TEM CENOURA?

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Imagem: asmetro.org.br
Que, em pleno 23019, o Brasil parece andar para trás, isso parece. Se você é o tipo de pessoa que precisa ver para crer, mas que anda com a vista meio turva, tomada de astigmatismo, daltonismo, hipermetropia, miopia, estrabismo e presbiopia, vivendo num mundo de fantasia, sem enxergar um palmo à frente do nariz, preste atenção no relato abaixo e veja se aprende alguma coisa.
Não sei o que anda acontecendo com a indústria farmacêutica, não sei se o programa “Farmácia Popular” está falindo, não sei se os empresários do ramo querem aumento de preços, o que sei é que você não está mais encontrando medicamentos básicos, de uso contínuo. Parodiando um texto humorístico, vamos imaginar uma situação surreal. Ei-la:
O idoso entra na farmácia e pede um Diltiazem 60.
- Não vendemos Diltiazem 60 – responde o farmacêutico. – Procure o quitandeiro mais adiante.
No dia seguinte, o idoso volta, pedindo:
- Tem Diltiazem 60?
- Isso é uma farmácia – diz o farmacêutico, irritado. – Vá à mercearia.
No outro dia, o idoso volta:
- Tem Diltiazem 60? – pergunta.
- Já disse que não! – berra o farmacêutico. Não vendemos Diltiazem 60! Se me perguntar de novo, vou pegar uma corda, amarrar você e entregá-lo ao açougueiro aqui ao lado!
No dia seguinte, o idoso volta, olha bem no olho do farmacêutico e pergunta:
- Tem cordas?
- Não! – diz o farmacêutico, intrigado.
- Bem, então – diz o idoso – tem Diltiazem 60?
Nota: para restaurar o humorístico, substitua “idoso” por “coelho”, “farmácia” por “lavanderia a seco”, “Diltiazem 60” por “cenoura” e “farmacêutico” por “dono”.
O texto, no seu formato original, foi apresentado por Jules Higman, Inglaterra, na revista “Rir é o Melhor Remédio”, Seleções Reader’s Digest. A adaptação remete a uma situação absurda, uma farmácia que não vende medicamentos. No entanto, a realidade está assim mesmo, como veremos.
O idoso rodou por várias drogarias em busca de seu medicamento para pressão, Diltiazem 60mg, e do colírio para glaucoma, Timolol 0,5%. Em todas elas, a resposta era a mesma: - Esses medicamentos estão em falta. Desiludido e preocupado, voltou para casa com o “rabo entre as pernas”. Pelas ruas, nos passeios e sob marquises, foi encontrando mendigos, todos pedindo alguma ajuda.
Durante o trajeto de ônibus, foi pensando uma estratégia para driblar a falta dos medicamentos que tinha que tomar diariamente. Em primeiro lugar, anotou que precisava se afastar das redes sociais, certamente umas das principais responsáveis por ser ele um hipertenso. (Antes, porém, achou que devia dar uma “twittada” pro presidente, reclamar da falta de medicamentos em nossa pátria amada. Iria fazer isso sem muita esperança de ser bem sucedido, pois sabia que o presidente andava preocupado mesmo era em conseguir emprego de embaixador nos Estados Unidos para o filho 03, aquele que sabe fritar hambúrguer.) Em segundo lugar, achou por bem que deveria procurar o Centro Espírita do bairro onde mora, pedir a um médium para incorporar o Dr. Fritz ou algum outro médico desencarnado. O que o idoso pretende é fazer uma consulta, com direito a medicamentos espirituais.
A propósito desse tema, estou sabendo que o presidente está pensando em reconvidar os cubanos para o programa “Mais Médicos”. Acho que ele deve repensar bem sobre isso, consultando seu guru astrólogo, pois a pátria amada não pode correr o risco de ser conspurcada por vermelhos comunistas. Uma solução mais simples, inspirada na história do idoso em busca de seu Diltiazem 60: Por que não aproveitar os Centros Espíritas para implementar as consultas, as cirurgias e as medicações espirituais? Com isso, estaríamos abolindo os postos do SUS e as Farmácias Populares, uma economia substancial que poderia ser revertida para os rombos dos privilégios  (quem? quem?) mantidos na reforma da Previdência. Os espíritas também irão gostar da ideia, pois estarão praticando a caridade.
Quem não irá gostar certamente será o segmento evangélico. Diante das caras torcidas dos bispos, pastores e irmãos, o senhor presidente poderá dar mais uma twittada, lembrando aos seus diletos apoiadores a passagem evangélica, onde Jesus diz que veio para curar os doentes, e não os sãos: “os sãos não necessitam de médico, mas, sim, os que estão doentes”. Ao recorrer aos espíritas, ele estará tão somente atendendo a tal preceito bíblico.
Com base na notícia: “Ministério da Saúde suspende contratos para fabricar 19 remédios de distribuição gratuita”. (UOL Notícias, 16/07/2019)
Etelvaldo Vieira de Melo 

1 comentários:

Fátima Fonseca disse...

Parabéns Etelvaldo!
Porque escrever é preciso para não implodir.

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