A cada semana, o cinema nos atrai e lá vamos direto para o Belas Artes.
Nesta, assistimos ao filme O Professor
Substituto (L’Heure de la Sortie),
2011, baseado no livro francês homônimo, de Christophe Dufossé. A direção coube
a Sébastien Marnier, sendo estrelado por Laurent Lafitte (Pierre), Luana
Bajrami (Apolline), Emmanuelle Bercot, Pascal Greggory, Grégory Montel etc.
Inicia-se o indicado ao Óscar com o suicídio seco de um professor,
acometendo-se da janela lateral da Faculdade Saint Joseph, sob o olhar sem
pânico, apenas surpreso, de doze alunos brilhantes, mas estranhos no
comportamento. Vem substituí-lo Pierre Hoffman, meia idade. Conforme Festim
Diabólico (Hitchcock), o grupo local de seis jovens institui uma espécie de
seita privilegiada, excluindo os demais colegas, receptivos à dominação e muito
couro. Emancipado, orgulhoso, treina formas de morrer, chegando ao ápice de
experiências fatais entre si. Na sala de aula, ouvindo o sinal da diretoria,
todos os pupilos desligam os celulares, preparando-se para ataques terroristas.
Aquele suicida, possivelmente, não suportara ver o universo sob a ótica
dos doze discípulos pessimistas, porém apavorados. Entretanto, a especialização
de Pierre (escrevendo tese a respeito d’ O
Processo de Kafka, rodeado e comido por baratas metamórficas resistentes à
hecatombe); essa especialização o teria capacitado à contemplação neutra da
condição humana diante do caos. O fato derradeiro de Pierre segurar fortemente
a mão da desafiadora líder Apolline significa aceitar o pacto de união grupal contra
o Apocalipse premente.
Passado num ambiente de colégio limpo, todavia esdrúxulo, temeroso, o
longa-metragem foi antevisto no livro de Freud, O Mal Estar da Civilização. Tentando auxiliar os jovens, Hoffman recebe diversas
provocações por parte deles acerca da metodologia, competência, posição como
substituto e, eventualmente, homossexual.
Por semelhante lado, posto entre o real e o espelho (vide o diálogo no
banheiro), Marnier enfatiza, através de close e travellings, o caráter dual da presente
conversa e a dubiedade do enredo. O segundo mestre, sempre de roupas pretas, salvando
meia-dúzia de elementos da autodestruição, talvez esteja vivenciando uma
obsessão por salvar a si próprio dela. Observamos que a cor escura na
indumentária lhe revela o deslocamento marginal. Tal nota surge também na maior
parte da película com a trilha sonora da dupla francesa Popmusic Zombie Zombie, com o exótico coral cantando
Free Money (música sobre dólares roubados, contrária a qualquer ensinamento), com
os funcionários, lentes e diretores bizarros, com o clima ensolarado e depois
sombrio ao longo da fita. Somemos a isso, a relação intertextual com o estado
de tensão existente dentro e fora da França, submetida a constantes atentados
terroristas.
Poderíamos dizer mais, contudo, saímos do Belas intranquila e certa de
não bastar esperanças e boas intenções na lida com a geração millennial.
Precisamos sair da atual zona de conforto, buscando, leitor e eu, compreender-nos,
antes de compreendê-los.
Graça Rios
3 comentários:
Muito bom, parabéns!
Como sempre,Graça Rios é brilhante em sua crítica.Dá gosto lê-la e apreciá-la.Parabéns!!
Brilhante, como sempre, Graça Rios!
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