AOS TRAMBOLHÕES, ORA POIS! - LEMBRANÇAS DE VIAGEM (VOLUME 2)

A imagem pode conter: texto e comida
Imagem: Euro Dicas
Este texto é desaconselhável para menores de 16 anos, por conter linguagem de cunho sexual e de moderado tom de violência.
Há ditados que caem como luvas para determinadas pessoas. No caso do Eleutério, estes dois são perfeitos: “as aparências enganam” e “quem vê cara não vê coração”.
A ideia de se associar ditados com luva não serve muito para o país de Eleutério, onde esse acessório quase nunca é usado. Ele mora num país tropical que, até anos atrás, era “abençoado por Deus e bonito por natureza”. De uns tempos para cá, parece que Deus está desistindo de abençoar esse imenso território, desde que um incongruente abocanhou a presidência, liberando os desmatamentos, as queimadas e os agrotóxicos, entre outras maluquices.
Quanto ao Eleutério, ele aparenta ser um sujeito experiente e que sabe das coisas, talvez por causa dos óculos, talvez por causa dos poucos cabelos e do cavanhaque esbranquiçado. Os reflexos lentos, que poderiam indicar calma e ponderação, escondem mesmo é lerdeza, para não dizer retardo mental. Sendo assim, é com muita dificuldade que ele lida com as coisas ao redor.
Quando viajou a passeio pela Europa, nos três países onde esteve, começou tudo mudo e terminou tudo calado. Por ser um monoglota, de tanto se expressar através de mímica, só foi retomar a fala 21 dias depois de já estar no Brasil. Quase que ficou mudo de vez.
Agora, por desaforo, na viagem que irá fazer, escolheu os destinos de Portugal e Espanha. Pensou assim: português, eu dou conta; espanhol, posso atacar de portunhol. Só que não é bem assim, conforme mensagem que Genésia Solaris lhe repassou em vídeo (ao tempo em que passava verniz nas unhas e preparava os miúdos para a escola). Eleutério viu que o português do Brasil não bate muito com o de Portugal: a pronúncia lá de Trás-os-Montes é quase ininteligível para os de cá; as vogais, quando não são sincopadas, são usadas em tom fechado; a fala também aparece bem acelerada. Se não bastasse isso, muitos dos termos têm sentidos diferentes. É aí que mora o maior perigo.
Como exemplo, veja, Leiturino, o texto que Eleutério deixa de exemplo. Ele pede desculpas pelo vocabulário aparentemente chulo. Ao fim, você vai ver que, também para nossos patrícios, as aparências enganam e nem tudo é o que aparenta ser.
AS AVENTURAS DE UM PORREIRO (1)
Jacinto Pinto Cansado ainda não tinha feito seu pequeno almoço (2). Por isso, pediu ao tio para que parasse o descapotável (3) junto à passadeira (4). Ali perto tinha uma casa dos cacetes (5), onde poderia pedir uma sandes (6), junto com uma bica (7) ou um sumo (8).
Chupando um rebuçado (9), foi até uma bicha (10), aguardando ser atendido. Um telemóvel (11) toca. Um puto (12), tipo abiscoitado (13), estando à sua frente na bicha, atende.
- Estou! (14) – fala, enquanto masca uma pastilha elástica (15).
Do outro lado da linha, alguém diz alguma coisa que deixa o gajo (16) nervoso. Ele diz:
- Não, não! Ainda não paguei a propina (17). Queres saber de uma coisa? Vai mamar na quinta pata do cavalo! (18).
Depois de ouvir algo mais, concluiu:
- Estás certo. Depois, passo no talho (19) para encomendar o chouriço. Agora, vê se passas no restaurante e adianta uma ‘punheta (20) com grelos (21) à vista’ e batata a murro para o almoço.
Enquanto ouvia sem querer querendo tal conversa, Jacinto começou, de repente, a ficar a brocha (22), com vontade de dar um breque (23) ou bombarda (24). Quando viu que o caso era mesmo de dar de corpo (25), saiu correndo, mal tendo tempo de chegar à sanita (26) da própria casa dos cacetes. Depois de fazer suas necessidades fisiológicas sólidas, teve o cuidado de apertar o autoclismo (27). Jacinto Pinto Cansado teme que a vontade de dar de corpo continue, tendo ele que ir até uma farmácia para, quem sabe, tomar uma pica (28) no cu (29).
FIM DA AMOSTRA
Depois de ler este texto, Eleutério tomou a decisão de manter a boca fechada em sua viagem a Portugal, torcendo para não ter que ir, em qualquer hipótese, a uma farmácia. Até mímica ele vai evitar. Sabe ele que “seguro morreu de velho” e “em boca fechada não entra mosquito”.
Vocabulário:
(1) Cara bacana, legal  (2) café da manhã  (3) carro conversível  (4) faixa de pedestres  (5) padaria  (6) sanduíche  (7) cafezinho  (8) suco de frutas  (9) balinha, pirulito  (10) fila  (11) celular  (12) adolescente  (13) sem juízo  (14) alô!  (15) chiclete (16) garoto  (17) mensalidade  (18) mandar alguém à merda  (19) açougue  (20) iguaria feita de bacalhau cru  (21) prato de legumes  (22) ficar aflito  (23) peido  (24) peidada  (25) cagar  (26) privada  (27) descarga de privada  (28) injeção  (29) nádega, bunda .

Etelvaldo Vieira de Melo

2 comentários:

Andréa disse...

Eléuterio, quase enfartei de tanto rir...
Muito divertido...

Andréa disse...

Eléuterio, quase enfartei de tanto rir...
Muito divertido...

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