CARTA ABERTA
AO JUIZ LUIZ ROBERTO BARROSO
Excelentíssimo Juiz:
Quando o site investigativo The Intercept Brasil vazou troca de
mensagens entre o ministro, e então juiz, Sérgio Moro e os procuradores da
operação Lava Jato, Vossa Excelência, mais que depressa, veio a público,
através de entrevista para o canal de TV Globo News, manifestar seu repúdio e
sua indignação. Tal açodamento em criticar o senhor não manifestou ao longo
desses anos, quando tais denunciados cometeram todo tipo de atrocidade legal e
moral, vilipendiando a Constituição, vazando informações e denúncias seletivas,
grampeando conversas telefônicas, ao ponto de ocasionar o impeachment de uma
presidente democraticamente eleita.
Sentindo-me moralmente ofendido, venho, através desta Carta Aberta,
tornar pública minha indignação diante das palavras proferidas por Vossa
Excelência. De forma objetiva, irei me ater a três de suas declarações.
1ª) “Tenho dificuldade em
entender a euforia que tomou os corruptos e seus parceiros.”
Tais palavras refletem uma visão maniqueísta do momento presente do
país, como se tudo não passasse de uma polarização, onde – de um lado –
estariam os ditos cidadãos de bem e – de outro – os corruptos e seus parceiros.
Ora, eu me tenho como cidadão de bem, mas não jogo em nenhum desses
times. Entrando em maiores detalhes, quero dizer que também não sou petista ou
lulista. No entanto, ao tomar conhecimento do vazamento das trocas de
mensagens, em total promiscuidade, entre um juiz e operadores da Lava Jato,
também fui tomado de euforia.
Talvez V.Exª. não compreenda, mas existem cidadãos neste país que se
preocupam em entender a verdade dos fatos, além do jogo de interesses e de
poder. Para muitos – a maioria dos brasileiros – seria ótimo que o título do
filme que homenageia a Lava Jato, “A Lei É Para Todos”, fosse realmente
expressão da verdade. Como cidadão de bem, só quero isso: justiça, justiça para
todos.
2ª) “As conversas foram obtidas
mediante ação criminosa. E é preciso ter cuidado para que o crime não
compense.”
Não entro no mérito desta colocação, já que tal “ação criminosa” tem um
sentido relativo. Para uns, ela é crime hediondo; para outros, não passa de
pequeno deslize, justificável dentro da máxima de que “os fins justificam os meios”.
No entanto, é preciso notar que
os crimes (deslizes) dos vazamentos e dos grampos telefônicos perpetrados por
Sérgio Moro e Lava Jato forjaram uma “opinião pública” para a qual Vossa
Excelência, Juiz Luiz Roberto Barroso, passou a fazer reverência, como se ela
fosse a Senhora da Verdade, a Dona do Poder, cuja vontade deveria ser acatada,
mesmo ao atropelo das leis e da Constituição.
Pura ironia, não é mesmo? Uma farsa, uma falácia, passou a representar
(para o senhor) a expressão da verdade que não era possível. Vossa Excelência
precisa rever seu conceito de “desejo do povo”, “vontade das ruas” porque ele
foi construído em cima de pressupostos sórdidos, manipulados e jogados sobre as
pessoas, contando com a conivência de uma Imprensa, um Congresso e um Supremo
Tribunal venais.
Quanto à ideia do crime compensar, estamos vendo como ele compensa para
uns: o Poder na mão de quem está, o país sendo sucateado, entregue à ganância
de empresas daqui e de fora. Enquanto isso, a população mais carente enfrenta o
desemprego e até a miséria.
3ª) “Na vida, o que é certo é
certo, o que é errado é errado.”
Como cidadão que trabalhou no magistério, tenho comigo que devemos
sempre nortear nossas ações em busca do que é certo, do que é verdadeiro.
Existe uma passagem bíblica (lembrada bem a propósito, agora que o chavão do
governo coloca “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”) que diz: “Conhecereis a verdade e a verdade vos
libertará”. Infelizmente, a história
de nosso país, especialmente nos últimos anos, tem sido escrita em cima de
mentiras, de chamadas fake News. As eleições ocorreram nesse clima. Eu tinha
comigo que nada de bom poderia vir a partir de mentiras. E é por isso que,
agora, estou eufórico. Estou vislumbrando um pouco de verdade em meio a esse quadro
de mentiras e falsidades, que é o Brasil de hoje.
José Padilha, diretor da série “O mecanismo”, fazendo uma releitura de
seu posicionamento frente a Sérgio Moro, Lava Jato e corrupção no país, disse: “Se novos fatos contrariam as minhas
crenças, mudo de crença em vez de negar os fatos”. Considero essa fala como
expressão de humildade e de sabedoria. Afinal, ninguém é dono absoluto da
verdade, todos estamos sujeitos a cometer erros. Como bem diz o ditado: Errar é
humano, admitir o erro torna a pessoa melhor, permanecer no erro (negando o que
é certo) é sordidez, cretinice, arrogância, coisa de canalha.
Atenciosamente.
Etelvaldo Vieira de Melo
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