Quando
completou 49 anos de vida, uma famosa atriz fez uma declaração terrível: “No fim da minha vida estou descobrindo que
não sou uma pessoa amável, que não mereço ser amada, que tem alguma coisa de
muito errada comigo”.
Tais
palavras mostram uma pessoa que, aparentemente, chegou ao fundo do poço da
infelicidade. Também demonstram que o ser feliz para ela está associado ao
amor, na relação de ser amável e ser amado.
Não
sei por que, ao ler tal declaração – talvez como contraponto – ocorreu-me a
lembrança de outra pessoa, aparentemente feliz. Ele tem apelido de Nô e nunca
teve uma vida carregada de glamour, luxo e riqueza. Veio de uma família humilde
e nem mesmo conseguiu elevar sua estatura física: não chega aos um metro e
cinquenta.
Ao
longo do tempo, foi acumulando aparentes defeitos, que tornavam sua vida cada
vez mais custosa.
Primeiro,
foi o analfabetismo, que lhe impossibilitou atos triviais, como o de olhar as
horas.
Tentando
ajudá-lo, seu irmão deu-lhe de presente um relógio que, logo logo, foi
devolvido, Deus que te pague, como algo imprestável.
Dias
desses, perguntei-lhe como se orienta diante de rotinas – almoçar, por exemplo.
-
Eu olho para o Sol – explicou ele, sorrindo.
-
Mas, e quando está chovendo?
-
Aí, eu vou pela barriga – completou, com um sorriso grande.
Não
pense que tal diálogo foi fácil. Nô sentiu crescer, à medida que o tempo passava,
outro “poblema”, o da surdez. Recorrendo a dados estatísticos, tão caros ao amigo
Amador (aquele de “Atração Fatal”, postada em 13/04/2013), creio que o índice
de surdez de Nô anda na casa dos 94,8%.
Anos
atrás, arrumou uma infecção no pé e, só recentemente, conseguiu passar por uma
cirurgia, que lhe extirpou o dedão do pé direito. Quando lhe pergunto como está
de saúde, responde:
-
Estou bem, com a graça de Deus.
-
E o dedo?
-
Ah, o dedo ficou com doutor Alfredo!
Não
sei se Nô teve algum envolvimento afetivo. Sei que não se casou e mora sozinho.
Para
ameniza um pouco sua solidão, o mano deu-lhe de presente um rádio que, logo
logo, foi devolvido, Deus que te pague, pois a altura do volume haveria de
incomodar muito os vizinhos.
Assim,
sem dedo, surdo e analfabeto, Nô vai tocando sua vida. Caso lhe pergunte se é
feliz, haverá de me dar uma resposta que imagino qual seja. Ela não é transcrita
aqui, em respeito àquelas outras pessoas que, por caminhos diferentes, também
conseguem ter essa tal felicidade.
PS1:
Como provocação, sabendo que você é desprendido e não se incomoda em compartilhar
suas descobertas de vida, por que não deixa aqui suas considerações sobre esta
questão, da felicidade?
PS2:
Só não vale mandar as pessoas tomarem Fluoxetina.
Etelvaldo
Vieira de Melo
1 comentários:
No , apesar das vicissitudes da sua vida , me parece uma pessoa feliz.Posso inferir que para ele a felicidade năo ě algo ligado a coisas materias e sim ao estado de espírito, com o que tamběm concordo.
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