OLHO MUITO FUNDO O OLHO DO POEMA


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Olho muito fundo                                                             
O olho do poema.
A letra escrita e alterada,
Assim como casa pode ser asa.

Olho muito fundo
O olho do autor
Ator leitor
Do grande espetáculo.

A letra de Dante
Visita o inferno.
A letra vistosa de Baudelaire
Quando vê uma passante,
Sua alma gêmea.
Mas que não reencontrada,
A não ser na eternidade.

Uma passante,
Uma letra
Plena de brilhos
E purpurinas.

A letra de Dom Quixote,
Sonhador inveterado
Á procura de um falso Graal.

Olho bem fundo
O olho do anjo
Gordo e sorridente
De Aleijadinho.
O anjo perfeito,
Mas inapto,
Entre o sublime do céu
E a fortuna da terra.
Letra de pedra sabão
Espumando de vida
Que engrandece e cura
O escultor doente.

Olho bem fundo
A palavra e o verso
Em versos reversos
Que sonhamos.

Olho finalmente bem fundo
Os versos de Ana Cristina,
Enrola minha língua,
Os sentidos se expessam,
Porém com elegância.

Os versos de Ana C
São os mesmos de Dante:
Gatografia prismática
De uma escritora sutil
Entrando no paraíso.

Olho bem fundo o poema
De Ana Cristina Cesar,
Mas acho o oco do bloco
Escrito à pena.

Olho bem fundo
O olho do poema
De Ana Cristina Cesar
Mas mergulho em superfícies
Que me tolhem a cabeça.
O que acho?
Só o infinito fundo sem fundo.

Não sou Gil
Que a lê por inteiro;
Nem Mary
Que procura sentido.
Somente vejo sob a maquilage
A Gata de Olhos Pardos,
Aprontando-se no camarim.

Olho fundamente
O olho da atriz
Que se dandiza
Nas cartas
Escritas de Paris.

Ana Cristina
É a minha neblina,
Lançando as luvas
E não entregando as chaves.

Seus olhos de crayon
Analisam os meus
E me chamam hipócrita,
Crack, vertiginosa.
O olho de Ana C
Me vê pela fechadura
Enquanto veste os seus brilhos
Para exibir o poema.
A carta de Paris
É uma missiva
Que transforma em pó
Quem olha para trás de Eurídice
Mais uma das suas meninas sérias.

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