Imagem: cristinamonte.com.br |
Existe
uma história que me é muito cara. Ela conta as aventuras de um mosquito de nome
Namous, que foi morar na orelha de um elefante. Ali, ele viveu muitas
aventuras, constituiu família, teve seus filhos. Chegou o dia em que ele teve
que se mudar. Como um mosquito bem-educado - era chamado de “O Perceptivo” -
foi comunicar a decisão ao elefante. Este, por muito custo, ouviu as palavras
de Namous. Como resposta, balançou a cabeça e, com tal gesto, quis dizer: - Vá
em paz, pois sua presença na minha orelha me foi indiferente. Para dizer a
verdade, nem sabia sobre sua existência!
De
certa maneira, eu me sinto como esse mosquito nas minhas relações sociais.
Convivo com pessoas que me tratam com indiferença, para as quais represento
muito pouco, quase nada. Mas não pense que faço esse reconhecimento com mágoa
ou desgosto, pois bem sei que assim é a vida: somos relevantes para alguns e
indiferentes para a maioria.
Esta
consideração vem a propósito de um fato que acaba de me ocorrer. Durante certo
tempo, participei de um grupo, desses formados pelo WhatsApp. Seu propósito era
resgatar boas lembranças de uma convivência dos tempos de adolescência e juventude.
Muitos fotos e muitas histórias poderiam ser compartilhadas. De fato, isso
ocorreu, sendo que eu mesmo, por várias vezes, postei fotos e enviei
comentários.
Aconteceu
que aquele propósito inicial de confraternização começou a ser deixado de lado,
sendo substituído por ofensas e agressões, tudo a troco de divergências políticas
e ideológicas.
Não
sou contra a manifestação política seja onde for, mesmo porque não podemos
fugir dela. Como dizia Aristóteles, o ser humano é um animal político. Uma
pessoa se declarar apolítica é enganação, mentira, balela.
Sempre
vi com bons olhos o debate, o confronto de ideias. Através dele, podemos
questionar nossas convicções, corrigir nossos erros, amadurecer. Aquele grupo
podia acrescentar muito no desenvolvimento de cada um de seus membros, pensava
eu. A soma de tantas experiências poderia ser algo extraordinário.
Infelizmente,
chegou o momento em que percebi que aquilo não estava sendo, pelo menos para
mim, uma oportunidade de somar, de crescer. No começo de tudo, pensava assim: -
Hoje vou ler um tanto de postagem que irá tornar meu dia melhor ainda! De
repente, comecei a ver manifestações carregadas de raiva, ódio, intolerância,
preconceito, arrogância, cinismo. Definitivamente, comecei a perceber que
aquilo não era um bem, que eu estava me tornando uma pessoa mal-humorada,
carregada daqueles defeitos que tanto recriminava nos outros. Eu, que tinha o
propósito de levar a vida com leveza e bom humor, estava me tornando uma pessoa
irritadiça, sectária e preconceituosa.
É
natural que todos podem expressar suas ideias. Afinal, ainda estamos numa dita
democracia. Mas acredito que é uma ofensa para com o outro, para com sua
inteligência, quando alguém transcreve opiniões de terceiros, sem ter critério
e discernimento, opiniões carregadas de falsidade e de calúnia. Para provar que
está certo, ninguém precisa usar vocabulário chulo, que ridiculariza e tenta
diminuir o outro.
O
grupo, que antes era de confraternização, mais parecia um campo de guerra de
surdos, onde os fins justificavam os meios, onde o importante era ofender,
destratar, diminuir, ridicularizar.
Qual
mosquito Namous, estou me despedindo desse dito grupo de confraternização. Vou-me
embora, quando ainda tenho como levar algo de bom. Foi com um sentimento de alívio
que cliquei em “desligar do grupo”, lá no painel de configurações do aparelho
celular. Estou me sentindo como se tivesse tirado um peso das costas. Surpreso,
estou vendo que as imagens de colegas, que estava julgando bem feias, voltam a
ser agradáveis. Minha mente ficou menos poluída, sinto que estou enxergando
melhor.
O
tempo estava seco, a terra sofria. Veio uma chuva, trazendo uma aragem
agradável. Parece que árvores e plantas respiram mais felizes. A natureza se
renova. A vida segue em frente.
Etelvaldo Vieira de Melo
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