DAR AS MÃOS, PEGAR COM AS MÃOS

 

Vivemos uma época de individualismo exacerbado, concorda? Dizem que não podemos confiar nem em nossos pais, é mesmo? Os pais também não podem confiar nos filhos, certo? Você assistiu, pela TV, àquela reportagem horrorosa de um filho matando os próprios pais. As pessoas não se aproximam da gente sem segundas intenções, você pensa.

Não sou eu quem vai dizer que está errado pensar assim. Confesso que, às vezes, também sou atropelado pela descrença na capacidade de convivência do ser humano. Porém, vez por outra, lembro-me de um fato - que pode ser estória, ou de uma estória - que pode ter sido um fato. Com ele, tudo seria diferente...

Dois amigos, numa joalheria, examinavam pedras de grande valor. Um deles, notando uma sem brilho nem aparência, perguntou:

- Por que está aqui esta pedra, entre tantas de valor? Ela não tem atração alguma...

Sem responder, o outro a ocultou, um instante, na mão. Momentos depois, com surpresa, o amigo viu que a pedra se transfigurara e brilhava esplendidamente, todas as cores do arco-íris nela resplandeciam.

- É opala – explicou o amigo – uma dessas pedras que se chamam simpáticas, porque o calor da mão irradia para elas toda a vida que pareciam não ter.

Existe uma corrente filosófica que diz serem as outras pessoas o inferno, que o outro me incomoda, nem que seja ao roubar o oxigênio que poderia ser meu. Existem pessoas que pensam assim: - Quanto mais convivo com os seres humanos, mais gosto dos animais e das plantas! Deixando de lado tanto pessimismo, é preciso considerar que “homem algum é uma ilha”, que “só existo na medida em que existo para o outro”, que, sozinho, nada sou, que viver é com-viver, que ser-com-os-outros é uma das principais dimensões da vida.

Então, precisamos da convivência, precisamos aprender a nos relacionar com os outros, compartilhando nossas experiências e cultivando as amizades.

Entre as pessoas de sua convivência, muitas logo mostram seu valor. São pessoas extrovertidas, comunicativas, fáceis de relacionar, estão sempre se destacando entre as outras, todo mundo conhece. Mas também existem aquelas aparentemente apagadas, sem brilho próprio, caladas, tímidas, desinteressantes. Elas são as muitas pessoas-opalas com as quais você convive. Por favor, não fique na análise superficial de considerá-las sem brilho, aparência, atração! Se você se aproximar, pegá-las com as mãos, aquecê-las com o calor da atenção e empatia, aí elas irão mostrar todo o seu imenso valor, toda a sua beleza, a beleza sutil e misteriosa de uma opala.

Etelvaldo Vieira de Melo


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