Faz três anos, a vizinha bateu-me à porta procurando socorro.
Corri a tempo de ver-lhe a mãe no último suspiro. Atenção, cuidados.
Passados sete dias, no enterro, sugeriu-me emprestar-lhe sete mil
reais, a fim de liquidar dívidas da família.
- Infelizmente, não tenho.
M. apressou-se a dizer que sabia desse crédito em minha poupança,
segundo eu própria lhe contara em confiança. Questão de buscar os cobres.
Meio contrariada, raspei o dinheirinho obtido em quarenta aulas
semanais e abandono das crianças à babá.
- Prometo lhe devolver tudo logo, logo.
Chuvas de verão. Frio de inverno. Flores de primavera.
Enviei-lhe um e-mail, afirmando minha necessidade do empréstimo.
Gorda e vermelha, viajou com a atual esposa de onde se mudara para
explicações.
Novas batidas à porta.
- Custei muito a chegar de Ibirité, mas preciso lhe falar.
Olhe, não possuo condição nenhuma para entregar dinheiro. Desculpe-me,
mas Deus a recompensará pela boa vontade. Somente Ele pode fazê-lo.
Raios, trovões, enxurradas.
Ontem, recebi saudações momescas da mulher no celular.
Escrevi-lhe, então, contando que o pão-duro do seu deus nunca se
dispusera ao pagamento do débito. Poderia, pois, lançá-lo nos seguintes dados
bancários?
Devolveu-me o recado, solicitando que eu aguçasse a memória.
Havia dúvidas quanto ao receptor do discurso,
- Porque jamais me atrevi a pedir um tostão furado a ninguém.
Natal, confusão na Savassi.
Fantasio-me de Mamãe penas de pata?
Sim, leitor, quem bate, esquece. Quem apanha, alembra.
Graça Rios
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