Fiim home macho de Zé Bento surge
gente no Sítio: 1882.
Mãe Olímpia, inda curtindo traças
do resguardo:
- Nastácia nagô, caixilha a
mascra branca no Loló.
- Uai, saá sinhá, condé qui saai
a vaachina covid-zê?
- Pixaim, lugar de gaforinha
sem língua é na senzala.
Moleque Renato Saci caxanga
com os escravos de Jó.
- Muntêro, limpa os Naarizinho.
Caarona de corona, é micê?
- Zumbi, furta pra mima a bengala
do falecido pai.
- Qui pôco, nhô ingaata um
JBLM nos castão de praata dela.
- Eu mando aqui, Pica-Pau. Preta
forra que me mimoseia:
Ferve humo, fumo, sabugo de
milho. Fungo ‘Lá’ será vírus?
- Buneca de paano, arrispeita
a preta véia qui infeitô seus zói.
- Samba no pé! Anda! Chama logo
o lume vago do Visconde.
- Ai, ai, Yaansã. Liberta nóis
caativo de quá angu de caaroço!
- Catei no mato jiló mais
javali. Bentim, viu a escrava do sinhô?
- Quentando fogo no rabo do
tição. Fuga das galinhas das galés.
- Ali aqui nela, comamos sussa
sopa de java com coca-cola.
- Madrugada, tia Nastácia
vira navia negreira. Deix’ ela em paz.
- Ô, beiçuda, porca morta!
Ruma pra horta e cata coentro salsa cebola couve nabo quiabo,
- Pessoal. Deixarei uma obra sobre o brutal
costume de tratar pretos no século XIX.
SEGUNDO MOVIMENTO
LIBERTE O AUTOR
Iniciamos
este texto certamente sob ameaças.
Muitos gritarão entre jardins: ‘Prendam a louca racista. Segue Lobato
sem se importar com o Index Prohibitorum,
lei que proíbe livros preconceituosos.
Igual a outras vendidas virgens marias escravas, denigre, a ver navios - negreiros
- a límpida castíssima imagem do
tipo lista negra. Pacto vergonhoso, lista branca contra os pobres! Segregacionista, xenofóbica, essa morena criatura vai e vem de acordo com grandes vantagens. Isso aí é
persona non grata nazista, judiando de todos os africanos,
almas brancas repletas de claras intenções. Ovelha negra, a tal pálida donzela lista em magia
negra suja sua escritura tipo mercado negro mais inveja branca.
- Oh,
raça pura! Nunca jamais admirastes
algum supimpa negro de traços finos quais
os vossos, virginais canduras? Vigiai, poetas de performance e estilo cristalinos! Ouvi: Colorés não são tuas nêga. Também rateiam
origem mulata, cabelo ruim, crespo,
bombril. Comparai favelas com criados-mudos? Nívea mulher intolerante:
Quando trabalhava forçada nas minas
de ouro ou prata, raramente negra bonita alcançava metas previstas
pelo Mister Sir dominador. Recebia, por
munição, metade da comida em objetos
de madeira. Vede! Sois hoje, senhora do Engenho,
empregadinha meia tigela das
Editoras.
Orgulhoso,
negro sujo, metido a branco,
torna-se faxineiro, pedreiro, gari, principalmente se a coisa tá preta pro lado dele. Compusestes na Casa Grande o Samba do Crioulo
Doido? Nascestes cabrocha? Tendes
um pé na cozinha? Preferis luto a vestes de noiva? Fazeis sempre
serviço de preto? Vossa estampa
étnica se mostra exótica ou de dar com o pau, ao jogares no preto véio, um tacho de angu? Nós, alvas testas, reneguemos palavra que não lavra
nem lava face bege, giz cor da pele.
Sois preta, também, pois no Brasil
somos símiles descendentes de angolano e
índio. É dia de branco. Saravá! Mulher gorda deve se dar ao respeito. Saí à
caça hoje à noite. Depois, dai urgente resposta ao macumbeiro de galinha preta, madame-21.
-
Perdoai-me, irmãos. Termino este diálogo, bramando opostamente à maior
crueldade nacional. Crime pra cadeia, foi arranjarmos
o eufemismo
Negro
ao invés de
PRETO
para quem vem ou veio de terras além-mar.
Por que não inventarmos
Lírio
ao invés de
Branco
para os caras-de-chupa-ovo?
Graça Rios
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