- Iasmim, ando incomodado com algumas
questões. Devo ser tolerante com a intolerância? Como me posicionar diante
daqueles que são intolerantes?
- Antes de refletir sobre essas questões
diretamente, estou me lembrando daquele ditado que diz: pior do que praticar a
maldade é se calar diante dela.
- Pior do que a ação dos maldosos é o
silêncio dos bons.
- Exatamente. Quando a maldade não tem
vez, ela se torna vazia; quando lhe dão voz, há o risco dela se tornar a única
voz possível. Por analogia, podemos dizer que, quando não lhe damos vez, a
intolerância se torna uma voz vazia; quando nos calamos, ela se torna a única
voz possível.
- Recorrendo ainda a analogias, existe
aquele poema de Maiakóvski, que não é de Maiakóvski...
- Sim. Quando nos calamos diante
daqueles que praticam a maldade, acontece deles, em um primeiro momento,
roubarem uma flor de nosso jardim. Porque nos calamos, eles pisam as flores e
matam nosso cão. Até que, diante de nosso silêncio, o mais frágil deles
rouba-nos a luz e arranca nossa voz da garganta. Por causa de nosso medo,
porque nunca dissemos nada, já não poderemos dizer nada.
- Iasmim, suas palavras refletem bem o
momento que vivemos. Foi o silêncio, a omissão e a conivência que tornaram
possível todo esse clima de intolerância em que a sociedade está mergulhada.
- Verdade. Se recuarmos no tempo, iremos
ver exatamente os momentos em que os intolerantes ‘roubaram a flor do jardim’, ‘pisaram
as flores’ e ‘mataram nosso cão’. Diante disso, as pessoas boas e ingênuas
diziam que não havia nada demais, que era preciso contemporizar, entender, não
levar a sério o que os loucos e alucinados praticavam. Agora, aqueles que eram
tidos como ignorantes estão nos ‘roubando a luz’ e tentando ‘arrancar nossa voz
da garganta’.
- Exatamente. Então, fica o
reconhecimento: é impossível tolerar a intolerância.
- Mesmo porque os intolerantes são os
primeiros que não toleram você. Tem até aquele paradoxo da tolerância: você
pode tolera tudo, mas não pode tolerar a intolerância, porque, quando
permitida, ela se espalha e nada mais se tornará tolerável. Um exemplo disso é
o fascismo: toleraram o fascismo e o fascismo se espalhou pelo mundo, tornando todo
o resto que não fosse o fascismo intolerável.
- Então, que sejamos amigáveis e
solidários com as demais pessoas. No entanto, que essa tolerância não se
confunda com a passividade, com o permitir que os intolerantes ditem as regras
das relações sociais.
- Existe um termo chamado
‘assertividade’, muito empregado em Psicologia. Significa você ter uma atitude
positiva diante das opiniões alheias, não se deixando intimidar diante do que
dizem. Isso não significa, necessariamente, que você deva ser agressivo, truculento,
mas que não seja medroso, covarde na defesa de suas ideias. Seria muito bom
viver em um país onde as pessoas fossem honestas umas com as outras.
- Mais do que isso, Iasmim, que elas
fossem honestas consigo mesmas.
- Falando em ser honesto consigo mesmo,
lembro o que disse uma amiga, a Valéria: “Devemos nos aceitar como somos e com
o que damos conta …. A solidão é uma escolha de sanidade, respeito e amor por
si mesmo! Ajude a quem precisa de ajuda, sem expectativas; cuide da
alimentação, cuide da natureza e dos animais… Nesse aspecto, a vida vale a
pena! A vitória não nos pertence, a nós só compete o esforço, pois só há uma
derrota definitiva: deixar de lutar. Tudo mais é crescimento.”
“Sobre a intolerância, continua Valéria,
fica óbvio que os seres humanos não são divididos por etnias, raças ou
condições econômicas de sobrevivência, mas pela linha nada tênue do caráter….
Não aprecio a intolerância, aprecio o corte total do que é maligno, cínico e
hipócrita que não cabem na minha vida. No mais, lembro o que li em algum lugar:
‘Quando doer, exclua. Quando incomodar, evite. Quando chatear, ignore. Quando
fizer mal, se distancie. Não podemos mudar as pessoas, mas podemos gerenciar
nossas vidas’.”
- Um texto produzido
coletivamente por Iasmim de Deus Silva, Valéria Rios e Etelvaldo Vieira de Melo
-
2 comentários:
👏👏👏
A pior intolerância é desejar que as pessoas mudem para pensar iguais a nós.”
Tolerare, do latim, "tolerar" ou "suportar". A convivência social seria bem melhor se a assertividade fosse uma praxis - do grego, conduta ou ação - e não um discurso vazio. Embora bem elaborado, esperava mais do texto por ter sido elaborado a três mãos.
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