ENTÃO, É NATAL


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Imagem: luasingular.blogspot.com
Vai Anatalino Reguete passar o Natal no sítio de uma das irmãs de sua esposa, Dozolina Tazinasso. Já é uma tradição, antes bancada pelos mais velhos e agora assumida pelas filhas e noras.
O entusiasmo com o evento é quase generalizado, especialmente por parte de casais que têm crianças novas em casa. Os preparativos começam com dois meses de antecedência, em grupo de rede social, onde tudo é planejado de maneira meticulosa.
 Dozolina não é fã de Natal: sua experiência está carregada de fatos traumáticos, muitos deles proporcionados pelo irmão mais velho. Na noite de Natal, ela e suas irmãs tinham o costume de colocar calçados nas janelas dos quartos. No dia seguinte, bem cedo, iam verificar os “presentes”. Ingenuamente, Dozolina abria uma caixa e lá de dentro saltava um sapo; um embrulho pesado era um tijolo; outro embrulho de presente, amarrado com fita, escondia um cocô de vaca. O irmão ria às “bandeiras despregadas”, enquanto a futura esposa de Anatalino, ainda menina, ia ficando cada vez mais traumatizada. Hoje, ela sonha com o dia em que não haverá mais celebração desse tipo de Natal.
Da parte de Anatalino, o sentimento é menos radical: olha com simpatia tudo o que acontece, mesmo porque na sua casa não havia Natal assim. Seus pais eram muito pobres, o máximo de presente possível era uma sacolinha de papel com algumas balas, castanhas e nozes. No dia seguinte, ele e seus irmãos tinham que tolerar as crianças vizinhas, que iam cedo para a rua exibir bicicletas, velocípedes, carros, bonecas, casinhas de brinquedo. Já naquele tempo, onde o capitalismo não era tão selvagem, exibir era melhor do que ter.
Na noite deste Natal, alguns parentes pedem para Anatalino colocar a fantasia de Papai Noel. Ele recusa delicadamente, mesmo porque se considera um péssimo ator, não estando à altura das expectativas das crianças.
Quando alguém resolve assumir o papel, a atenção de todos é desviada para um ponto em frente à casa. Com lanternas, o escuro é vasculhado. Alguém pergunta: “- Será que Papai Noel está aqui?”. Enquanto isso, “Papai Noel” ajunta os presentes no fundo do quintal (da casa, para bem dizer, não da banda de pagode). Quando tudo fica pronto, as crianças são encaminhadas para o local, a tempo de ver o “Papai Noel” saindo correndo.
Muitos meninos demonstram admiração e espanto, enquanto outros mostram ar de ceticismo.
Olhando tudo aquilo, Anatalino pensa:
- Não entendo por que as crianças vão abandonando a lenda de Papai Noel. Acho isso uma bobagem sem tamanho. Se esse bom velhinho tivesse feito parte de minha infância e sido meu amigo, iria querer que me visitasse todos os anos até o fim de meus dias.
PS1: Em tempo: o irmão mais velho de Dozolina não participou dessa celebração. Se ali estivesse, Anatalino jura que seria capaz de lhe preparar um embrulho de presente, onde estariam cocô de vaca, cavalo, lagartixa e galinha, com direito a cobertura de bostinha de cabrito. Assim, ele iria ver o que “é bom pra tosse”, com a amada Dozolina encontrando um antídoto para seu trauma infantil.
PS2: Este texto está aqui mais como um pretexto, pretexto para lhe desejar, amável Leiturino, um Feliz Natal. Que ele, Natal, possa renovar em seu coração um mundo de esperanças: de saúde, amor, paz e muitas alegrias, agora nas celebrações e no ano novo que se aproxima.

Etelvaldo Vieira de Melo

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2 comentários:

Anônimo disse...

É uma pena que Dozolina e as irmãs tenham passado por isso. Tivemos experiências tristes no Natal. Falavam que se colocássemos uma meia na janela e fôssemos boazinhas, teria o presente que queríamos dentro da meia; tive o desgosto de descobrir naquele dia que Papai Noel não existia. Em contar que no primeiro momento pensei que eu tinha sido ma5 em algum momento. Não sabia que o Papai Noel era na verdade ass condições financeiras de cada pai ou mãe. Foi triste, mas superei.
Amei o texto.

Márcia Costa

Fátima Fonseca disse...

Ah, gostei dos nomes dos personagens.
Obrigada Etevaldo!
Q 2019 os leiturinos sejam presenteados c muitas crônicas. Abraço.

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