ORFEU DEPOIS DO CARNAVAL

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Imagem: "Orfeu e Eurídice" (Rubens)
A história de Orfeu e de Eurídice é um dos mais belos relatos da mitologia grega.
Ele nos mostra, num primeiro momento, como o Amor é uma força poderosa, capaz de unir e abrandar, não somente as pessoas, mas até mesmo animais ferozes, plantas e rochedos.
Orfeu, filho de Apolo e da musa Calíope, recebe de seu pai, como presente, uma lira e aprende a tocar com tal perfeição que nada podia resistir ao encanto de sua música. Não somente os mortais, seus semelhantes, mas os animais abrandavam-se aos seus acordes e reuniam-se em torno dele, em transe, perdendo sua ferocidade. As próprias árvores eram sensíveis ao encanto, e até os rochedos. As árvores ajuntavam-se ao redor de Orfeu e as rochas perdiam algo de sua dureza, amaciadas pelas notas de sua lira.
Apesar de seu poder extraordinário, ele, o Amor, é confrontado com a Inveja, a Ambição, o Sofrimento e a Morte. Consegue superar tudo, porque é um deus todo-poderoso.
Orfeu casa com Eurídice. Esta, pouco depois do casamento, quando passeia com as ninfas, suas companheiras, é vista pelo pastor Aristeu que, fascinado pela sua beleza, tenta conquistá-la. Ela foge e, na fuga, pisa em uma cobra, é mordida no pé e morre.
Orfeu canta sua dor para todos quanto respiram na atmosfera superior, deuses e homens, e, nada conseguindo, vai procurar a esposa na região dos mortos. Apresenta-se diante do trono de Plutão e Prosérpina e, acompanhado pela lira, canta:
- Ó divindades do mundo inferior... Não venho para espionar os segredos do Tártaro, nem para experimentar minha força contra o cão de três cabeças que guarda a entrada. Venho à procura de minha esposa, a cuja mocidade o dente de uma venenosa víbora pôs um fim prematuro. O Amor aqui me trouxe, o Amor, um deus todo-poderoso. Imploro-vos: uni de novo os fios da vida de Eurídice.
Orfeu tem permissão de levar Eurídice consigo, com a condição de que não se voltaria para olhar para sua amada, enquanto não tivessem chegado à atmosfera superior. Num momento de distração, para certificar-se de que Eurídice o está seguindo, Orfeu olha para trás. Eurídice é arrebatada, morre pela segunda vez.  
No final do relato, temos Orfeu cantando seus lamentos e se entregando à dor da lembrança de sua amada. Quando é visto pelas moças da Trácia, essas tentam seduzi-lo, mas ele as repeliu.
Elas o perseguiram enquanto puderam, mas, vendo-o insensível, certo dia, excitada pelos ritos de Baco, uma delas exclamou: “Ali está aquele que nos despreza!”. E lançou-lhe seu dardo. A arma, mal chegou ao alcance do som da lira de Orfeu, caiu inerme aos seus pés. O mesmo aconteceu com as pedras que lhe foram atiradas. As mulheres, porém, com sua gritaria, abafaram o som da música, e Orfeu foi então atingido e, dentro em pouco, os projéteis estavam manchados de seu sangue.
O Amor, simbolizado por Orfeu e sua música, está presente no mundo de hoje, sim. Se prestar atenção, vai ver que Ele se faz presente nas famílias, nos grupos de amigos, nas palavras e nos gestos de solidariedade. Se prestar atenção, vai ver que Ele está ali nas redes sociais, espaços modernos de interação, de conversa e de busca de informações.
Sem precisar prestar atenção, vai ver que em todos esses lugares existe também a manifestação de algo, que não é belo, que não aproxima as pessoas, que não é de luz e que não dá colorido à vida. Trata-se de algo sombrio, que cria animosidade, preconceito, rivalidade, intolerância, ódio e morte.
Esse algo sombrio é o Egoísmo, cruel, exacerbado.  Ele está aí, sobretudo nas Redes Sociais (Facebook, WhatsApp, Instagran, YouTube, Twitter...), atirando pedras e mais pedras, gritando, esbravejando. E porque fala alto e grita, esbraveja, atira pedras, não demora, estará chegando o momento em que, com tantos gritos e pedras, vai esse outro, finalmente, abafar, sufocar, matar o Amor.
Então, estará instalada a barbárie. Viveremos o caos, sem Afeto, Ternura, Amor e sem Paz. Viveremos o Inferno.
Inventadas, talvez, para aproximar as pessoas, estreitando laços de ternura e afeto, as redes sociais acabaram por disseminar a intolerância e o ódio, espalhando mentiras, criando inimizades.
Etelvaldo Vieira de Melo

1 comentários:

Fátima Fonseca disse...

Etelvaldo, uma aula. Parabéns!

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