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Tio Levi era fazendeiro em minha terra natal. Competia com Quinca Afonso governo e mando sobre bem e habitantes do bem. Às vésperas das eleições, ambos se entusiasmavam com presentes adquiridos e doados aos votantes. De certo que as coisas eram incertas, pois os traíras almoçavam o boi de titio e jantavam a porca de Quinca. Desfilavam no caminhão da Boa Esperança e jogavam confete na carroceria da Tormentas. Nos bailes da roça, Afonso bebia pinga enquanto rodopiava com as cozinheiras. À noitinha, chegado a casa, lavava-se com creolina e botava fogo no fraque. Titio, sendo um Rios, pulava direto de roupa e tudo na represa, nadando até o cecê das nega cair duro no sumidouro das águas. Pois não é que o filho novo do Quinzinho apareceu na praça de cavalo novo, batendo nas ilhargas do alazão?
- Deixe estar, filhote de
cobra e cabra! – segredou-me o parente. – Você sabe montar?
Imagine! Eu tinha dez anos,
recém-saída do cueiro. Mesmo assim, levantei o cangote e jurei de pé junto ter
participado com garbo do último rodeio no Campo do Independência.
Seu Vivi ergueu o focinho e
louvou a sobrinha com papai.
- Tãozico, a menina te puxou!
Vou caçar um Mangalarga pra ela me desafrontar.
Pai levou o fato na
brincadeira e apontou para um cigano enfeitado de cetim.
- Alá, mano. Aquele sujeito
tá vendendo o Marchador.
Marchador era o nome conhecido
do corcel sobre o qual azulava a camisa ruge do ambulante. TiLevi voou leve.
- Malaquias, seu moço, ainda
tá arranchado com a tribo perto da Esperança?
Num instante fizeram negócio.
A dama do comboio mostrou-me agradecida o dente de ouro. Dali em diante, nunca
mais pude ver a cara dela.
Titio veio indo com a rédea
na mão.
- Eta, sô. O besta do vagante
aceitou miliquinhento mirréis por esta pérola. Olhe o riso branco da égua, o
pelo luzidio, as perna cheia de nervo.
- Mas, irmão, ég...
- Ah, ah! Sou esperto feito lebre.
Faturei pra cima do bobo. Agora, treine a garota.
- A garota égua ou a
Mariinha?
Fiz de esquerda e caí no
mato. Recordei-me de uma tarde em que voltei pra sede da Boa muito má debaixo
da barriga de um burro.
Passou-se um mês e as chuvas
começaram. A Manhosa, já de nomeada, ficou no pasto durante dois dias e duas
noites, devido a deserta
tempestade. No terceiro dia, o toró amainou, porém eu é que estava pluviosa de
medo da coça e do cangote da montante. Papai se prontificou em trazer a ilustre
corcela para mais perto da Casa Grande.
Aí, ó céus, ó brumas, ó lamas!
O que surgiu detrás da plantação de café foi tudo, menos um animal. A bicha
parecia estar de vento virado por obra do Quinca Afonso. Pelo? Pernas? Nervos?
A enxurrada carregou até a dentadura do potro potra ou otra danada miséria. Seu
Tãozico, meu pai, carregava, por bem dizer, uma pedra nas costas, parda e
ardida de fedor.
- Que qué isso, Tião?
- Isso é o garanhão cocê
comprou por miliquinhento do cigano mandado pelo k. Cê é desde pequeno uma
cavalgadura, Levi.
- Segui seu conselho. Remonta
em mim, jegue da família.
Agora estou escondida. No
próximo blogue, prometo que conto o segundo capítulo do mar ajambrado (Continua)
Graça Rios
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