Uso este espaço blogosférico
(que, aparentemente, me é oferecido de graça) para atender a três propósitos:
1º) Exercitar e divulgar o bom humor,
seguindo a máxima de que “devemos levar a vida com leveza e bom humor”;
2º) Exercitar a reflexão,
seguindo a recomendação de outra máxima que diz: “A vida sem reflexão não
merece ser vivida”;
3º) Exercitar a indignação,
seguindo orientação médica, depois de ter infartado, de que “não devemos levar
desaforo para casa”.
O presente texto atende ao
terceiro propósito. Ei-lo:
Não tenho simpatia para com muitas figuras públicas do país. Fernando
Henrique Cardoso, FHC, é uma delas.
Tudo começou durante a época da Ditadura Militar, quando, procurando me
informar sobre o que andava acontecendo, ia em busca de leituras alternativas,
entre elas, as do jornal chamado “Movimento” (ironicamente, tal nome foi usado,
anos depois, por um ministro do STF, Dias Toffoli, tomado de pudores, para
nomear aquele período de repressão).
Lendo o “Movimento”, eu me inteirava das coisas, apagando um pouco o
estado de alienação. Até esbarrar nos textos de FHC, um de seus articulistas.
Aí, minha cabeça entrava em parafuso, e eu passava a não entender mais nada.
Seus textos me pareciam demasiadamente rebuscados, empolados, confusos.
Conclusão: continuei um indivíduo alienado, graças a FHC, apesar do esforço de
conscientização.
Anos depois, sem fazer muito esforço, agora ele, surfando na onda do
“Plano Real”, elegeu-se presidente da república. O segundo mandato ele comprou
(certamente com dinheiro público, já que é tido como “pão-duro”). Mas isso não
vem ao caso. Como não vem ao caso a onda de privatização que promoveu (foi aí
que a Vale do Rio Doce passou para a iniciativa privada a preço de chuchu; anos
depois, vimos como se tornou uma empresa cuidadora do meio ambiente, promovendo
os desastres de Mariana e de Brumadinho).
- Privatizar é o que importa! – bradava José Serra, então ministro,
serrando uns trocados para suas contas em paraísos fiscais (quem disse isso não
fui eu, mas o autor do livro “Privataria Tucana”).
No governo de FHC, nada vinha ao caso, pois, se viesse, havia um
procurador geral, Geraldo ‘Blindeiro’, para ‘engavetar’ qualquer tipo de
contestação.
Tudo isso é História. Só espero que os historiadores futuros estejam
livres do ranço tucano, falem o que é correto, colocando FHC no lugar merecido.
Nos tempos presentes, vimos o ex-presidente se manifestar sobre Sérgio Moro e
operadores da Lava Jato (fato que me motivou a escrever este texto de
desabafo).
Em conversas pelo aplicativo Telegran, no dia 13 de abril de 2017, Moro
havia questionado Dallagnol sobre a gravidade das suspeitas contra FHC
(tornadas públicas pela LV, com o intuito de “passar o recado de
imparcialidade”). Afirmou Moro não querer “melindrar alguém cujo apoio é
importante”.
Quando esta conversa foi vazada pelo Intercept, FHC disse:
“É pecado venial, não é mortal” tais conversas paralelas entre um
magistrado e procuradores."
Quando questionado se Moro deveria se afastar do Ministério da Justiça
e Segurança Pública até o fim das investigações, esquivou-se, dizendo:
- Eu não sou um advogado. Como é que eu vou opinar nesta matéria?
Sobre tais fatos, são possíveis as seguintes considerações:
1ª) FHC se diz incompetente para avaliar se Sérgio Moro deve ser
afastado do cargo de ministro, alegando não ser advogado.
2ª) No entanto, emite juízo de valor sobre as conversas paralelas entre
magistrado e procuradores: “É pecado venial, não é mortal”.
3ª) Tal juízo é de cunho religioso, o que não faz muito sentido, sendo
ele um ateu confesso.
4ª) Ao dar um pitaco sobre a dimensão de um pecado, como se ele fosse
um teólogo, dizendo que se trata de pecado venial, faz um juízo passível de
excomunhão. Quando um juiz pode se envolver em conversas promíscuas com a parte
acusatória, trocar confidências, influenciando e induzindo o processo? Isso é
ILEGAL, um juiz instruir a acusação e, depois, julgar.
Tal atitude é condenada em qualquer país civilizado do mundo. No
entanto, isso é feito aqui no Brasil entre Moro e a Lava Jato, dentro da máxima
de que “os fins justificam os meios”.
E FHC, um sociólogo, cheio de saberes e títulos honoríficos, endossa tal
prática, classificada de culpa leve, justificável, mostrando que não tem apreço
pelo Direito e pela Justiça. Mais que lamentável, tal atitude é deprimente.
5ª) Pode ser que FHC, preocupado com o próprio umbigo, queira tão
somente dizer: - Ao me envolverem, vocês o fizeram de forma leve, como se
estivessem cometendo um pecado venial. Seria um pecado mortal se me
incriminassem com uma acusação grave.
Dessa maneira, FHC está retribuindo a gentileza de Sérgio Moro, que não
quis melindrá-lo e o tem na conta de alguém importante. No fundo e a bem da
verdade, eles se merecem.
Etelvaldo Vieira de Melo
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