O que move a existência humana? Eis uma pergunta
formulada desde os primórdios da Filosofia. Platão, Nietzsche, Foucault,
Saussure, consideram o desejo motor das ações humanas. Teoricamente, deixam
post mortem estabelecido que, perdido o cordão umbilical, todo indivíduo se
torna sempiterno desejante. Diante da impossibilidade de retorno ao estado
homeostático uterino, projetará em objetivos futuros sua incompletude. Vide
esta nossa ser hei a obra literária. Será ser? Seria? O desejo, em Psicanálise,
não trata de algo a ser realizado, mas da exclusão jamais desfeita. Em toda escolha,
resta sempre um novo querer. Portanto, o buraco, oco do louco bloco, permanece insatisfeito.
Renasce Fênix noutro não-lugar foradentro do anulado ou no significante
suscetível de símbolo. Trata-se de um fluir metonímico, pois se desloca em direção
ao que aparenta ser o outro objeto perdido. O sujeito se vê aprisionado pela vã
tentativa de obturar a supressão interna. O que suscita o desejo sobre nossa
escritura? Algo indecifrável, diremos. Um brilho, uma textura, um som, um tom
estilístico. Eles são, para Lacan, faces imaginárias daquilo que está muito
além do princípio do prazer. Tal elemento concreto será alvo do artista,
concentrado, em pleno gozo. Aqui, o jogo de linguagem se torna fundamental,
visando a reconstruir o inconsciente recalcado pela mácula tempo. Alcançamos, À
Sombra das Amélias em Flor, maquilagem proustiana quase total, porém há coisas
muito maiores que tudo.
Graça Rios
Graça Rios
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