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Um comercial antigo de determinado biscoito perguntava: Vende muito porque é fresquinho, ou é
fresquinho porque vende muito?”.
Tal pergunta induzia o leitor/espectador a consumir o dito biscoito.
Por uma razão ou por outra, ele permanecia fresquinho, o que importava em
última análise.
Está claro que tal comercial era do tempo em que não havia obrigatoriedade
da data de validade ser estampada na embalagem do produto.
A modernidade nos traz esse tipo de compensação, a dos produtos de
consumo serem fiscalizados. Aí, não há tanto o perigo de se levar gato por
lebre. No entanto, outras ameaças rondam o consumidor moderno. Se o risco de
adulteração de prazo de validade é pequeno, as preferências para este ou aquele
podem ser forjadas ou manipuladas.
Quando você visualiza na contracapa de um livro que ele já ultrapassou
a cifra de milhões de cópias vendidas, para não ser do contra, talvez seja
induzido a se somar a esse mundaréu de leitores. Mas quem garante que aqueles
números expressam a verdade?
Nos tempos de antigamente, do biscoito fresquinho que vendia muito, Jô
Soares já chamava a atenção para os riscos da publicidade. Dizia ele: “Se a
propaganda é a alma do negócio, espero que qualquer negócio não seja a alma da
propaganda”. Tal fala aparece ingênua no mundo de hoje. Naqueles tempos, as
abordagens de venda eram limitadas, passavam longe da manipulação direta que
vivenciamos nos tempos presentes.
A verdade é que estamos sendo manipulados, perdendo a liberdade de
escolha e de decisão, estamos sendo rastreados e avaliados constantemente,
graças a um aparelhozinho que nos acompanha aonde vamos, o smartphone. Através dele
(das redes sociais que acessamos), estamos sendo hipnotizados pouco a pouco por
técnicos que não podemos ver e para propósitos que não conhecemos.
É preciso que você fique sabendo disso: em algum lugar, seus dados
estão sendo processados a cada segundo. Eles estão sendo usados com propósitos
que você não tem controle e até desconhece.
O Admirável Mundo Novo é essa distopia que supera em horror os mais
tenebrosos prognósticos de ficção científica. Por trás de tudo está o “Grande
Irmão” (agora chamado "Bummer": Máquina de Fazer Cabeças) controlando as redes sociais. Ele tem um deus,
chamado dinheiro, lucro, poder, ao qual se vende. Por isso, ele não é de
direita ou de esquerda, de cima ou de baixo. Ele simplesmente se vende a quem
dá mais. E você sabe quem acaba dando mais: os maus, os corruptores, os
bandidos, os exploradores, os gananciosos, os sem escrúpulos. São esses, em
última análise, que estão tomando conta de sua vida.
Confesso que comecei a me preocupar com esse assunto de uns tempos para
cá, notando como as pessoas (e eu mesmo) estavam se tornando agressivas,
sectárias, rancorosas, fechadas ao diálogo. Tudo isso é muito visível através
das redes sociais. Sabe aquele antigo seriado de TV chamado “O Incrível Hulk”? Um
pacato cidadão, quando fica nervoso, sofre uma mutação e se transforma em um
monstro incontrolável. Assim está acontecendo com a gente: as redes sociais
parecem nossa dose diária de veneno.
Jaron Lanier, em ‘Dez Argumentos Para Você Deletar Suas Redes Sociais’,
e que me motivou muito a escrever este texto, lembra: “De acordo com uma
reportagem do The New York Times, o preço médio no Twitter no início de 2018
era de 225 dólares pelos primeiros 25 mil seguidores falsos”. O que isso quer
dizer? Que tais redes estão assentadas sobre bases falsas, sendo elas mesmas as
verdadeiras fake News.
Jaron adianta sua reflexão: ”Talvez você pense que nunca interagiu com
pessoas falsas na Internet, mas certamente isso aconteceu, e muitas vezes. Você
decidiu comprar alguma coisa porque havia um monte de críticas positivas, mas
muitos desses comentários eram de pessoas falsas. Outro exemplo: você viu um
vídeo ou leu uma matéria porque muitas outras pessoas haviam feito o mesmo, mas
a maioria delas era falsa”.
Uma de suas conclusões: com o smartphone, você está se tornando um
cachorro adestrado, um rato de laboratório ou um robô.
Se você se sente incomodado por ter sua vida monitorada, suas leituras
e preferências dirigidas; se anda cultivando sentimentos de raiva,
intolerância, animosidade, vontade de soltar palavrão e agredir pessoas, talvez
esteja na hora de dar um basta e se afastar das redes sociais. Nem que seja por
algum tempo. Pense nisso.
Etelvaldo Vieira de Melo
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