ADVERTÊNCIA: Este texto
pode ocasionar, como efeito colateral, náuseas e boca amarga. Sugestão de
consumo: quando da leitura, ingerir, concomitantemente, uma bala jujuba (que
poderá ser enviada, via e-mail, sem custos adicionais).
Amigos e conhecidos me orientam: - Escreva sobre acontecimentos e
pessoas que lhe estão próximos, evitando falar de política.
Tento fazer isso, já que falar de política é quase como jogar conversa
fora, produzir algo que logo será descartado (e que dificilmente irá despertar
interesse dos leitores do futuro, aqueles que estão nas “nuvens”). Logo, não é
meu interesse ser produtor de sucata.
No entanto, é preciso considerar que, vez por outra, terei que
contrariar tal recomendação, dissertando justamente sobre esse tema proibido.
É o que acontece hoje, quando falo da tal “flexibilização do porte de
armas”. Acho importante refletir sobre tal assunto porque ele traz no seu bojo
uma série de armadilhas, contra as quais devemos nos precaver (ia escrever
“precatar”, mas achei o termo um tanto quanto pedante).
É sabido que a “flexibilização da posse de armas de fogo” (eufemismo
que quer dizer: - Liberou geral) é um decreto presidencial de 15/01/2019, uma
das primeiras providências do governo Bolsonaro (não seria Bolonsaro?),
mostrando que se tratava de uma de suas prioridades.
Assim que o decreto foi assinado, a ANIAM (Associação Nacional da
Indústria de Armas e Munições) desta forma se manifestou: “Dentro das limitações do decreto, o presidente da República, Jair
Bolsonaro, foi muito feliz nas medidas estabelecidas, cumprindo com o que foi
prometido em sua campanha eleitoral”.
Querendo mais, algumas outras associações torceram a cara, julgaram
pouco, pedindo não só a liberação da posse de arma como também o seu porte. No
entanto, sabemos que tal pretensão só pode ser decidida pelo Congresso, com o
presidente impedido de dar mais um chamegão com sua caneta BIC.
O decreto presidencial fixa algumas exigências para que pessoas com
mais de 25 anos de idade possam fazer registro de até 4 (quatro) armas. Entre
elas, está a de que o requerente disponha de cofre ou local com tranca, para
dificultar o acesso por parte de crianças, adolescentes ou pessoas com
deficiência mental (esta é uma exigência típica da qual a gente pode falar: - É coisa para inglês ver”).
Por esses dias, já tivemos uma prova de como isso é conversa fiada: - na
manhã do domingo, dia 17/03, uma menina de 10 anos, em São Caetano do Sul, SP,
pegou a arma do próprio pai, cometendo suicídio.
Outra balela do decreto presidencial: ele só vale para moradores de
cidades em que os índices anuais de homicídios superem a taxa de 10 a cada 100
mil habitantes, ou seja, ele vale para 4 entre cada 5 brasileiros.
Como cereja para decorar esse bolo indecoroso, sua excelência disse: - Este decreto foi feito por muitas pessoas
de bem para que o cidadão de bem tenha sua paz dentro de casa”.
Uma coisa que me incomoda nessa fala: eu me tenho como cidadão de bem e
não acho que essa tal flexibilização irá me trazer paz, muito pelo contrário. Para
corroborar esse pensamento, cito as palavras do coronel reformado José Vicente
da Silva, da Polícia Militar de São Paulo, para quem o decreto vem aumentar os
casos de homicídios e latrocínios em todo o país. Ele diz: - O acesso ás armas é um instrumento de
morte. Arma de fogo não é instrumento de defesa para assustar. É um instrumento
para matar. O instrumento de combate à violência é o trabalho policial”.
O que assusta em tudo isso é a forma irresponsável com que o destino de
vidas humanas é decidido. Não estou falando de maneira hipotética, não! Os
fatos, as mortes, estão aí acontecendo e irão acontecer muito mais, respaldados
por uma propaganda eleitoral, onde os candidatos vitoriosos faziam pose como se
estivessem atirando.
Frente ao massacre de Suzano, um senador da República pelo PSL de São
Paulo, Major Olímpio, teve o desplante de dizer: “- Se tivesse um cidadão com arma regular dentro da escola, professor,
servente, um policial militar aposentado, ele poderia ter minimizado o tamanho
da tragédia”.
Tanto descalabro no trato com vidas humanas mostra que o Brasil, em vez
de ser conhecido como República Federativa do Brasil, deveria se chamar
República Federativa dos Caranguejos. Estamos andando para trás, para os tempos
de faroeste. Pelo andar da carruagem, breve teremos como disciplina nos
currículos escolares a prática de tiros, com direito a exemplos concretos de
tiroteios envolvendo professores, funcionários e alunos.
Vai chegar o tempo também em que pastores tidos “evangélicos” (e que
deveriam seguir e pregar o preceito bíblico de “não matar”) irão provar do
veneno que recomendam para os outros: irão assistir a tiroteios dentro de suas
próprias igrejas e templos. (Estou me referindo a pastores porque muitos deles
se manifestaram em noticiários, declarando apoio ao decreto de flexibilização; padres,
médiuns e pais-de-santo, caso pensem assim, da mesma forma terão o meu
repúdio.)
No início do texto, chamei a atenção para as armadilhas que o tema
acarreta, prometendo fornecer subsídios de defesa. Ei-los:
1) Como fica difícil fiscalizar as casas dos portadores de armas para
ver se dispõem de cofres ou trancas, sugiro às autoridades o emprego de
tornozeleiras eletrônicas nas referidas armas, a fim de monitorá-las, sem
contudo obstruir-lhes o uso. As tornozeleiras poderão ser adquiridas junto aos
procuradores da Lava Jato, eles que adoram esses artefatos e os têm de montão.
2) Caso algum Leiturino disponha de fundos de reserva ($$$), recomendo
que faça deles uso, instalando uma fábrica de capacetes e coletes à prova de
bala. Como estamos voltando à época do faroeste, o capacete poderá ter o
formato de chapéu, para que tudo fique de acordo com o figurino do Velho Oeste.
3) Para aqueles que julgam que estamos chegando ao estágio de “matar ou
morrer”, que já não é mais possível abrir mão do porte de arma, minha sugestão
é no sentido de que adquiram jogos de videogame sobre o tema. Eles serão úteis,
ensinando várias técnicas de tiro. Eu mesmo disponho de dois muito bons: “Red Dead Revolver” e “Call of Juarez Guslinger”. Quem quiser
emprestado, é só me enviar o pedido.
JUSTIÇA ACIMA DE TODOS. VERDADE ACIMA DE TUDO
Etelvaldo Vieira de Melo
1 comentários:
O homem precisa descobrir a humanidade. Enquanto houver instrumento que mata é porque estamos ainda muito atrasados.
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