Embora entusiasta do esporte, nunca fui
bom em pescaria. Costumava fisgar galhos de árvores, pessoas por perto, outras
linhas de pescadores, mas peixe mesmo que era bom, nada. Isso não arrefecia meu
entusiasmo. Pelo contrário. Assim é que, quando ia pescar com Eduardo, Baiano,
senhor Geraldo, dona Diva e seus filhos Bá e Patrícia, lá na lagoa da
Petrobras, mal o carro pilotado por dona Diva parava, já eu ia preparando as
varas e os anzóis, logo me acomodando num pesqueiro qualquer.
O Eduardo, não. Descia do carro e,
calmamente, por cerca de meia a uma hora, ficava observando atentamente a
lagoa, querendo conhecer o melhor local para pescar. Colocava a mão no queixo
e, ensimesmado, perdia-se em devaneios. Depois, balançava a cabeça e a gente,
lá de longe, sabia que chegara a uma conclusão. Mas não era a definitiva, pois
precisava agora refletir e analisar, para definir a quantidade de linha, o
tamanho da chumbada e o anzol a serem usados. E isso lhe tomava mais de meia
hora. Definidos esses preliminares, gastava ele outro tempo para os
preparativos finais. E, quando dizia a si mesmo “É agora!”, alguém do grupo
gritava: “Eduardo, ajunte seus apetrechos que já estamos indo embora”.
Doce lembrança. Nesses tempos de
massificação pela Internet, sobretudo através de suas redes sociais, as pessoas
não se dão ao trabalho de refletir sobre nada, recebem tudo pronto e mastigado,
só têm o trabalho de “engolir”, rolando os dedos. Gostaria muito que tivessem
essa disposição do Eduardo. Sem pressa, calmamente, com muito cuidado, refletir
e buscar entender por conta própria as coisas que acontecem, compreender tudo.
Cada um ter sua vida nas mãos, conhecê-la, saber avaliar-lhe a consistência,
tal qual o vendedor de feira que sabe determinar o peso de uma mercadoria,
cortando-a na medida certa, usando uma balança só para acalmar o comprador
desconfiado.
Já dizia Aristóteles que a vida sem
reflexão não merece ser vivida. Eduardo, você anda fazendo muita falta nesses
tempos modernos, onde o ato de refletir foi substituído pelo de copiar e colar,
com as pessoas deixando de ter ideias próprias. Como bem diz o compositor: “A
felicidade foi embora, deixando a saudade morando no meu peito. O pensamento
parece uma coisa à toa. Mas como é que a gente voa quando começa a pensar?”.
É isso. A infelicidade das pessoas hoje,
mais do que por qualquer outra razão, decorre de sua incapacidade de refletir,
de tomar suas próprias decisões, de voar, ser livre.
Etelvaldo Vieira de
Melo
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