Quando
completou 49 anos de vida, uma famosa atriz fez uma declaração terrível: “No fim da minha vida estou descobrindo que
não sou uma pessoa amável, que não mereço ser amada, que tem alguma coisa de
muito errada comigo”.
Tais palavras retratam uma pessoa que, pelo menos aparentemente,
chegou ao fundo do poço da infelicidade. Também demonstram que o ser feliz para
ela está associado ao amor, na relação de ser amável e ser amado.
Não sei porque, ao ler tal declaração – talvez como
contraponto – ocorreu-me a lembrança de outra pessoa feliz, pelo menos
aparentemente. Ele tem apelido de Nô e nunca teve uma vida carregada de
glamour, luxo ou riqueza. Veio de uma família humilde e nem mesmo conseguiu
elevar sua estatura física: não chega aos um metro e cinquenta.
Ao longo do tempo, foi acumulando aparentes
defeitos, que tornavam sua vida cada vez mais custosa.
Primeiro, foi o analfabetismo, que lhe
impossibilitou atos triviais, como o de olhar as horas.
Tentando ajudá-lo, seu irmão deu-lhe de presente um
relógio que, logo logo, foi devolvido, Deus que te pague, como algo
imprestável.
Dias desses, perguntei-lhe como se orienta diante de
rotinas – almoçar, por exemplo.
- Eu
olho para o Sol – explicou ele, sorrindo.
- Mas,
e quando está chovendo?
- Aí,
eu vou pela barriga – completou, com um sorriso grande.
Não pense que tal diálogo foi fácil. Nô sentiu
crescer, à medida que o tempo passava, outro “poblema”, o da surdez. Recorrendo
a dados estatísticos, tão caros a outro amigo, o Amador, creio que o índice de
surdez de Nô anda na casa dos 94,8%.
Anos atrás, arrumou uma infecção no pé e, só
recentemente, conseguiu passar por uma cirurgia, que lhe extirpou o dedão do pé
direito. Quando lhe pergunto como está de saúde, responde:
-
Estou bem, com a graça de Deus.
- E o
dedo?
- Ah,
o dedo ficou com doutor Alfredo!
Não sei se Nô teve algum envolvimento afetivo. Sei
que não se casou e mora sozinho.
Para ameniza um pouco sua solidão, o mano deu-lhe de
presente um rádio que, logo logo, foi devolvido, Deus que te pague, pois a
altura do volume haveria de incomodar muito os vizinhos.
Assim, sem dedo, surdo e analfabeto, Nô vai tocando
sua vida. Caso lhe pergunte se é feliz, haverá de me dar uma resposta que
imagino qual seja. Ela não é transcrita aqui em respeito àquelas outras pessoas
que, por caminhos diferentes, também conseguem ter essa tal felicidade.
PS1: Como provocação, sabendo que você é desprendido
e não se incomoda em compartilhar suas descobertas de vida, deixo uma pergunta:
o que é a felicidade? o que é ser feliz? Deixe aqui sua opinião. Outras pessoas
poderão aprender muito com sua resposta.
PS2: Só não vale dizer para tomarem Fluoxetina. E
nem Hidroxicloroquina.
Etelvaldo Vieira
de Melo
1 comentários:
Bela reflexão! Às vezes não percebemos que somos felizes com as graças de Deus pela vida que temos. Somos tentados pelo querer sempre mais.
Felicidade é estar em harmonia nos nossos relacionamentos. Sentir-se bem e fazer que os sintam também.
Marcos G.
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