O
astro famoso do cinema tem uma vida muito mais intensa que a minha, mas, porque
sua vida não é a minha, quero acreditar que sua vida não é tão intensa quanto é
a minha vida.
O
astro famoso do cinema quase todo dia é manchete de jornais e revistas, quase
sempre está viajando pelo mundo (imagina que ele já conhece meio mundo),
enquanto a quase totalidade do mundo o conhece por meio de seus filmes famosos.
Quanto a mim, poucas pessoas me conhecem no lugar onde moro e eu conheço
pouquíssimos lugares além daquele lugar onde moro.
Minha
visão vai até onde meu olhar alcança e ele pouco mais alcança além das casas de
meu lugar. É por isso também que minha vida é mais intensa que a vida do astro
famoso do cinema, porque quanto mais uma pessoa vê, menos ela enxerga; quanto
mais uma pessoa vê, mais ela fica distraída e se esquece de que a beleza das
coisas está nos olhos de quem vê.
A
vida do astro famoso do cinema é completa, tão completa que lhe falta tempo
para viver os momentos com intensidade. Sua vida flui superficialmente, tomada
por múltiplas tarefas e solicitações. Ao contrário, minha pequena vida, talvez
por ser pequena, pode ser vivida com intensidade em todos os detalhes, por
pequeninos que sejam.
Sendo
minha vida pequena e minha visão indo só até um pouco mais além das casas de
meu vilarejo, sinto-me mais livre que o astro famoso do cinema, que, com sua
vida tão intensa, mal consegue dar conta de seus atos. Ele se vê da altura em
que é visto, sem se dar conta de que todo mundo é da altura que seus olhos
podem ver. E é também por isso que considero minha vida mais intensa, porque me
sinto essa pessoa livre e essa liberdade me torna um ser leve feito um pássaro
a voar.
Acontece muito justamente de quem viveu
muito ter vivido pouco. O astro famoso do cinema talvez pense que a vida para
valer a pena ter que ser longa, de longos caminhos percorridos. Minha vida
pequena me ensina que a vida não precisa necessariamente ser longa, o que ela
não pode é ser estreita. Muitas e muitas vezes eu ouço passar o vento; e só de
ouvir o vento passar, sinto que valeu a pena ter nascido.
Enfim, os olhos do astro famoso do cinema
estão voltados para as coisas do mundo, julgando que a felicidade está ali. Mas
a felicidade está fora da felicidade. Por isso que meus olhos acolhem minha
pequena aldeia, suas casas, ruas, pessoas e, assim, me acolhem, tornando minha
pequena vida intensa, mais intensa que a intensa vida do astro famoso do
cinema.
3 comentários:
Este texto é maravilhoso. Pensando com meus botões, caro Etevaldo, você está a caminho do Prêmio Camões de Literatura. Prefiro esse ao Nobel. Esse acolhe o tamanho que temos. É mais próximo. Meu abraço.
Mauro Passos
Caro Etevaldo! Queria que este texto fosse meu! Kkkk aquele casa no meio do mato ou um palácio? Huumm! A vida mais simples e respirando e sentindo o universo ou a preocupação de ser o centro do universo? E preocupado em ser astro e não sair da mídia? Aqui, eu chupo jaboticaba no é e as pitangas colorem meu quintal: os dois: no seu sentido restrito e o quintal de minha alma. Seu texto nós traz também está reflexão. Etevaldo, vc escreve e faz a gente sentir o gosto da interiorização. Cara, vc é ótimo. Heleno
Lindo texto pai! Parabéns!
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