Jogando
rápido e rasteiro como o (antigo) time do Cruzeiro, quero lhe fazer uma proposta
indecente: a de deixar esse vício de ser um torcedor de futebol.
Por
favor, não saia correndo. Deixa, pelo menos, eu explicar o teor da proposta.
Caso não seja convincente, dou-lhe o direito de me nomear com todos aqueles
palavrões que você usa nos estádios. Se eu acertar na mão, estarei lhe
prestando um favor, do qual será grato por toda a vida. Ele é de graça, pois
não sou da laia desses políticos que vivem do toma lá, dá cá – mais dá cá que
toma lá.
Minha
ideia é simples, mas – a exemplo dos aplicativos da Internet – preciso de sua
permissão para entrar no disco rígido de seu cérebro e ali fazer modificações.
Antes,
porém, preciso fazer um reparo. Sei que você anda de olho atravessado com Cuba,
último baluarte do comunismo no mundo, notadamente por essa história de
importação de médicos.
A
lembrança de Cuba aparece como contraponto ao capitalismo, esse, sim, que deu
certo e que será usado amplamente aqui - já que, como fala o dito esportivo,
não se mexe em time que está vencendo.
Deixando
de lado a burocracia de ter que ler todos os quesitos de nosso contrato e
pedindo-lhe para que coloque logo um V no
quadradinho do “li e concordo”, lá estou eu me aventurando a penetrar em sua
cabeça. Já recebi uma vacina múltipla (para me prevenir contra a contaminação
por vírus letais); também estou equipado com óculos de raios infravermelhos,
para não me perder nos meandros e labirintos de seu cérebro, muitos deles sem saída,
com risco de cair em armadilhas mortais; finalmente, não deixei de me equipar
com armamentos e munições apropriadas, para enfrentar espectros de psicopatas e
seriais killers.
Veja
o que estou vendo: No vestíbulo de sua mente, existe um armário onde você
guarda suas armas, todas trancadas com chaves, exceto uma prateleira onde está
exibido um Dicionário de Palavras
Obscenas e Ofensivas. Como ainda carrego muito de inocência, não vou ler
sequer uma de suas páginas.
Na terceira ou quarta sala, encontro
uma caixa, de onde saem ramificações, chamada de Núcleo Central ou Elemento
Alfa (µα); ali ficam armazenadas todas as motivações que fazem de você um
torcedor. É aí que terei acesso a códigos secretos e onde irei implantar o
explosivo PCB (o que não é sigla de Partido Comunista Brasileiro). Ele irá
contaminar o Núcleo, arrebentando com as suas motivações de ser torcedor de
futebol. O Capitalismo irá nos proporcionar essa arma.
Ele,
o Capitalismo, está estruturado sob/sobre (não sei bem ao certo) certas regras.
Uma delas fala das relações de custo e benefício. Quando alguém for fazer algo,
deve colocar numa balança imaginária, de um lado, os gastos, os custeios; de
outro, as vantagens, os benefícios. Da relação custo X benefício sai a decisão
se vale ou não vale a pena comprar um produto ou tomar determinada atitude.
Ora pois, do ponto de vista lógico,
se você encontra uma vantagem em torcer para determinado time, as desvantagens
são duas, no mínimo. Para o torcedor de futebol, existem, pelo menos, dois times
do coração: um que ele ama e, outro, que ele odeia, quer ver morto. A bem da
verdade, o torcedor legítimo sente maior prazer em ver o time rival derrotado
do que o seu ganhando. Tudo está explicado num quadro que os matemáticos chamam
de análise combinatória. Quando você
confronta os resultados de seu time do coração com aquele que você quer ver
morto, encontra três alternativas positivas contra seis negativas (por exemplo,
quando seu time “A” vence (V) e o time rival “B” também vence (V), o resultado
é negativo (-), pois “B” não deveria vencer).
A
|
V
|
V
|
V
|
E
|
E
|
E
|
D
|
D
|
D
|
B
|
V
|
E
|
D
|
V
|
E
|
D
|
V
|
E
|
D
|
R
|
-
|
+
|
+
|
-
|
-
|
+
|
-
|
-
|
-
|
Este
princípio (Principio de Custo X Benefício: PCB) é que estou tentando implantar
em sua mente, o explosivo que pode ser capaz de detonar com as suas motivações
de torcer para determinado time.
Se você entrasse no submundo do
futebol, com jogos e campeonatos comprados, salários estratosféricos de
jogadores, dirigentes corruptos, você encontraria mil razões para deixar a
condição de torcedor. Como você dá mostras de um comportamento sadomasoquista,
talvez essas razões não sejam suficientes. É por isso que estou apelando para
nosso Irmão Maior, aquela autoridade suprema do mundo moderno, o Capitalismo,
extraindo de seus princípios básicos algo que lhe ajude a deixar de lado essa
bobagem de ficar torcendo a troco de derrotas. Em síntese, se você tem 3 (três)
motivos, pelo menos, para ser um torcedor, lembre-se que, em contrapartida,
terá, pelo menos, outros 6 (seis) para deixar de ser.
PS:
Este argumento poderá funcionar após uma derrota, mas não em condições normais
de temperatura e pressão, quando o futebol funciona como anestésico, um tipo de
ópio do povo.
Etelvaldo
Vieira de Melo
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