FILOSOFINHAS FUTEBOLÍSTICAS


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A Copa do Mundo de Futebol chega ao fim, enquanto minha Caixa Postal fica entulhada de mensagens de leiturinos indignados. Tudo porque não dei a mínima atenção ao evento.
Está bem, confesso meu débito, minha aparente desatenção para com torneio tão extraordinário. E não pense você que vou inventar a desculpa que estava de férias, tipo magistrado (aquele que mais descansa do que trabalha e, quando se dá conta de uma lambança, saí correndo atrás do prejuízo). O culpado de tudo foi meu retardo mental, ou lerdeza: quando dei por mim, o Brasil já havia sido eliminado pela Bélgica. Por desaforo, passei a assistir a todos os demais jogos. Tal assistência me permite fazer os seguintes comentários:
1) Quando Portugal foi eliminado pelo Uruguai por 2x1, um de seus jogadores, em entrevista, mostrou ser uma pessoa de caráter: em vez de ficar arranjando desculpa esfarrapada, reconheceu o melhor futebol do adversário:
- Os uruguaios foram melhores; estão de parabéns – disse sem meias palavras.
Outra coisa que me chamou a atenção na fala do português foi o seu senso de objetividade. Parece que isso é outro traço do caráter lusitano: não fica enrolando; se tem que falar “pedra”, ele diz logo “pedra”, sem ficar num nhenhenhém de chiclete mastigado. O que me faz lembrar dois casos.
O primeiro tem a ver com a fala de João Pinto, ex-jogador do Benfica: “O meu time estava à beira do precipício, mas tomou a decisão correta: deu um passo à frente”. Tal fala pede uma distinção entre o que é correto e o que é certo. É certo, estando à beira de um precipício, dar um passo à frente? Isso faz lembrar muitas decisões do Judiciário aqui no Brasil: são corretas, porque amparadas na Lei, mas seriam certas? O certo está no plano da Ética, enquanto o correto é formalidade; um é questão de Lógica, enquanto o outro é problema moral. E, assim, vemos o Brasil patinando na legalidade, enquanto sua moral está toda enlameada.
O segundo foi narrado por uma conhecida. Estava ela em visita a Portugal, junto com um grupo de outros brasileiros. Fazendo compras numa casa de laticínios, um fulano perguntou para o vendedor, apontando para um queijo:
- Este queijo dura?
Ao que respondeu o português:
- Se não o comer, acredito que sim.
2) A segunda consideração é sobre a Croácia, mais precisamente sobre sua presidente, Kolinda Grabar-Kitarovic. Apaixonada por futebol, acompanhou os jogos de sua seleção no estádio, muitas vezes assistindo as partidas na arquibancada junto com a torcida. E mais fiquei sabendo: descontava de seu próprio salário os dias não trabalhados, suas viagens foram feitas em voos comerciais, pagas com seu próprio dinheiro, assim como os ingressos para as partidas.
Estudo caracterológico diz que o político autêntico (não aquele ladrão que entra na política para roubar) é, além de muito vaidoso, um carente afetivo, que quer ser amado, quer ter o reconhecimento e a aceitação popular. Ora, sabendo que o atual presidente do Brasil, Michel Temer, ostenta um índice de aprovação ridículo de 4,3 % (dados de maio/2018) e querendo crer que ele seja o tal do político autêntico, deixo aqui uma modesta sugestão para que recupere um pouco de prestígio. Nos poucos meses que lhe restam de um mandato que tão bem tomou, sugiro que faça uma peregrinação pelos estádios de futebol do país, assistindo as partidas do Campeonato Brasileiro. É importante que ele vá para a arquibancada, bancando do próprio bolso as viagens e os ingressos. E mais ainda: que mande descontar as horas que porventura venha a faltar no trabalho.
De uma coisa tenho certeza: sua atitude irá causar um impacto profundo no sentimento da combalida população brasileira, sentimento que anda caindo mais do que o Neymar em jogo de futebol.
Sobre e Croácia digo mais: será campeã mundial. Consultei os astros, mas o resultado não foi muito preciso por causa do tempo nublado: talvez empate no tempo normal e na prorrogação, com 7X6 na disputa de pênalti (ou 3X2); talvez 4X2 ou 2X0 no tempo normal. E olhe que estou publicando isso mais de 24 horas antes da partida!
3) A terceira e última lembrança vem com um jogador do Uruguai, autor dos dois gols da vitória de seu time sobre Portugal, Cavani – Edinson Roberto Cavani Gómez. Estive lendo trechos de seu diário, onde faz uma revelação surpreendente (e que eu transcrevo, com muita alegria):
“Quando você é criança, você tem a sensação de que a pessoa mais bem-sucedida é aquela que tem mais coisas. Quando você cresce, percebe que a pessoa mais bem-sucedida é aquela que tem a sabedoria de viver a vida.”
Etelvaldo Vieira de Melo

1 comentários:

Fátima Fonseca disse...

Filosofar sim p prosseguir...
"Quando você é criança, você tem a sensação de que a pessoa mais bem-sucedida é aquela que tem mais coisas. Quando você cresce, percebe que a pessoa mais bem-sucedida é aquela que tem a sabedoria de viver a vida.”

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