MORRE A SEMENTE PARA NASCER UMA FLOR

Foto: Aloísio Silva

Para Adriana, Aloísio, Denys, Etevaldo Britto, Geraldo Uzac, JD Vital, Júlia, Lúcio, Magda, Marcos G. Soares, Mauro Passos, Paulo Sérgio Santos, Pedro Lopes, Renê, Sandra, Santiago, Silvana, Quênia, Tadeu Gandra, Valéria Rios – com quem, semanalmente, compartilho os textos deste blog. Com meus agradecimentos pela paciência e incentivo.

Preparativos para a celebração da passagem, da travessia. Pessach. Páscoa. E, junto, a disposição para uma grande mudança.

Ontem fizemos a Procissão do Enterro. O Cristo morto desfilando pelas ruas da cidade, mostrando para todos as marcas da maldade humana.

“Ecce Homo!”

Eis o Homem que veio resgatar toda a humanidade do Pecado, da Opressão, da Injustiça, da Mentira, da Morte.

A multidão se acotovelando sob os acordes fúnebres da banda de música paroquial. O lusco-fusco das velas dos fiéis devotos e o cuidado das mocinhas ao saltar uma poça d’água.

A Verônica cantando no silêncio constrangido do povo. Desenrolando um véu e mostrando para todos os transeuntes a face do Cristo ali estampada.

(E qual a imagem que aquele pano revela? Hoje, Jesus Cristo assume o papel de quem? E quem são os sacerdotes, os fariseus, os doutores da Lei que o condenam? Quem é Pilatos, que não se compromete com nada, lavando as mãos?)

As “Marias-Beús” se escondendo por detrás de mantos negros, acompanhadas pela multidão-de-se-perder-de-vista.

O Carro Fúnebre ladeado pela Senhora de Coração Trespassado e pelos cumpridores de promessas.

Semana Santa, projeção de um passado que nunca se apaga. Lembrança de acontecimentos cada vez mais distantes no tempo e no espaço, mas sempre presentes pelas mais puras emoções, pelas alegrias despreocupadas, pelos sonhos de fantasias simples, singelas.

“Eis que vos anuncio uma boa nova!”

Tradicional namorisco de jovens no jardim atrás da igreja. Rapazes de gestos e olhares inseguros tentando conquistar mocinhas de sorrisos tímidos. Rapazes da roça e rapazes da capital em divertido contraste. (E é precisamente assim: aquele, de óculos escuros, embora seja noite, com um maço de cigarros chique no bolso da camisa, trabalha na capital – não está vendo? Já aquele outro, aquele que não sabe onde enfiar as mãos, trabalha numa roça qualquer. As moças, qual disco numa vitrola, giram pelo jardim, enquanto que os moços ficam encostados nas árvores, atentos, observando. Quando os olhares de dois chegam a um acordo, o casal se dá as mãos e vai namorar no jardim em frente à igreja.)

“Alegrai-vos.”

A voz do sacerdote rompe o silêncio da nave em escuridão: “Lumem Christi!”. Que a Luz de Cristo ilumine o caminho de cada um e de todos os brasileiros, anunciando-lhes a Verdade, a Justiça e a Paz.

Páscoa – Passagem – Travessia

Existe um luar, existe uma estrela.

O que estão dizendo, não sei.

Sei, com certeza, é que quase tudo se resolve em questão de tempo.

Páscoa, celebração de que a Esperança não é vã, de que há uma luz no fim do túnel, apesar de tudo, da escuridão, do ódio, da mentira, das promessas enganosas, dos falsos profetas, sacerdotes, pastores e messias, do medo da própria Liberdade.

Páscoa – Passagem: o ar que respiro, a brisa que sopra, o sorriso das estrelas.

Páscoa – Passagem: uma nova consciência, uma nova visão do ser humano que está dentro de mim.

Páscoa: a grande travessia, a semente que morre e germina em flor.

Páscoa: Vida que vence a Morte, que vale mais que a Morte.

Páscoa: Vida que passa pela Morte, que é feita de Mortes. Igual a semente que morre na terra para poder brotar e nascer, assim também temos que “morrer” para poder “viver”.

A noite predispõe o dia

O inverno é o arauto da primavera

A chuva prepara a sol

A tristeza é o prelúdio da alegria

A lágrima antecede o sorriso

A dor prenuncia o prazer

A Morte é o prólogo da Vida.

É preciso saber passar pelos momentos difíceis

saber encarar os tempos e os contratempos da vida.

É preciso saber morrer

 ... para poder viver.

Feliz Páscoa!

Etelvaldo Vieira de Melo

3 comentários:

Anônimo disse...

Linda mensagem.
Obrigado pela sua atenção a cada final de semana. Que seja fecundo em seu belo trabalho!
Abraços.
Marcos G. Soares

Anônimo disse...

Parabéns pelo texto. Eu, que me considero um saudosista, agradeço por me ajudar a viajar no tempo... Lembro-me, ainda garoto, vendendo velas vinte dias antes da Semana Santa. Tenho lembranças também dos moradores da zona rural, que alugavam casas para passar a Semana Santa, traziam as latas cheias de quitandas, vestiam seus melhores trajes e participavam das todas cerimônias. Este texto me faz lembrar do Sábado da Aleluia, onde havia a queima do Judas, e, por fim, podíamos sair para passear no jardim para contemplar os casais que, por sua vez, a exemplo de nós, cumpriam à risca a quaresma com alguma penitência, para agradecer ou ganhar alguma graça.
O texto ainda me faz lembrar a banda de música, as matracas, os coroinhas (sendo eu um deles). Rezávamos com fervor juntamente com nossas famílias, pois no final da noite éramos compensados com um saquinho de pipoca ou algodão doce. Tudo em nome de nossa fé cristã.
Meu querido tio, ficarei muito feliz em ficar guardado para sempre neste texto que me emocionou muito, principalmente pela foto que eu tirei e foi publicada. Agradeço por ter pouquinho de sua sensibilidade. Sua bênção.
Aloísio Silva

Unknown disse...

Bela mensagem! Nela senti o emaranhado da vida e sempre no meio dele o nascimento da esperança pascal.
Obrigado pela amizade e pela atenção amigo!

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