se me incriminassem com uma acusação grave.
Dessa maneira, FHC está retribuindo a gentileza de Sérgio Moro, que não quis melindrá-lo e o tem na conta de alguém importante. No fundo e a bem da verdade, eles se merecem.
Etelvaldo Vieira de Melo

CABEÇA É PRA PENSAR

Veja a irretocável definição apresentada por experiente narrador de futebol de uma de nossas rádios.  
Ivani Cunha