PAN PAN PAN PAN

Você assistiu aos jogos pan-americanos de Toronto pela TV? Comecei a ver a partir das disputas de natação, tendo perdido as apresentações de ginástica – justamente aquelas que são minhas preferidas.
Durante os jogos, duas imagens chamaram de maneira especial minha atenção.
A primeira delas foi de atletas brasileiros fazendo continência, quando da entrega de medalhas. Na primeira vez que vi a cena, fiquei agradavelmente surpreso. Depois, fiquei querendo mais e mais. Quando procurei saber os detalhes daquelas cenas inéditas para mim, fui informado de que aqueles atletas eram militares das Forças Armadas. Junto com o esclarecimento, li muitas asneiras, como teorias conspiratórias e jogadas de marketing. O que ficou foi o gesto de patriotismo e de orgulho por ver a bandeira brasileira sendo hasteada e o hino nacional sendo tocado.
Outra cena que chamou de maneira especial minha atenção foi dada pelas jogadoras de vôlei dos Estados Unidos. É comum jogadores de vôlei se abraçarem quando da conquista de pontos. A inovação dessas atletas foi elas se abraçarem quando uma errava e o time perdia ponto. Aquele gesto de abraço (que não era de tamanduá) mesmo na derrota parece que unia mais o grupo, representava uma força a mais para a conquista de vitórias que viriam no final.
Normalmente, o que ocorre é os atletas se abraçarem na conquista de pontos, enquanto aquele que comete um erro ter que amargar quase que sozinho a falha. Com isso, muitos demoram a retomar a autoestima, o que ocasiona, muitas vezes, derrota para a própria equipe.
Esses dois exemplos deveriam ser copiados em várias situações de vida. Gostaria que servissem de modelo para uma classe em especial, a política.
O Brasil vive momentos conturbados nos planos político, econômico e social. Os políticos deveriam zelar pelo bem comum, deveriam ser modelos de patriotismo, teriam que estar unidos em torno de seus partidos. Mas nada disto ocorre. Muitos manifestam reação alérgica quando se fala em patriotismo; fidelidade partidária é uma balela, enquanto muitas lideranças ficam falando grosso, fazendo ameaças, quando deveriam estar por trás das grades, por comprovadas denúncias de corrupção, desvio de dinheiro público (eufemismo para roubo) – dinheiro do povo, extorquido das massas assalariadas.
Os jogos pan-americanos deram belos exemplos. Pena que não são aproveitados.
De minha parte, tenho dois propósitos.
O primeiro: sempre “abraçar” as pessoas que me estão próximas, notadamente quando se encontram em momentos difíceis.
Outro: vou procurar de todas as maneiras os meios de demonstrar patriotismo. Esta é uma questão que me parece um tanto quando difícil – como um cidadão, de estatura mediana, do baixo estrato social, mais pra lá do que pra cá, pode manifestar, através de gestos concretos, o amor pelo seu país?
Atormentado por tal desafio, vejo que moro num país de contrastes. Se ele é tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza, por outro lado, gosto mais ou menos de carnaval, não sou Flamengo e não tenho uma nega chamada Tereza. Apesar da identidade linguística, vejo muitas diferenças regionais, de hábitos de vida e de maneiras de ser. Quase que me arrisco a dizer que se trata de um país impraticável.
Não levantaram a hipótese de dividi-lo em partes independentes? Pois acho que poderia ser assim. É mais fácil cuidar de uma casa pequena e acolhedora do que de um casarão.
Durante os jogos pan-americanos, uma terceira imagem me chamou a atenção. Não foi bem uma imagem, mas a lembrança de um país da América Central: a Costa Rica.
Ela apresenta dados modestos: uma extensão territorial de 51.100 km2 e uma população de 4.868.148 habitantes, segundo censo de 2013. No entanto, apesar, desses números, conseguiu erradicar o analfabetismo e é um exemplo de desenvolvimento sustentável. Outra de suas conquistas foi ter abolido as forças militares, dispondo apenas de força policial. Embora os dados estatísticos oscilem mais do que folhas de bananeiras, em minhas pesquisas observei que Costa Rica apresenta um alto índice de desenvolvimento humano (0,838 contra 0,744 do Brasil) e é um dos países que mais contribuem para a preservação do meio ambiente, sendo o 5º a nível mundial e o 1º entre os países americanos. Se a nossa expectativa de vida é de 74,9 anos, a dos costa-riquenhos é de 78 anos.
No frigir dos ovos, deixo aquele recado para a classe política do Brasil, lembro o compromisso de “abraçar” os meus próximos, enquanto tento desvendar o enigma da esfinge (como demonstrar amor para com esse “gigante deitado eternamente em berço esplêndido”).
Caso não consiga desvendá-lo, estou namorando três ideias: me mudar para “Feliz”, cidade do Rio Grande do Sul (onde poderei ser feliz sem fazer muito esforço), ir morar na Costa Rica (mesmo não hablando castelhano) ou, o que seria mais fácil – porque só teria que usar as asas da imaginação – pegar carona com Manuel Bandeira num trem pra Pasárgada.
Etelvaldo Vieira de Melo

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