Viver é flores ser. Só lícito ser é encher-se de virtudes. Florescer é crescer
espiritualmente e preservar a dignidade humana. Ser lícito é dispor na vida de
uma conduta ilibada, marcante. E a palavra significa cumprir o sagrado dever de
amar o próximo. Ter mão a se estender e afagar. Afagar na provação do outro. Estender-se
com senso afetivo. Qualidades exornam a personalidade. Infelizmente, escoam-se no
tempo. Quiséramos feliz voltasse a confraternização, o preocupar-se com o
semelhante, a união entre pessoas.
Lembramo-nos da Copa
do Mundo aos 1950. Lá pelas nossas bandas, raro indivíduo dispunha do rádio. Solidários,
todos os aficionados do futebol se irmanavam e lotavam a casa dos afortunados,
a fim de assistir à partida decisiva. Assim, aquela decepcionante derrota para
o Uruguai passou sem constrangimento. Converteu-se, ao final, em sentimento e
consolo mútuo.
Anjos da guarda desciam na época, surpreendentes, inesperados. Milagres aconteciam. O ensino nas cidades
menores limitava-se ao Grupo Escolar. Internação em colégios de cidades maiores
constituía privilégio dos abastados. Porém, na santa humildade do lar modesto, o
querubim encontrou fórmula de custear nossos estudos. Educação e respeito buscavam-se
a todo custo. Hoje, nada concerne ao amigo, além do jogo de interesse. Onde “Amicus
certus in re incerta cernitur”?
Antigos guardiães quase não se manifestam. Mudaram-se em ideias
conservadoras. O ambiente dominante não os acolhe. Poder, egocentrismo, ambição,
turvam as cabeças. Grassam fome e miséria nas classes desamparadas. Perderam-se,
em grande estilo, a lealdade, a honestidade, a gratidão. Sorte mesmo, apenas
para o meliante inescrupuloso.
Talvez frutos do crescimento, do avanço científico e
tecnológico, romperam-se a tradição, a dignidade plural, as condições
existenciais. Devido ao avanço progressivo e destrutivo, contemplamos sozinho o
passado. Havia um enorme equipamento, também chamado holerite, gerador da folha
de pagamento do servidor federal. Ocupava o saguão do velho prédio do Tesouro
Nacional na Avenida Afonso Pena.
Após, víamos chegar gigantescos computadores. Ocupavam o
espaço físico: seletora e leitora de cartões perfurados, gravações de fita em
roldanas giratórias, processadores em paredes inteiras, periféricos. Ao
contrário dos pequenos módulos atuais, acionados por minúsculos chips, toda a
parafernália prosseguia alimentada com planilhas elaboradas pelos usuários. Obrigados, inseriam nas quadrículas as letras
das palavras.
Informações processavam-se em formulários contínuos, submetidos à consistência dos dados. Ah, sim, e também ficavam a cargo dos referidos! Diríamos: consistência da consistência. Se correta, costumava gerar, na avaliação, outra pior. Esse fato ocorria sucessivamente. Sonhávamos com os acertos on-line hodiernos.Lembramo-nos, assustado. Súbito, a seletora e perfuradora de cartões cospe fora, como vento uivante, um bloco que se espalha pelo chão. Deus nos acuda para voltarmos tranquilo ao “statu quo ante”! Agonia, desespero e suor gastamos, embora significantes. Salta-nos à memória, o telefone de boca dos idos 1950, naquela caixa pendurada sobre a parede. Ocorre-nos, pensativo, o telégrafo Morse, amparado pelo rádio, nossa diversão, labor, tristeza. Sendo meios de comunicação sempre utilizáveis, custavam excesso de luta para campeadores.
A pé, mato a dentro, eles acompanhavam e reparavam linhas
telefônicas, fiação, postes caídos, aceiros inibidores de incêndios. Vieram,
mais tarde, então, o telefone sem fio, os pequenos computadores, a TV em preto
e branco e, posteriormente, a colorida. Assistimos à Copa do Mundo/70 numa TV
de dois pavimentos, a cores. Glória e festa!
A princípio, era penoso e oneroso possuí-los. Agora,
celulares circulam lá e cá. Recebemos insistentes convites para assinatura de
telefones fixos, motos, carros de custo a longo prazo, computadores a preços
convidativos. Enfim, acha-se o Universo à disposição, aliviando esforço, aumentando
saber.
Entretanto, a Ciência, ai! A Ciência alia-se à tecnologia. Supera-nos expectativas, desenvolve-se em todos os setores. Por que, dessa maneira, poderá desencadear crise organizacional capaz de comprometer o destino planetário? Dispensamo-nos comentário acerca da possível gravidade. Queira Deus despertemos antes de qualquer tragédia iminente.
Sebastião Rios Júnior
1 comentários:
Como tudo muda, né? As coisas do passado vão ficando mudas...mudar é tornar mudo aquilo que não mais se quer...
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