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Vamos ver se você leva jeito para comerciante.
Vamos supor que, talvez influenciado pela atual onda retrô, resolva
montar uma mercearia nos moldes de antigamente.
Vamos supor que você lhe dê o nome de “Empório Compre Bem”.
Estamos no dia da inauguração. Você, Olestário Grabuloso, está atrás de
um balcão comprido, dividido em repartições de arroz, feijão, açúcar, macarrão
e outros cereais. No bolso da camisa, tem uma caneta (na falta de uma Parker 51,
pode ser uma Bic); atrás da orelha, um lápis Johann Faber. Você se cobre com um
avental longo, de lona flanelada.
Uma das primeiras freguesas é dona Gertrudes. Ela diz:
- Bom dia, seu Lelê. Por favor, providencia pra mim três quilos e meio
de açúcar cristal.
Você, imediatamente, pega um saco de papel e o coloca sobre um dos
pratos da balança, daquelas de antigamente. Ao pegar os pesos correspondentes
para serem colocados no outro prato, vê, consternado, que só possui os de um e
de cinco quilos. Você coça a cabeça e se pergunta: - Como vou fazer para
atender ao pedido de dona Gegê?
...
Não sei se influenciado pelo sonho de consumo de um rádio retrô, esse
exercício de raciocínio me veio à memória, assim que li a notícia abaixo num
jornal eletrônico:
Lula é condenado a
12 anos e 11 meses de prisão no caso do sítio de Atibaia
Antigamente, a Justiça era representada por uma mulher. Tratava-se da
divindade grega Têmis que, de olhos vendados, segurava uma balança na mão
esquerda e uma espada, na direita. A balança no alto simbolizava que a verdade
deve se colocar acima das paixões humanas, enquanto que os pratos iguais da
balança indicam que não há diferenças entre os homens quando se trata de julgar
os erros e acertos. Vejo outro simbolismo na imagem: o ato de praticar a
justiça (simbolizado pela espada) vem depois do julgamento (colocar na balança
e pesar).
Destituído das atribuições jurídicas, sendo mesmo uma analfabeto das
leis e do Direito, só quero dizer que me chamou a atenção na notícia da
condenação de Lula a precisão cirúrgica dos números: um inteiro e uma fração,
como se a juíza Gabriela Hardt estivesse resolvendo uma equação matemática tão
somente, e não o destino de um ser humano.
Pode ser que ando com parafusos a menos no meu já desgastado cérebro,
ao ponto de enxergar chifres em cavalos, mas chego a considerar que a sentença
foi um acinte, uma gozação para com Lula e o PT. Ao perfazer a sentença em 12
anos e 11 meses, a juíza deixou faltar 1 mês para inteirar 13, que é símbolo do
PT.
Subliminarmente, ela parece dizer: - Veja bem, eu poderia chegar aos
“13” anos de condenação. Para não parecer que estou de marcação com você, Lula,
e o PT, decidi condená-lo a 12 anos e 11 meses.
Como disse anteriormente, pode ser que eu esteja com parafusos a menos
no cérebro. Verificando notícias do processo, vejo que Lula já cumpre pena de
12 anos e l mês determinada pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4),
por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do tríplex no Guarujá (SP).
Nesta sentença, também aparece um simbolismo: 12 (anos) + 1 (mês) = 13.
Uma leitura apressada de tudo isso poderia ensejar a seguinte
conclusão: o propósito da operação Lava Jato em todos os seus desdobramentos
visa, acima de tudo, exterminar Lula e acabar com o PT. Para tanto, as provas
pouco importam: a sentença da juíza foi proferida com erros grotescos (um mesmo
delator citado como se fosse duas pessoas diferentes, Lula sendo culpado por
“corrupção ativa”), como se “meros erros materiais” também não viessem ao caso.
Sendo assim, nem vale a pena questionar por que a simples reforma de um sítio
(R$1,02 milhão) possa representar uma condenação maior do que a posse de um
apartamento tríplex.
Mas existem outras leituras possíveis. Pode ser que nosso Sistema
Judiciário entenda que a Justiça deva ser vista sob outra representação: a da
divindade grega Diké ou Astreia. Filha de Zeus e de Têmis, ela, de olhos bem
abertos, segura a balança na mão esquerda, enquanto que a direita segura uma
espada. A espada está no mesmo nível da balança.
Uma leitura para tal representação. A Justiça de olhos abertos pode ser
seletiva: para uns, SIM; para outros, NEM PENSAR! (Onde anda o Temer, aquele
que “era chefe da quadrilha mais perigosa do Brasil”, por exemplo?) A espada no
mesmo nível (ou acima) da balança simboliza: os fins justificam os meios.
Um último aspecto a ser considerado: o Brasil é inventivo. Um país onde
existem as urnas eletrônicas, também pode ter o Sistema Judiciário usando de
balanças eletrônicas para pesar as sentenças. Assim, foi possível chegar aos
resultados de 12,1 e de 12,11 para a condenação de Lula. Neste caso, o que falta: os laudos das
sentenças virem com aquela plaquinha, dizendo: “Aferido pelo IMETRO”.
Fiquei sensibilizado quando vi a Justiça ser representada por Têmis,
dizendo que a Verdade deve se colocar acima das paixões humanas, que não há
diferença entre os homens quando se trata de julgar erros e acertos.
Quanto ao jeitinho brasileiro de fazer Justiça, não sei se o IMETRO
está fiscalizando direito os tribunais com suas balanças eletrônicas. Balança
por balança, sou mais a da mercearia do Olestário. A propósito, você chegou a
algum resultado para pesar o açúcar de dona Gegê?
Etelvaldo Vieira de Melo
1 comentários:
Peso justo suas colocações.
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