Serenô, eu caio. Espero. Caio. Súbito, levanto- me.
Olho. Sinto no enovelado tempo ele molhado. Chora em teor de dor? Vigio o
vagido nas fraldas da hora. Bico da noite, vem, consola meu bebê o seio cheio
de escumosa imagem. Vem mamando amando sobras de sonho do sono maternal,
afinal. Cirando a criança na penumbra, já trocada e limpa do colostro. Canto,
eu, a sabida sabiá, embalo na câmara incomodado piar. Passarinho sonoro, às
vezes, me adormeço... e já babá entrou, deu-lhe chá. Seu nome, eu o inscrevo:
Ísis (‘nasci de mim mesma, não venho de ninguém’); ou Mário (mar, rio, riso,
ar, homem de excelência), ensaiano manto cálido mel: serão meus braços? Donde tresanda
lágrima, ensandeço. Mal olhado, vento virado, benzo. Divagando vagando devagar,
fio os dias, desfio necessários diversos paninho Viróis acessórios, depois. Arco-irisando
coloridas horas passo lavados lenços de arroto sobre vomitados ombros. Brancos
enxovais. Alvas mamadeiras. Travesseiro ligeiro uma porção de brandos bichinhos:
ponto cheio, nó, laçada, entremeio. Agulhas próprias, tesoura de aparar arestas,
invento. Crio. 4 Bordando com fina verde clara linha a camisa primeira, aveludo-me
em teus bilros. Admiro-te a tessitura ao ficcionar linhas no argênteo tear. Nino
ideais lençóis, embalo deias na seda pura. Beija-me, rosto e colo, a nívea
sideral cambraia. E sirgo cosendo fronhas emendando cocô xixi cozendo papinhas
ansiosas. Assino agora babies quentes temperos literários. Concebo-me autora
deste livro. Ninguém duvidará da autenticidade dos manuscritos legitimados em
cartório. Há testemunhas das altas horas - jardins-de-infância - digitando,
regurgitando imagens, a fim de descrever lindas paisagens: sol dó fá lá
capítulos ré mi, si, outros. Barrada cortada rasurada hiância, embrião do
sentido, escrevo. Entre cólicas, reconheço: O parto nos sucedeu. Nove meses.
Eis aqui o filhote, última atual obra! Registrei-a, signo a signo. É nossa
criatura, gestada na alheia mente. Depois, publico-lhe a matéria. Algum farfalho
de asa, lã elã do leito vão, virá ao vento. Ensinará ao ventre inda sem luz:
‘Eis que tanto ao leitor-leitora-parturiente seduz o ser-neném, a lhe dar
alegria e cruz’.
Graça Rios
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