PÁSCOA EM QUARENTENA

Jade

Pueri hebraeorum
Portantes ramos olivarum
Obviaverunt Domino
Clamantes et dicentes
Husanna in excelsis

In illo tempore, quando estudava em internato, esta música era cantada na celebração do Domingo de Ramos.
Semana antes, esta e outras eram ensaiadas exaustivamente, sob a regência de José Hilário, um capixaba de corpo avantajado e óculos enormes. Como achávamos os ensaios maçantes, assim que avistávamos o José se aproximando, resmungávamos:
- Iii..., lá vem o Zé Breorum!

A Páscoa talvez seja aquela celebração que mais deixou marcas em minha infância e adolescência. Sem contar que sempre me seduziu seu simbolismo, o de significar passagem, mudança, travessia. Refletindo sobre o tema, costumava avaliar:
- Ressuscitando, Jesus Cristo vem nos dizer que a Vida vence a Morte, que a Vida é maior do que a Morte. No entanto, a vida passa pela morte, a vida é feita de mortes. Então, para que alguma coisa viva é preciso que morra um pouco: a semente, lançada à terra, precisa morrer para poder brotar e florescer, para que haja primavera é preciso passar pelos rigores do inverno. E, assim como a noite que prepara o dia, em nossas vidas, a dor prepara a alegria, a lágrima prepara o sorriso, o sofrimento prepara o prazer, a morte prepara a vida.
E adiantava a reflexão:
- Vivemos numa sociedade que só valoriza o lado bom da vida: os momentos de alegria, de prazer. Quando passamos por dificuldades, quando experimentamos dor e angústia, geralmente nos sentimos mal. E é por isso que as pessoas vivem manquitolando pela vida afora, porque não sabem se sustentar nos momentos difíceis.
Concluindo a reflexão, costumava dizer:
- É preciso saber “morrer”; quem não sabe morrer também não saber viver.
Orquidário

Desde que começou a cultivar orquídeas, Percilina Predillecta logo se deu conta de que cada espécie pedia um tratamento diferente. Havia aquelas que podiam ser plantadas no chão, enquanto que outras se adaptavam em vasos, cachepots, troncos de árvores e até em toquinhos, E eram de muitas espécies: Catleyas, Phalaenopsis, Vanda, Dendrobium, Paphiopedilum, Arundina... Entre as epífitas, tinha aquelas que não se sustentavam em nada. Todas pediam adubagem, luminosidade e regras diferenciadas. Percilina, com paciência e persistência, foi aprendendo tudo isso por mais de cinco anos. Agora, as orquídeas (e a jade e tantas flores mais) respondem ao seu cuidado com suas flores delicadas e belas.
Quando vejo Percilina cuidando das plantas, muitos pensamentos me ocorrem. Às vezes, comparo aquilo aos cuidados de uma mãe com seu filho; quando Percilina alisa a folha de uma orquídea para ver se está tudo bem, relembro cenas de minha mãe me cobrindo com cobertores nas noites frias dos invernos de minha infância.
Outra lembrança me ocorre, esta mais atual: o pensamento de que o Mundo está em Páscoa, vivendo agora momentos de dor, incertezas, angústia, ansiedade e medo. As orquídeas, as jades e tantas flores do jardim de casa florindo são sacramentos, sinais de Esperança de que a Natureza e todos os seres humanos estão se renovando para um Amanhã de Paz, Harmonia e Solidariedade.
Etelvaldo Vieira de Melo

3 comentários:

Unknown disse...

Etelvado é isso mesmo. Muito bom.

Adriana disse...

Excelente. Quando cita o cuidado diferente com cada planta e associa a maternagem,tbem penso na necessidade de valorizarmos a
individualidade dos filhos, a necessidade de respeitar suas potencialidades e fragilidades e ter este manejo no cuidado. Muitos frutos podem nascer aí, a partir do manejo dos pais...

Unknown disse...

A esperança é de dias melhores. Se Jesus venceu a morte.

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