Salta aos olhos da cara que
este texto é endereçado a um público específico: aquele que passa pelas casas
dos “entas”, que atingiu o patamar da “juventude acumulada”. Entretanto, que
não o subestimem os demais possíveis leitores, pois haverão de chegar lá um dia
– se as forças do destino conspirarem a favor.
Antes de falar das considerações pertinentes, chamo a
atenção para os eufemismos com que uma idade em que a vaca está indo pro brejo com chifre e tudo é brindada (não seria
melhor dizer blindada?): melhor idade, terceira idade, juventude acumulada,
maturidade, pessoa vivida e experiente. Tudo muito bonito, respeitando a máxima
do “engana que eu gosto”. Já a expressão “pé na cova” é sinal de sadismo. Mas
vamos ao que interessa.
Sei que se sente como Bartolomeu Dias ao atravessar o
Cabo das Tormentas. Você que até aqui navegou na sua vida em águas tranquilas,
de repente, enfrenta um mar raivoso, acometido por dores pra tudo quanto é
lado. Entretanto, tal qual Dom João II, quero lhe mostrar que, sob certos
aspectos, este cabo pode ter outra denominação: Cabo da Boa Esperança. É o que
vai ver em seguida. Não estou querendo “dourar a pílula”, engabelar você,
fazê-lo de trouxa. Simplesmente, quero lhe mostrar que, o que dá pra chorar,
também pode fazer rir.
São oito as revelações. As quatro primeiras foram
compiladas por Leon Beaugeste e estão em piadasantigasenovas.blogspot.com.br;
as quatro últimas resultam de aconselhamento junto ao meu vizinho Jacinto das Dores Vitais,
ele que já faz parte desse honroso (quase escrevi horroroso), garboso e
impoluto time da “juventude acumulada”.
De Leon Beaugeste – Quatro motivos para se sentir bem com
a idade que tem:
1º) Ninguém mais o considera hipocondríaco;
2º) Seus segredos ficam bem guardados com os amigos,
porque eles esquecem;
3º) As suas articulações passam a ser mais confiáveis que
o serviço de meteorologia;
4º) O seu investimento em planos de saúde finalmente
começa a valer a pena.
Já Jacinto das Dores, com base em sua experiência de vida,
pede que eu registre os seguintes conselhos:
1º) Modere seu fluxo verbal.
Não
se sabe bem por que, você, antes tão contido, reprimido, comprimido, tampado, travado,
enrustido, de repente, abriu a porteira, destramelou a língua e desandou a falar
“pelos cotovelos”. Eu daria parabéns para a sua fluidez verbal, se não notasse
que ela passa dos limites da conveniência. Lembre-se do ditado que diz “quem
fala muito dá bom-dia a cavalo”. Só posso dizer que moderação no linguajar
(além do enigmático caldo de galinha) não faz mal a ninguém.
2º) Não se acanhe de se aproximar do sexo
feminino.
Você
se lembra como era difícil se aproximar do sexo feminino? Não é por nada não,
mas agora você pode ir sem susto. As mulheres já se deram conta de que você se tornou
um cão que ladra, mas não morde. Então, por brincadeira, uma vez ou outra tente
atacar uma delas. Não vai dar em nada, mas ambos terão motivos para boas
risadas.
3º) Procure expandir seu círculo de relações
sociais.
Hoje
em dia, as pessoas vivem isoladas umas das outras. A comunicação interpessoal
está em petição de miséria. Aproveite de ser você uma exceção para essa regra.
As pessoas não temem cumprimentá-lo. Use desse seu direito quase exclusivo, mas
respeitando os limites, conforme primeira recomendação.
4º) Usando da gratuidade do transporte coletivo,
não se esqueça de um agrado para motoristas e trocadores (também chamados de
“agentes de bordo”).
Finalmente,
entenda que é natural a má vontade dos motoristas dos transportes coletivos em
tê-lo como passageiro. Além de não pagar passagem, você tem se mostrado um
sujeito cada vez mais lento e mais lerdo. Somado a um trânsito caótico, isto
faz com que a profissão de “motô” se torne cada vez mais estressante. Uma coisa
que poderá lhe render alguns dividendos é você se abastecer com algumas
guloseimas – balas, especialmente – para oferecer aos motoristas e aos
trocadores. Adoçando suas bocas, talvez amoleça seus corações.
Jacinto lembra que, depois de muita enrolação, 1º de outubro foi oficializado como Dia
do Idoso. Também pede aos leitores para anotarem a data em suas agendas. Segundo
ele, a data tem passado em brancas nuvens, sem que uma viva alma se lembre de
lhe oferecer uma balinha jujuba que seja.
Etelvaldo Vieira de Melo
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